Pandemia desarticula as redes de proteção das mulheres contra a violência doméstica

Pesquisadores apontam prejuízos da covid às medidas protetivas

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  • Andreia Santana

Publicado em 5 de junho de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O caso da moradora de Andradina (SP), que ligou para o serviço 190 de emergência da Polícia Militar, no final de maio, para pedir pizza, como código para acionar o socorro por estar sofrendo agressões do marido, ganhou as redes sociais, com direito a memes e charges da situação. O que o caso revela, no entanto, é que com a pandemia, a já delicada trama da rede de proteção formada para salvaguardar as mulheres da violência doméstica está rasgada, com rombos que os especialistas não sabem quanto tempo vão demorar para ser remendados.

Na quarta, 02, como repercussão do caso da vítima de Andradina, que felizmente foi atendida no seu apelo porque o policial de plantão entendeu o código, pesquisadoras da Universidade Federal do ABC (UFABC) e integrantes da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas falaram sobre a subnotificação dos casos de violência doméstica e de feminicídios nos 14 meses de crise sanitária no Brasil.

Carolina Gabas, professora da UFABC, uma das pesquisadoras envolvidas na análise do agravamento da violência doméstica com a pandemia, diz que a rede para atender as necessidades das vítimas de violência doméstica e de seus filhos foi desarticulada ou passou a funcionar precariamente. Muitas das ações descontinuadas poderiam, inclusive, interromper o ciclo da violência de forma mais imediata. Plantonista entendeu código e polícia foi ao endereço da vítima (Foto: PM-SP/Divulgação) Ela ressaltou, porém, que as medidas protetivas, embora fundamentais, não garantem sozinhas às mulheres a assistência integral. “A mulher tem que ter os cuidados de saúde para a sua integridade física, às vezes precisa ver a situação das crianças, às vezes precisa do acolhimento sigiloso, às vezes precisa monitorar, por exemplo, uma medida que retire do agressor algum tipo de arma”, exemplifica.

Aumento do desemprego com a crise econômica, o maior peso para as mulheres na divisão sexual do trabalho e a dificuldade de acesso a outras vivências por conta do confinamento são alguns dos motivos que impactaram a dinâmica de vida das mulheres na pandemia e acabaram por afastá-las das suas redes de proteção.

Historicamente, muitas mulheres costumavam buscar as casas de amigos íntimos e familiares, as delegacias e, em último caso, batiam à porta de vizinhos para se abrigar nos momentos em que as agressões viravam risco de morte iminente. Era desses portos seguros que algumas se equilibravam para pedir as medidas de proteção. Com as restrições da covid, além das instâncias oficiais, elas perderam também o acolhimento emergencial.

As notícias que marcaram a semana:

Rapaz não lida bem com rejeição e moça morre

A estudante Vitórya Melissa Mota, 22, foi morta a facadas na praça de alimentação de um shopping em Niterói (RJ), na quarta, 02, pelo colega de curso Matheus dos Santos da Silva, 21. O motivo para o crime, segundo a polícia, é que o rapaz teria um interesse amoroso na garota e, rejeitado, resolveu matá-la. 

O agressor está preso e a polícia investiga o caso. Na quinta, 03, ele permaneceu em silêncio durante depoimento. Sua mãe se disse envergonhada do crime e alegou que o filho nunca apresentou indício de doença mental ou comportamento agressivo.

Ainda segundo a Polícia Civil de Niterói, Vitórya, que aniversariou dois dias antes de morrer, estudava na mesma sala de aula de Matheus em um curso técnico de enfermagem. Após o ataque no shopping - à vista de dezenas de pessoas – policiais prenderam o agressor em flagrante, com uma faca que ele havia comprado minutos antes do crime.

Vitórya chegou a ser socorrida para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Foi mais uma jovem com futuro roubado porque os homens ainda não entenderam que nenhuma mulher é obrigada a gostar ou querer se relacionar com eles. Bombeiros retiraram quatro pessoas com vida dos escombros (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil) Rio de Janeiro: queda de prédio mata  dois e fere quatro

A queda de um prédio de 4 andares em Rio das Pedras, zona oeste do Rio, na quinta-feira, 03, matou duas pessoas, o pai e uma filha de apenas 3 anos. Outras quatro pessoas foram resgatadas com vida pelo Corpo de Bombeiros. (Foto: Pixabay) Menos casamentos

A pandemia afetou os casamentos no estado de São Paulo. Segundo divulgou a Fundação Sistema Estadual de Análise de dados (Seade), na terça-feira, 01, em 2020 ocorreram 27% menos enlaces do que em 2019. Os dados, coletados em cartórios de Registro Civil do estado, mostram que foram celebrados 196.508 casamentos em 2020. Abril, maio e junho foram os meses com menor número de gente disposta a unir as escovas de dentes. A idade média para casar no estado, em 2020, foi 35 anos. (Foto: AFP/Arquivo) Crianças vulneráveis

Quase 61 mil pessoas com idades até 19 anos se infectaram com o coronavírus na Bahia em 2021, um aumento significativo em relação às 56 mil na mesma faixa etária que contraíram o vírus nos 12 meses do ano passado. Somente em maio deste ano, foram 13.728 infectados, o recorde de 2021. A suspeita dos especialistas é que com a volta às aulas, mais crianças e adolescentes passaram a ser testados. Nas escolas de Salvador, até 30 de maio, foram notificados 121 casos de covid-19. (Foto: Agência Petrobras) Imunidade permanente

Pessoas que tiveram covid-19 leve desenvolvem célula imunológica capaz de produzir anticorpos permanentes, diz estudo publicado quarta-feira, 02, na revista Nature. Os pacientes observados desenvolveram resposta imunológica completa, que inclui a criação de glóbulos brancos capazes de eliminar o vírus muitos meses e até anos após a primeira infecção. Vários estudos têm indicado que infectados com a forma leve e vacinados geram essa resposta. Mirtes Renata estuda direito (Foto: Day Santos/JC imagem) Um ano sem Miguel"São 365 dias lutando por justiça pela morte do meu filho. Se não fosse uma criança negra, não seria assim. Faço faculdade de direito, estudo para ajudar outras mães, Mirtes RenataMãe de Miguel, 5 anos, morto ao cair do 9º andar do prédio onde ela trabalhava em Recife, na quarta, 02, ao dar entrevista sobre sua luta por justiça para o filho um ano após a morte do menino. O caso aconteceu em 02 de maio de 2020.