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Horacio Hastenreiter Filho
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 04:57
- Atualizado há um ano
A pandemia do COVID 19 vem alterando a vida das pessoas em todo o mundo sob os mais diferentes aspectos. O distanciamento social, os eventos esportivos sem público, os hábitos de consumo mais frugais fazem parte dessa nova e difícil realidade. Em relação à economia, além do grande abalo provocado pelo fechamento de diversos estabelecimentos, sobretudo no setor de serviços e comércio, a transformação mais evidente, observada nesses últimos meses, é a onipresença do digital. O comércio eletrônico em todo o mundo vem crescendo substancialmente. O mês de maio de 2020 registrou aumento de 81% em relação ao mesmo período do ano passado e pesquisas indicam que as compras via web permanecerão em patamar significativamente mais elevado que os observados antes da pandemia, mesmo com o retorno à normalidade (seja lá o que isso passou a significar).
Nessa situação, as empresas que não ofereciam seus produtos e serviços eletronicamente vêm tendo que se reinventar. Com dificuldade de responder tempestivamente à nova demanda competitiva, plataformas tecnológicas compartilhadas que funcionam como intermediárias entre o ofertante do bem ou serviço e os consumidores acabaram se apresentando como a alternativa mais viável para a falta de soluções tecnológicas próprias. Não importa se a mediação seja reconhecida como marketplace de serviços, plataforma de intermediação ou outro nome qualquer, a realidade é que os percentuais abocanhados pelos provedores da solução digital representam, frequentemente, 50% ou mais da lucratividade associada ao bem ou serviço oferecido. As taxas de comissão média dos marketplaces de serviços são de 20% e plataformas como o ifood retêm até 27% do valor pago pelo consumidor que as utilizam para demandar suas refeições.
Além do percentual de receita transferido para os intermediários digitais, a nova realidade de consumo, a partir da web, afeta uma das poucas vantagens competitivas que restavam aos pequenos negócios: a proximidade geográfica, geralmente traduzida em relações mais estreitas com os seus clientes. A perda dessa condição privilegiada, associada à sua condição estrutural de menor escalabilidade e poder de mercado, de acesso mais restrito a soluções inovadoras e de maiores riscos tornam a competição com as grandes organizações cada vez mais desigual e difícil.
Se a informatização das pequenas empresas e a criação de plataformas administradas e compartilhadas entre empresas de um mesmo segmento pode ajudar a recuperar parte da receita drenada pelos intermediários digitais, não é menos urgente o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação para promover a aproximação entre si, facilitando a adoção de outras práticas coletivas como a compra conjunta, o compartilhamento de recursos e de estruturas produtivas, as ações de marketing coletivo, dentre tantas outras que podem diminuir o gap competitivo em relação às grandes organizações.
Se antes a cooperação interorganizacional entre as pequenas empresas era dificultada pela competição natural entre aqueles que dividem o mesmo mercado, agora é hora de considerarem esse mercado a partir da perspectiva de perda da sua representatividade agregada. Peixes menores sabem porque vivem em cardume.
Horacio Nelson Hastenreiter Filho é engenheiro e professor associado da Escola de Administração da Ufba.