PL, o paranoico, vê roubalheira do Flamengo

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  • Paulo Leandro

Publicado em 24 de fevereiro de 2021 às 10:43

- Atualizado há um ano

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O homem precisa tanto do futilbol para viver a ponto de dedicar-se às resenhas em meio ao sofrimento de uma pandemia, habitando um país onde um vermífugo, receitado por não-médicos, é preferencial à vacina e à ciência.

No entanto, por tornar-se muito menos fútil, o jogo ganhou perfil destrutivo, levando os nostálgicos, como este vovô, a habituar-se a rever, no youtube, Os Gols do Fantástico dos anos 1980, com Leo Batista e Fernando Vanucci.

A utilidade do VAR e os esquemas de combate, parecendo treinamento militar, não se comparam à deliciosa futilidade do banho de cuia, dos nós dos pontas direita e esquerda, sem ideologia, da tabelinha, dos toques sutis por cima e de lado.

Ah, malu-kisses, como são necessárias! O morrinho artilheiro dos campos marcados à cal; a invasão de campo dos torcedores ou a invasão dos alambrados pelos jogadores para aglomeração; a vaia à entrada em campo do time visitante, era gostosa a farra!

Hoje, a laúza tornou-se brinquedo meio previsível, especialmente se um clube querido como o Flamengo desponta campeão e o pessoal habituado a montar aquelas figuras de lego com crianças começa a ver coisas inexistentes, visages e mulas sem cabeça.

No Estado de direito, para acusar, precisamos de provas, pois seríamos levianos: ninguém confessou, não há testemunha de crime e nem mesmo o onipotente, onisciente e onipresente VAR revelou algo além do olhar humano e das orientações da chefia.

Em Teoria do Conhecimento, se não me engano, o professor gente-boa falou da necessidade de verificar se temos motivos suficientes para formar crença em determinada proposição e de suspender os juízos, nos casos de incerteza.

Quando acumulam-se evidências de ter sido o Flamengo beneficiado, a régua de confiabilidade aponta para a roubalheira, mas exceto se alguém da suposta organização criminosa ficar chateado, por não levar sua pontinha, quem iria abrir o jogo?

Resta-nos alegrar com a alegria de professor Florisvaldo, torcedor desde Leônidas da Silva, do pesquisador e colega Jorginho Ramos, menguista de escol, cervejeiro ou não, além do imortal Sergio Costa, diretor da eterna e terna redação do Correio asterisco.

Vamos solidarizar-nos com a desconfiança dos colorados, a lembrar do personagem Ubaldo, o Paranoico, criado por Henfil (veja pelo buscador google quem foi Henfil) durante a penúltima ditadura civil-militar, agora geringonça milico-liberal.

Adepto de uma boa teoria da conspiração, reconheço não ter seguido as recomendações médicas e, ao deixar de tomar os remédios, vejo sombras na noite, vozes e murmúrios dando como certo ter ocorrido um novo esquemão para beneficiar o Flamengo.

Tal como o barbeiro da história do Rei Midas, depois de ganhar as orelhas de burro, por castigo do deus Apolo, abro um buraco no chão e grito para dentro da terra: “ganhou roubado de novo! Ganhou roubado de novo! O Flamengo ganhou roubado! De novo!”.

Após tapar o buraco, Paulo Leandro (PL), o Paranoico, consegue dormir, mas logo virão os ventos a espalhar as folhas colocadas sobre a cova onde os gritos ficariam guardados, e ao libertar-se o eco, todo o povo saberá da calúnia, da infâmia, da blasfêmia:

- O Flamengo ganhou roubado de novo! O Flamengo ganhou roubado! De novo!

Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.