Política & Economia: ‘Humanização’ dos bichos criou novo mercado

Mercado pet cresceu 13,5% em 2020, indicam números do setor

Publicado em 20 de agosto de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Divulgação

Nas últimas décadas o mercado pet se profissionalizou e para o CEO do Mundo Pet, Luís André Bastos, este é um caminho sem volta. A “humanização” dos bichinhos de estimação criou demandas que movimentam uma indústria de produtos e serviços que atendem tutores ou pais e animais cada vez mais exigentes em relação à qualidade. “Hoje em dia chamar alguém que gosta do seu pet de dono chega a ser uma ofensa. O comportamento da sociedade em relação aos animais mudou e isso criou novas demandas”, explica. 

Essa paixão foi responsável por um crescimento de 13,5% no mercado pet no ano de 2020, de acordo com dados do Instituto Pet Brasil. Neste mesmo período, a economia brasileira, impactada pelos efeitos negativos da pandemia do coronavírus, amargou uma retração de 4,1%. 

Com cinco unidades instaladas na Bahia – três delas abertas durante a pandemia –, a rede nordestina de petshops planeja a abertura de novos espaços na região, mas também o início de operações em estados das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste nos próximos seis meses. Em entrevista ontem ao jornalista Donaldson Gomes, apresentador do programa Política & Economia, Luís André contou que trabalhar com os bichinhos sempre foi um sonho para ele. “Minha mãe brinca dizendo que eu gosto tanto de cachorros que deveria latir, não falar”, ri. 

Mas a paixão de infância acabou se tornando assunto sério, conta. Aos 23 anos, resolveu empreender na área que mais ama. Era uma lojinha de 48 metros quadrados (m²), “bem diferente das que temos hoje”, lembra. Como comparação a unidade do Rio Vermelho tem 1,7 mil m². “O mercado hoje ainda é muito amador, mas lá atrás era muito pior, artesanal mesmo. Tinha pouquíssimas operações na região Nordeste”. Isso permitiu o início sem a necessidade de tanto capital. 

“O pet não era tão ‘humanizado’ como ele é hoje. Ainda vivia no quintal, era muito visto como uma saída para a segurança. Ele ainda não estava na cama das famílias. Hoje eles não só entraram dentro de casa como tomaram conta das nossas camas dos seus tutores”, lembra. “Essa foi a evolução deste mercado”. 

Para Luís André, a humanização foi o principal fator de mudança e motivadora da construção de um mercado pet.“Se uma pessoa vai morar só, coloca um pet para não ficar sozinha. Quando casa é para protelar um pouco os filhos. Se tem um filho, usa para fazer companhia à criança. O pet está ocupando lugares que eram ocupados por alguém”, acredita. Vem dessa humanização a presença de óculos, chinelos, sandálias e todo o tipo de adornos que pessoas usam passaram a ser pensados também para os companheiros animais. E isso tornou o mercado muito mais exigente, acredita. Segundo ele, uma condição para atender bem às exigências é a compreensão de que é necessário atender bem pessoas que cuidam dos pets como seus próprios filhos. “Quem não está disposto a entregar isso, realmente está perdendo tempo”, avisa. 

Crescimento na pandemia A pandemia  do coronavírus foi um dos fatores que explicam o crescimento robusto de 13,5% no mercado pet em 2020. Luís André lembra que os petshops foram considerados essenciais, mas além disso as exigências de distanciamento levaram muita gente a buscar companhias animais. “Esses números são atípicos, de um ano atípico. Mas com certeza o nosso segmento foi beneficiado pelas circunstâncias”, acredita. “Houve uma vantagem porque as empresas deste segmento puderam se manter abertas. Com isso, os empregos puderam ser preservados. Pelo menos no que diz respeito ao Mundo Pet, preservamos os empregos em todas as nossas lojas, inclusive nas que estão presentes dentro de shoppings”, conta. “Houve sofrimento, mas pudemos preservar os empregos e ainda mantivemos os planos de expansão, mesmo correndo todos os riscos”, lembra. Salvador, por exemplo, foi o destino de três lojas novas da rede no período: Pituba, Graça e no Salvador Shopping. “Nós apostamos na resiliência do mercado e isso se mostrou uma decisão extremamente acertada”, ressalta. O investimento permitiu a geração de 80 novos postos de trabalho. Em cada unidade nova, o investimento varia entre R$ 2 milhões e R$ 2,8 milhões.

Nos próximos meses, a rede tem planos de inaugurações em Belém (PA), na segunda semana de outubro. Tem outra loja na cidade em construção. Depois disso, ainda tem a previsão de uma unidade em Natal (RN), uma terceira loja em Fortaleza (CE), Goiânia (GO) receberá a primeira unidade no Centro-Oeste, em seguida Brasília (DF), até março de 2022, quando será inaugurada a primeira loja no Sudeste, em Belo Horizonte (MG). 

Questionado pela audiência sobre a perspectiva da abertura de unidades em bairros periféricos, Luís André explicou que estuda a criação de um formato que permita a difusão da marca para um número maior de lugares. 

Como as pessoas ficaram muito mais em casa, houve uma procura que Luís avalia ter sido “exacerbada” a pets como companhia. “A adoção e a própria aquisição foi algo que cresceu muito em 2020, a ponto de representar um risco profundo, que é quando a aquisição é feita sem levar em conta a posse responsável”, avalia. “Um animal não se adota só porque está em casa e se sentindo solitário. Na hora em que você coloca um pet dentro de casa, está assumindo uma responsabilidade de, no mínimo, 15 anos, em se tratando de um cão”, lembra. Ele diz que esta questão é uma preocupação do Mundo Pet. Segundo ele, a grande preocupação com esse elevado número de aquisições sem o devido planejamento é que isso desencadeie em um grande número de abandonos posteriormente. Para tentar ajudar a solucionar o problema, ele conta que o Mundo Pet assumiu um compromisso de receber de volta qualquer animal adquirido, por adoção ou compra, na Mundo Pet, durante toda a sua vida. “Se a pessoa que adotou tiver algum problema, não tiver com quem deixar o animal, ela não precisa abandonar. Pode vir, comprovar que foi adquirido conosco e nós iremos encaminhar para uma nova adoção”, explica.