Peitos livre, um tabu

Por Flavia Azevedo

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Publicado em 21 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Nada garante que ele traga qualquer benefício às mulheres. Pelo contrário, aliás. Só uma função é inquestionável: proteger olhos alheios dos “proibidões” mamilos femininos que não devem aparecer sob tecidos transparentes. Assim está combinado, ainda que não dê pra entender o motivo, exatamente. Sutiã é acessório tecnicamente dispensável. Para muitas mulheres, incômodo, inclusive. Mas cobrado pelo status quo, como algo extremamente necessário. Assim, o que devia ser apenas uma escolha banal (tipo não usar um relógio, por exemplo) vira atitude política. Aqui estão três mulheres que se desobrigaram de disfarçar, suspender e apertar as tetas. O que é lindo e traz um forte simbolismo de libertação, mas ainda tem um preço, infelizmente. Juh Almeida (realizadora audiovisual) “Sou filha de uma família de quatro homens onde sou a única mulher e caçula, e sempre questionei o porquê dos meus irmãos poderem ficar sem camisa e eu não, por que eu tinha que tirar os pratos de todo mundo da mesa e eles não, por que eles podiam chegar em casa depois das 22h e eu não. A partir dessas inquietações e questionamentos a respeito do controle sobre os corpos das mulheres, parei de usar sutiã, aos 20 anos. Hoje, com 29, percebo que foi um momento simbólico na minha vida de quebra desse domínio e libertação. Por isso, vivo situações constrangedoras o tempo inteiro, sempre percebo os olhares de estranhamento direcionados pra mim na rua, escuto piadas misóginas e obscenas, a ponto de muitas vezes querer sair com fone de ouvido para não escutá-las”.  Luana Drubi (artista independente e instrutora de flexibilidade)  “Decidi não usar sutiã por volta dos 17 anos, naquele conhecido processo de desencanar um tanto das neuras e das normoses de beleza, das  expectativas e projeções alheias sobre a minha imagem e a das mulheres como um todo. Além de ter sido uma libertação pessoal, no sentido de entender que é uma escolha (e não uma lei) disfarçar a nossa anatomia com MAIS pedaços de pano - que além de tudo podem ser bem incômodos -, também sinto que dessa e de outras formas, trabalhamos juntas, diariamente, na desconstrução de tantos padrões. Eu até acho sutiã bonito, às vezes uso dentro de casa, pra mim mesma, rs. Mas até isso me faz questionar sobre o lugar do sutiã no nosso condicionamento, de ser algo que as mulheres necessitam para serem ou se sentirem femininas, bonitas. Me locomovo de bicicleta, e tenho usado tops (confortáveis) às vezes, para poder tirar a blusa sem que isso signifique um atentado ao pudor. (...) Resumindo, acho confortável não usar sutiã, e acho que é fundamental e justo que haja liberdade indiscriminada de escolher estar e se vestir confortavelmente.” Cris Braun (cantora e compositora)  “Nunca ‘decidi’ não usar sutiã. Aquele troço me incomodava, eu tirava. Começou no colégio, tirando na sala de aula, pela manga, velho e bom truque usado até hoje, quando entro em aviões. Tá chato, eu tiro e já vivi situações estranhas, por isso. Uma vez, saí de casa, no Humaitá (RJ), anos 90, feliz e fofinha sem sutiã, bem camiseta leve. Eis que vem um cara na minha direção, se lambendo, e quase gruda a cara no meio do meu peito entre os seios, falando e babando baixarias. Na época eu andava com anéis nos cinco dedos. Não deu outra. Sentei um murro no meio da testa do cabra. O "homi" enfureceu-se e eu a gritar : "ele vai me bater !! "Logo os rapazes que passavam, me socorreram e carregaram o homem para longe, sei lá onde, com um galo feio na testa. Seja porque ficam caídos (mito!), seja porque ficam ‘erotizados’, o fato é que existe um imenso desconforto geral com a possibilidade dos peitos andarem livres, leves e soltos”.