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Waldeck Ornelas
Publicado em 14 de outubro de 2020 às 05:23
- Atualizado há um ano
Com o anúncio da decisão governamental de vender o terreno do Parque de Exposições Agropecuárias de Salvador, situado na Av. Luís Viana (Paralela), em frente ao importante Terminal de Integração de Mussurunga (metrô-ônibus) e próximo ao aeroporto internacional, deflagrou-se um debate sobre a importância ou não da Capital conter um parque agropecuário.
O atual Parque de Exposições, com área de 400.000m², foi implantado em 1978, no governo Roberto Santos, para compensar a destinação do antigo Parque Garcia D’Ávila ao Campus da UFBA em Ondina. Aí se realizam importantes eventos de interesse da economia baiana, em especial a FENAGRO, uma das mais destacadas feiras agropecuárias do país.
A grande extensão da área destinada ao Parque já previa futuras expansões. Não se trata, portanto, de falar em ociosidade ou subutilização, mas em planejamento descontinuado. Nem por isto a área deixou de se impor como local para a realização de vários eventos, de natureza diversa, tendo se tornado um endereço de referência em nossa Cidade. Aí já foram realizadas, anualmente, a Feira dos Municípios, o “Arraiá da Capitá” e o Festival de Verão, todos com enorme movimentação de público.
É indiscutível que Salvador precisa de um Parque de Exposições Agropecuárias pela importância desse segmento na economia baiana sendo a Capital, em nosso Estado, o principal ponto de referência para o intercâmbio de experiências e inovações. Apesar da vasta extensão territorial, somos um estado importador de carne, leite e derivados, demandando a pecuária um amplo programa de fomento à sua expansão e qualificação, isto sim indispensável. Para tanto, o Parque de Exposições constitui um importante ponto de apoio.
Mas Salvador é, também, um efervescente centro cultural e festivo, sendo uma cidade vocacionada para a realização de grandes eventos, caracterizados pela elevada participação popular. Reconhecida pela UNESCO como Cidade da Música, título ainda agora renovado, Salvador tem carência explícita de um espaço aberto para a realização de shows musicais. Não por acaso, o próprio parque de exposições, assim como o antigo wet’n wild têm sido improvisados como área para esse tipo de evento, realizados sem a infraestrutura adequada e sem que o Estado e a Cidade se beneficiem do potencial de geração de trabalho e renda e das sinergias com outras atividades.
Visualizando a importância do equipamento e seu espaço, o PDDU de Salvador o tratou como zona de uso especial, permitindo flexibilidade nos parâmetros urbanísticos, a serem aprovados em face de plano diretor específico, haja vista a importância de preservar esse estratégico espaço público na zona Norte da Cidade.
Se o problema do Estado é fazer dinheiro, para isto não precisa se desfazer do Parque de Exposições, nem privar a cidade de um importante espaço público. Ao contrário, a clara demanda por espaço aberto apropriado para a realização de grandes eventos, especialmente musicais, indica a necessidade e oportunidade de criar na cidade um equipamento multifuncional compatível – em dimensão e qualidade – com o porte e a natureza metropolitana de Salvador. O atual Parque de Exposições deve ser esse equipamento, transformado em um ambiente moderno, diferenciado, singular e completo, destinado a múltiplos usos públicos coletivos, dando origem ao Centro Garcia d’Ávila de Exposições, Feiras e Eventos, com implantação pela inciativa privada e remuneração ao Estado.
Pura e simplesmente torrar nos cobres o terreno do parque, ainda mais para financiar a controversa e insustentável ponte Salvador-Itaparica é a pior das soluções, porque em um só ato causa dois grandes danos à Cidade.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.