Petrobras, Mitos e Verdades

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é diretor e professor da Escola de Administração da Ufba

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  • Horacio Hastenreiter Filho

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 03:21

- Atualizado há um ano

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A Petrobras vem permanecendo em grande evidência na mídia e nos debates nacionais, desde que os resultados da Operação Lava Jato começaram a ter ampla divulgação. As informações sobre o esquema de corrupção que sustentou diversas campanhas e partidos políticos, bem como uma parcela de executivos e gestores da estatal, oportunizaram um sem número de boatos, comentários sem respaldos e conclusões precipitadas, as quais têm como objetivo principal tirar proveito das suas vulnerabilidades financeira e de imagem atual, para que seja relegado a segundo plano o protagonismo histórico nacional e mundial da Companhia, sobretudo em atividades de exploração e produção de petróleo. Assim, criaram-se alguns mitos e obscureceram-se algumas informações de grande relevância, para que não se perceba que, junto com a água suja, corre-se o risco de se jogar fora, não um bebê, mas um sexagenário, com plenas condições de recuperar e esbanjar saúde.

Parcimoniosamente e de forma compatível com esse espaço, são privilegiados aqui apenas alguns dos mitos em evidência. Sabidamente, aqueles com poder mais corrosivo aos bons rumos da Companhia.

Mito 1: A situação financeira atual impedirá a Petrobras de tornar realidade a produção no pré-sal.

Verdade 1: A produção do pré-sal atingiu 1,35 milhão de barris por dia em julho deste ano, correspondendo a 50% da produção nacional de petróleo.

Mito 2: A ainda grave situação financeira da Companhia  é explicada, fundamentalmente, pela corrupção, a qual, por sua vez, é determinada  pela sua condição de empresa estatal.

Verdade 2: Apesar de divergentes, as estimativas menos conservadoras sobre o volume de recursos desviados da Petrobras no período de 2004 a 2014 são de R$ 42 bilhões de reais. Apenas as perdas decorrentes do uso da Companhia como instrumento indevido de controle da inflação, com interferência nos preços de venda dos seus produtos, são estimadas em mais de R$ 90 bilhões em igual período.

Mito 3: Devido à situação financeira atual da Petrobras, é importante distribuir imediatamente os direitos de exploração de áreas produtivas, de modo a não permanecermos com um potencial energético que pouco valor terá no futuro, frente às diversas alternativas de energias limpas, as quais serão expressivamente mais relevantes na matriz energética, nos próximos anos.

Verdade 3: Ainda que as energias limpas venham a ter um expressivo crescimento percentual na matriz energética, a expectativa de crescimento de 41% na demanda energética agregada fará com que a demanda de petróleo no país seja maior em duas décadas que a demanda atual. Tudo indica que o barril de petróleo valerá mais em 2037 que em 2017.

Não raro, os mitos não se estabelecem apenas pela falta de informação. Há sempre espertos e desinformados, esperteza e desinformação. Os primeiros, bom uso fazem da última e, frequentemente, dela se beneficiam.