Ouvido pela PF, porteiro do caso Marielle muda depoimento

Ele já tinha prestado dois depoimentos à polícia do Rio em que citou Bolsonaro

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  • Da Redação

Publicado em 20 de novembro de 2019 às 16:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Estadão Conteúdo

O porteiro do condomínio Vivendas da Barra mudou seu depoimento ao ser ouvido na terça-feira (19) pela Polícia Federal. A informação é do colunista de O Globo Lauro Jardim.

Nos dias 7 e 8 de outubro, ouvido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, o porteiro do condomínio em que morava o presidente Jair Bolsonaro, disse que autorizou um dos acusados pela morte de Marielle Franco a entrar depois de autorização por interfone do "seu Jair".

Ontem, ele não confirmou o que disse duas vezes à polícia do Rio. Afirmou que anotou errado na planilha do condomínio o número da casa para a qual Élcio Queiroz, um dos acusados pela morte de Marielle, iria. Ao invés de casa 66, anotou casa 58. Ele diz que quando foi questionado sobre o erro, inventou que falou com "seu Jair" para acobertar a falha. Ele afirma que não pressionado por ninguém, apenas por "si mesmo".

Como já se sabe, Bolsonaro estava em Brasília no dia do crime, em 14 de março do ano passado. Ele participou de sessão na Câmara e aparece em filmagem lá.

Segundo o colunista, a PF não sabe se o porteiro se cofundiu nos depoimentos anteriores ou se sofreu algum tipo de pressão para incluir o presidente da República na sua versão.

Investigação O porteiro foi ouvido no inquérito aberto por ordem do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) para apurar "tentativa de envolvimento indevido" do nome de Bolsonaro nas investigações sobre o assassinato da vereadora. A investigação teve início após reportagem da TV Globo mostrar que um homem chamado Elcio (que seria Elcio Queiroz, um dos acusados pela execução de Marielle) deu entrada no condomínio Vivendas da Barra em 14 de março de 2018 dirigindo um Renault Logan prata. Ele teria informado ao porteiro que iria visitar a casa 58, de Bolsonaro. O porteiro afirmou ter confirmado a entrada com o "seu Jair". O presidente, à época deputado federal, estava em Brasília conforme registros da Câmara dos Deputados. Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, foram mortos há 616 dias - março de 2018 - em circunstâncias até hoje não esclarecidas. A repercussão do caso levou Moro a solicitar, via Procuradoria-Geral da República, a abertura de um inquérito na Polícia Federal para apurar o depoimento do porteiro. Segundo o ministro, há "inconsistências" no depoimento do funcionário, o que poderia classificar o ato como "crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou denunciação caluniosa" Aras aceitou o pedido de Moro e enviou o ofício ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, que solicitou a abertura das investigações no dia 06. No mesmo dia, a Polícia Federal abriu o inquérito.Perícia questionada No dia seguinte à citação do nome de Bolsonaro no caso, o Ministério Público do Rio de Janeiro solicitou perícia nos áudios, feita em menos de duas horas e meia. Foi a partir desta análise que promotoras do caso sustentaram a tese de que o porteiro mentiu em depoimento, o que motivou a abertura do inquérito contra o funcionário do Vivendas. O Ministério Público afirma que os áudios não foram editados, nem adulterados, mas perícia é questionada por especialistas. Segundo eles, não houve tempo suficiente para uma análise aprofundada das provas e ressaltam que, como os computadores do condomínio não foram avaliados, não é possível saber se algum áudio foi suprimido ou renomeado de forma a enganar os investigadores. O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, exibiu nas redes sociais gravações alegadamente obtidas com o síndico do Vivendas da Barra. O próprio presidente chegou a declarar que havia pego os áudios antes que fossem "adulterados" A declaração provocou questionamentos sobre suposta obstrução de justiça.Federalização Em setembro, a então a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu que o caso fosse conduzido em âmbito federal, o que será analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) até o fim deste ano. Foi um dos últimos atos de Raquel no cargo. A defesa de Lessa e Queiroz, inclusive, utilizam a manifestação de Raquel para pedir a suspensão do processo, alegando falhas na investigação e obstrução por parte da Polícia Civil. A federalização do caso, no entanto, enfrenta resistências do Ministério Público do Rio, que comanda as investigações. Se aprovada, o caso deixará as mãos da promotoria estadual. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ex-ministro da Defesa e Segurança Pública na gestão Michel Temer, Raul Jungmann, classificou como "injustificável" a ação do Ministério Público do Rio em barrar a federalização. O Ministério Público repudiou as declarações do ex-ministro e afirmou que o acionou formalmente para dar explicações à Justiça