Pai planejava abrir prostíbulo com dinheiro arrecadado para tratamento do filho

Preso em Salvador, ele já havia investido R$ 50 mil em casa noturna da cidade

Publicado em 30 de julho de 2019 às 14:20

- Atualizado há um ano

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Foto: Reprodução Acusado de desviar cerca de R$ 600 mil arrecadados em uma campanha para ajudar no tratamento do próprio filho, que sofre de uma doença rara, Mateus Henrique Leroy Alves, 37 anos, pretendia usar o montante usurpado para manter uma vida de luxo, e mais: estava prestes a abrir um prostíbulo em Salvador com o dinheiro obtido de forma ilegal.

O CORREIO entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil de Minas Gerais, que estava à frente das investigações, e descobriu que a ideia de Mateus Henrique era usar o dinheiro para montar um esquema de gerenciamento de garotas de programa. O acusado foi preso em Salvador no último dia 22.

Com colaboração da Polícia Civil da Bahia, os policiais mineiros vieram à capital baiana para buscar o acusado e transferi-lo para Minas Gerais, onde a família mora e onde ele permanece à disposição da justiça.

Doença rara O pequeno João Miguel, de 1 ano e 7 meses, luta contra a Atrofia Muscular Espinhal (AME). Para ajudar a custear o tratamento, foi criada uma campanha na internet para ajudar os familiares a comprar a medicação, cuja dose chega a custar R$ 360 mil. Em um ano e meio, mais de R$ 1 milhão foi levantado.

As investigações apontam que Mateus vinha usando parte dos valores doados à criança para bancar uma vida de luxo que envolvia, além de perfumes caros e roupas de grife, farras com bebidas e drogas.

Porém, Mateus acabou denunciado pela esposa, Karine Rodrigues, após ela suspeitar de suas atitudes, pedindo bloqueio judicial das contas junto à Vara da Infância e Juventude de Minas. Segundo a polícia, o suspeito, que vivia em Conselheiro Lafaiete (MG), foi preso em um quarto na capital baiana, mas o tipo de imóvel e o endereço onde ocorreu a prisão não foi divulgado. “Ele fala que gastou cerca de R$ 600 mil. Ele efetivamente gastou, sendo que R$ 300 mil foram com farra com mulheres, com bebidas e com drogas. No momento da prisão, inclusive, ele estava com porções de maconha. E [com] o restante do dinheiro, ele alega que estava sendo extorquido”, contou o delegado Daniel Gomes.Prostíbulo Ao CORREIO, a assessoria da Polícia Civil de Minas Gerais também explicou que o acusado já tinha investido cerca de R$ 50 mil numa casa de prostituição em Salvador e tinha a intenção de abrir um novo local. Além disso, Mateus levaria, aproximadamente, quatro garotas de programa de Belo Horizonte para trabalhar em Salvador. Perfil usado pela família para arrecadar dinheiro para tratamento de João Miguel (Foto: Reprodução) A Polícia teve acesso às conversas entre Mateus e uma mulher, cuja identidade não foi divulgada, negociando sobre como seria o funcionamento da casa de prostituição em Salvador."O desejo demonstrado por ele é de que essa interlocutora trabalhasse como gerente do local e que Mateus é quem tomaria conta dos programas realizados por cada uma das garotas. Também fica claro que Mateus tinha a intenção de levar, pelo menos, quatro garotas de Belo Horizonte para trabalharem em Salvador, como garotas de programa", explica o delegado.Na vida de luxo e ostentação em Salvador, segundo a polícia, o suspeito aparecia em vários vídeos em hotéis de soteropolitanos, ostentando um padrão de vida incompatível com seus ganhos mensais, chegando a dizer em um deles que: "existe vida mais barata, mas eu não vou querer não". Isso tudo dentro de uma piscina, em um prédio de frente para o mar, em Salvador.

Ainda de acordo com as investigações, o acusado chegou a gastar R$ 7 mil em uma suíte luxuosa de um motel.

Confira parte do diálogo obtido e divulgado pela investigação:Mulher: “e cê confia, Mateus?” Mateus: “de olho fechado.” Mulher: “tá bom, então.” Mateus: “são meninas que já trabalhou na minha casa lá de [Conselheiro] Lafaiete, de Belo Horizonte.”Defesa Ao portal G1, o advogado Túlio César de Melo Silva afirma que Mateus é vítima de extorsão. “A história que ele me contou parece que é a mesma que ele já contou para o delegado, que ele foi, na verdade, extorquido, né? [Isso aconteceu] quando ele foi para Belo Horizonte fazer um curso de segurança. Um curso interessante, porque parece que foi a própria irmã que pagou. Ele foi fazer o curso e conheceu uma pessoa que o levou até uma boca de fumo. Nessa boca, ele comprou droga (…) e pensou em fazer uma sociedade com um traficante. Esse traficante, então, talvez não sei se já sabia ou investigou um pouco sobre o Mateus, descobriu sobre a campanha, dos valores da campanha e, em cima disso, começou a extorquir [dinheiro] do Mateus”. 

Crimes investigados Mateus vai responder por estelionato, tendo ele ludibriado as pessoas a doarem dinheiro para a campanha do filho e usá-lo para outro fim, com pena de um a cinco anos e multa. Também por abandono material, abandono da família e dois filhos menores, sem condições de prover seu devido sustento, com pena de um a quatro anos.

A Polícia Civil mineira investiga também o crime de lavagem de dinheiro. Ele está em apuração em um novo inquérito policial, diante da complexidade exigida para a sua comprovação, que passa pela análise de todas as transações bancárias realizadas nas contas da campanha, destinação do dinheiro, onde o mesmo foi empregado e de que forma o dinheiro estava sendo reinserido no mercado, com o intuito de aparentar ter sido obtido por meios lícitos. A pena para este crime varia de três a dez anos.