Panorama, coisa de mulher

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 4 de outubro de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

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Nesta edição, 37% dos filmes são dirigidos por mulheres ou têm mulheres entre os diretores. Ainda é pouco e a gente quer mesmo essa equidade aí. Mas o Panorama Internacional Coisa de Cinema, criado e idealizado por Cláudio Marques, tá ligado e chega à sua décima quinta edição cheio de mulheres em lugares importantes. Inclusive, na coordenação - em Salvador e Cachoeira - onde o festival também acontece, simultaneamente, do próximo dia 30 até seis de novembro. Marília e Camila são olhos atentos e braços fortes. Além disso, sabem que, também no cinema, não estamos no mesmo lugar, mas ainda temos um grande caminho a percorrer. Marília Hughes, coordenadora de produção do Panorama Internacional Coisa de Cinema, curadora do festival e cineasta com filmes premiados no Festival de Brasília e em festivais internacionais

QuantA - Como percebe a participação de diretoras no evento? O número se mantém? Cresce? Diminui? Marília - Os curadores dos festivais estão mais atentos a quem faz os filmes, algo politicamente importante e necessário num contexto desigual como o nosso. No caso do Panorama posso afirmar que há um número crescente de filmes realizados por diretoras na nossa programação. Isso é resultado de uma busca por equidade que começa no processo curatorial. A equipe de curadores do Panorama possui paridade em termos de gênero.

Q - Você percebe, na narrativa cinematográfica, algum impacto do feminismo como colocado, no Brasil, nos últimos anos? M - Eu tenho notado um grande número de filmes com histórias protagonizadas por mulheres. Em alguns casos, os filmes tratam de maneira direta os desafios, preconceito e discriminação em função não apenas de gênero, mas também de sexualidade, raça e classe. Além disso, tenho notado a construção de personagens fortes. Mulheres donas de suas próprias vidas e escolhas, dispostas a viver, trabalhar, amar e recomeçar, se for necessário. E eu gosto muito disso. A simples existência dessas narrativas no cinema é uma grande contribuição para uma sociedade mais justa e igualitária.

Q - O festival tem algum olhar/lugar específico para o cinema produzido por mulheres? M - O nosso olhar é no sentido de estar atento a essa produção. Além de incluir queremos dar destaque aos filmes dirigidos por mulheres na nossa programação.  Um festival de cinema é um espaço de conhecimento, de troca, mas também de visibilidade. Ao lançar luz sobre esses filmes queremos dizer, e eu me incluo nisso: Estamos aqui! Existimos! Somos protagonistas do fazer cinematográfico.

Q - O cinema é uma arte, ainda, muito masculina? Esse cenário tem mudado? M - Sim, existem mudanças. E o primeiro passo é falar abertamente sobre essa disparidade. Quero destacar a pesquisa em profundidade feita pela Ancine em 2016. De acordo com essa pesquisa, dos filmes lançados em salas comerciais em 2016, mulheres brancas assinam apenas 19,7% dos filmes, enquanto 2,1% foram dirigidos por homens negros. Nenhum filme em 2016 foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra. Expor publicamente esse cenário desigual é o primeiro passo para propor mudanças. Mas o caminho é longo e exige de todos nós. Ainda estamos longe de uma situação igualitária e o desafio é ainda maior em função do momento ultraconservador e de retrocesso pelo qual passa o país. Camila Gregório, coordenadora do Panorama em Cachoeira, curadora da competitiva de Cachoeira e cineasta. Formada em Cinema e Audiovisual pela UFRB, dirigiu os filmes Fervendo (2017); admin/admin (2017) e Jornada Dupla (em processo de finalização). Os dois primeiros participaram de outras edições do Panorama

QuantA - Há temáticas recorrentes ou, pelo menos, mais comuns em produções femininas, no cinema? Camila - Eu adoro discutir sobre isso e acompanhar pesquisadoras que estudam as recorrentes temáticas femininas/feministas. Eu diria que sim, há muitas temáticas recorrentes no cinema feito por mulheres. Nos últimos anos, vi esse cinema se debruçando sobre a construção de personagens femininas interessantes ou na tentativa de dar destaque a mulheres que não haviam recebido o destaque histórico necessário. É recorrente nos filmes, também, o desejo de evidenciar o machismo diário que muitas vezes "passa batido" pelo senso comum. Há também muitas diretoras que usam o cinema como uma ferramenta de expressão política para fazer filmes que reivindicam pautas políticas femininas. Para exigir leis mais eficientes para lidar com violência contra a mulher e muitos outros temas. Apesar de haver muitos temas em comum é importante pontuar a diversidade de abordagens, pontos de vistas e escolhas de linguagem presentes nesses filmes. 

Q - Você percebe, no mercado cinematográfico, algum impacto do feminismo brasileiro contemporâneo? C - Sim, mas o mercado cinematográfico ainda está longe de oferecer um lugar de igualdade para mulheres ou qualquer outra minoria.  No entanto, os debates e reivindicações das profissionais do audiovisual trouxeram alguns resultados. Percebo desde equipes mais femininas como também tentativas de inclusão feminina no mercado. Em alguns editais para captação de recursos, por exemplo, houve maior atenção para a distribuição financeira para mulheres e a inclusão de mulheres nas equipes propostas para projetos.   

Q - Como você vê a questão da equidade entre gêneros, no fazer cinematográfico? C - O cinema ainda é uma arte majoritariamente masculina, mas o cenário tem mudado em passos pequenos. O caminho ainda é muito longo para alcançar um lugar de equidade

Sobre o Panorama Em Salvador, a sede do festival é o Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, mas alguns filmes também são exibidos na Sala Walter da Silveira. No Espaço Itaú, os ingressos são vendidos a preços populares e, na Walter, o acesso é gratuito. Em Cachoeira, as sessões têm acesso gratuito e acontecem no Cine Theatro Cachoeirano. Nesta edição, serão exibidos cerca de 130 filmes, divididos nas mostras competitivas Nacional, Internacional e Baiana, mostras paralelas e sessões especiais. Todas as sessões de abertura, no dia 30 de outubro, têm acesso gratuito.