Polícia diz que assassinos de líder do MST chegaram para roubar; ele foi morto com cinco tiros

Ele foi executado na frente do filho de 6 anos

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 25 de janeiro de 2018 às 11:52

- Atualizado há um ano

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Os dois homens que mataram com cinco tiros uma das lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Bahia, Marcio Oliveira Matos, 33, na noite desta quarta-feira (24), em Iramaia, na Chapada Diamantina, foram até a casa da vítima para roubar, afirmou nesta quinta-feira (25) a Polícia Civil.

O delegado que investiga o caso, Fabiano do Santos Aurich, coordenador da 9ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Jequié), disse que os homens chegaram na casa de Matos, localizada num assentamento rural, pedindo dinheiro, mas saíram do local do crime sem levar nada. O assentamento Boa Sorte Una, onde Matos vivia, tem 416 famílias assentadas, possui 17.387 hectares e foi criado em 25 de julho de 2006“Estamos trabalhando com várias linhas de investigação. Ouvimos algumas pessoas que estiveram no local do crime logo depois que a vítima foi morta e já fizemos a perícia no local. Vamos dar continuidade às investigações para prender os responsáveis por este fato”, completou o delegado.No momento em que foi assassinado, Matos estava em casa apenas com o único filho, de 6 anos. O delegado Fabiano Aurich preferiu não comentar sobre os tipos de balas encontradas no local do crime. Matos foi atingido no rosto e no tórax e morreu na hora.

O coordenador do MST na Bahia Evanildo Costa disse ao CORREIO que os homens que mataram o líder sem terra chegaram de moto ao local do crime, mas a polícia disse que não teve informações sobre o meio de transporte dos homicidas. Até o momento, a polícia disse que não teve informações sobre se Matos vinha sofrendo ameaças.

Crime político Coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), braço da Igreja Católica, na região do Centro Norte da Bahia, Cláudio Dourado diz acreditar que o crime tenha relações com o acirramento político-ideológico por conta da condenação nesta quarta-feira (24) do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), a 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, pelo Tribunal Regional da 4º Região, em Porto Alegre (RS).“A não ser por alguns conflitos de água, não estava tendo problemas na região. Creio mais na hipótese de crime por questões políticos e ideológicas, já que Márcio Matos era uma pessoa muito atuante na área, sempre muito combativo”, ele Dourado.Márcio Matos ocupava o cargo de secretário de Administração da Prefeitura de Itaetê, cidade da Chapada governada pelo petista Valdes Brito, e morava no Projeto Assentamento Boa Sorte Una, que existe há mais de dez anos na zona rural de Iramaia.

“Não temos suspeitas sobre a motivação do crime. Pelo que sabemos, ele não vinha recebendo ameaças de ninguém e nem tinha participado de ocupações recentes do MST”, declarou Evanildo Costa.

A superintendência regional do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Bahia divulgou nota em que “lamenta o crime”. “A instituição solidariza-se com a família de Marcio Matos e aguarda o resultado das investigações e a devida responsabilização dos culpados”, diz a nota.

O Incra informou ainda que “oficiou a Ouvidoria Agrária Nacional e a Coordenação do Grupo Especial de Mediação de Acompanhamento de Conflitos Agrários e Urbanos (Gemacau), setor que integra a Secretaria da Segurança Pública (SSP), solicitando informações sobre o crime”.

Liderança Matos era uma das lideranças do MST na Bahia, já tendo sido coordenador estadual do movimento e integrante da executiva nacional. Segundo lideranças do MST, ele vinha trabalhando para ser candidato a deputado estadual nas próximas eleições.

Em 2016, ele chegou a disponibilizar o nome para o PT de Vitória da Conquista, com a intenção de ser candidato a prefeito da cidade, governada pelo pai dele, Jadiel Matos (falecido em 1998), de 1972 a 1976. Matos estava no MST desde a adolescência.

O PT de Vitória da Conquista divulgou nota de pesar em que se solidariza com a família e com os militantes do MST. “Márcio foi um militante da classe trabalhadora, forjado a partir da luta pela terra, atuava como dirigente nacional do MST e militante combativo do PT”, diz o comunicado.

O governador Rui Costa (PT), de quem Márcio era próximo, se manifestou por meio das redes sociais. Ele lamentou o assassinato do líder sem terra, “conhecido pela firme luta em defesa da igualdade social”.

“Tão logo soube da triste notícia, determinei à Secretaria da Segurança Pública a imediata e rigorosa apuração do crime. Meus sentimentos de pesar aos amigos e familiares neste momento de profunda dor”, escreveu o governador.

O CORREIO tentou contato com a Prefeitura de Itaetê, mas ninguém atendeu as chamadas ao telefone. A Prefeitura não se manifestou nas redes sociais sobre o assunto.

O corpo de Márcio Matos será velado na secretaria do MST, no Centro de Vitória da Conquista, a partir das 12h desta quinta. Ainda não há hora marcada para o sepultamento.