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Miro Palma
Publicado em 14 de dezembro de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
Quando o assunto é dinheiro e o universo é o do futebol, só nos resta uma pergunta: onde vamos parar? Nos últimos dias, o Palmeiras recebeu uma proposta bilionária de patrocínio feita pela empresa Blackstar International Limited. O clube, que já conta com o farto patrocínio da Crefisa e da Faculdade das Américas (FAM), que garantiu ao alviverde nada menos que R$ 78 milhões este ano, além de mais R$ 10 milhões como prêmio pela conquista do Campeonato Brasileiro, poderá embolsar o montante de R$ 1,4 bilhão (US$ 300 milhões) – sendo US$ 250 milhões à vista, mais US$ 50 milhões em fundo emergencial – em um período de dez anos.
A negociação já levantou a preocupação de alguns torcedores, visto que a empresa, sediada em Hong Kong, não tem sequer um site. Em uma pesquisa em sites de busca na internet, nenhuma menção foi achada sobre a Blackstar. De acordo com a reportagem da ESPN, apenas no site HKG Business, de Hong Kong, foi encontrada uma menção à criação de uma empresa Blackstar International Limited na região, tendo como data de sua constituição 22 de janeiro de 2018.
Deixando de lado a transação obscura, o que mais me preocupa na verdade é como esses valores vão interferir no cenário do futebol brasileiro. Afinal, já vivemos uma grande desigualdade entre os times, o que reflete diretamente na qualidade dos nossos campeonatos. Desde 2002, por exemplo, nenhum time de fora do Sudeste levantou a taça do principal campeonato do país, o Brasileirão. O último foi o Atlético-PR, em 2001. O Palmeiras, que possui uma das maiores receitas do país, além de vencer este ano, levou em 2016. Corinthians, Flamengo e São Paulo, os únicos que recebem mais que o alviverde em cota de televisão – R$ 170 milhões Corinthians e Flamengo, R$ 110 milhões São Paulo e R$ 100 milhões Palmeiras – levaram juntos cinco títulos nos últimos dez anos.
Na Europa, temos dois exemplos bem nítidos de como essa disparidade pode interferir diretamente na qualidade das competições. Na França, o Paris Saint-Germain foi alçado de um time mediano, que tinha levado apenas dois campeonatos franceses, para o maior clube do país. Tudo isso graças ao aporte financeiro do fundo de investimento Oryx Qatar Sports Investments, que adquiriu 70% do clube, pertencente ao emir do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani. A interferência árabe fez com que o time se tornasse tetracampeão da Ligue 1. O PSG é tão maior que seus rivais franceses que o campeonato já não desperta o mesmo interesse que o de países vizinhos, como Espanha e Inglaterra.
Este último é, também, o segundo exemplo que trago por aqui. A Premier League é, atualmente, a melhor competição se comparada à de qualquer outro país. Estão lá os times mais ricos do mundo, muitos com patrocínios estratosféricos como os do emir árabe do PSG e o mal explicado do Palmeiras. No entanto, quando se trata da principal verba de um clube, a receita relativa a contratos de TV, a liga divide o montante igualmente entre os times. Funciona assim: uma cota fixa igualitária é paga a cada um deles, uma outra cota é paga de acordo com a quantidade de jogos transmitidos por equipe e uma terceira cota por pontuação na competição. O equilíbrio permite que os times menores tenham as condições mínimas para serem competitivos, torna a disputa atrativa e, consequentemente, lucrativa.
O problema por aqui, me parece, segue sendo a mente pequena. Os times continuam de olho no próprio umbigo e as disparidades vão crescendo a cada ano. O resultado disso são campeões previsíveis, times fora do eixo econômico matando um leão por dia. E o futebol? Esse, pelo visto, não vai parar em um bom lugar.
Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras