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Eduardo Athayde
Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 22:19
- Atualizado há um ano
Quando o martelo foi batido na Bolsa de Valores de São Paulo, concedendo a um grupo chinês o contrato de construção da ponte Salvador-Itaparica, um novo vínculo transcontinental sino-baiano foi selado. Guardadas as épocas, fato parecido aconteceu há 500 anos quando os portugueses enviaram Thomé de Souza para bater martelos e construir aqui uma obra grandiosa, fincando sua cultura, sua língua, seus conhecimentos e sua arte na cidade de São Salvador.
Perguntado se gostaria de ver uma ponte cortando a Baía de Todos os Santos (BTS), a resposta é não! Contudo, fatos e dados falam alto obrigando-nos a reconhecer que, depois do martelo batido a Bahia não será a mesma.
Como Gaspar de Lemos e Américo Vespúcio que descobriram a baia em 1501, os sábios chineses, com experiências acumuladas de 5000 anos de comercio e cultura sofisticada, já descobriram que a baía da Bahia é o maior e melhor porto natural do país, localizado no centro da costa da maior “potência eco-nômica” da América Latina, onde tiveram a sorte de vencer um mini leilão (para padrões chineses) de apenas US$1,5 bilhão de dólares. Mais um negócio da China, com riscos assumidos pelo estado, do jeito que o empresário gosta.
A pequena ponte Salvador-Itaparica de 12,5 km, que será construída sobre a BTS – Capital da Amazônia Azul – implica, na verdade, na construção de uma megaponte de 16.134 km (distância entre Salvador e Pequim) que começa a ser erguida. Com as empresas chinesas, virão a Universidade da China e a Caitec [Chinese Academy of International Trade and Economic Cooperation - en.caitec.org.cn], que já firmou convênio com o Instituto de Planejamento Econômico Aplicado – IPEA, para transferir conhecimentos e tecnologias, implementando logísticas, prazos, comandos e entregas que moverão uma força de seis bilhões de reais, de amplo espectro, numa área carente de investimentos e empregos.
O consorcio vencedor, denominado CCCC South America, é formado por três empresas: China Railway 20 Bureau Group Corporation – CR20 [cr20g.com], fundada em 1948, com 18.574 empregados, que constrói ferrovias, rodovias, pontes, túneis, estações de metrô, rodovias e também opera desenvolvimento imobiliário, comércio de logística. A China Communications Construction Company Limited – CCCCLTD [en.ccccltd.cn], fundada em 2005, que é uma das “Top 500” empresas do mundo, opera negócios de construção de infraestrutura, engenharia ferroviária, engenharia metalúrgica, engenharia de túneis, engenharia de energia, engenharia hidráulica e engenharia municipal. A CCCC South America Regional Company S.Á.R.L, fundada em 2016 e registrada em Luxemburgo, que é controlada pela CCCC Investment Co Ltd [en.ccccltd.cn], investe em transporte, engenharia municipal, proteção ambiental e construção de condomínios.
Interessados na energia renovável que abunda na BTS, os chineses sabem que a nova ponte pode ser uma tri-usina, solar, eólica e maremotriz, com placas fotovoltaicas, turbinas eólicas e subaquáticas, gerando rendas adicionais para abastecer o projeto financeiro do negócio.
A estatal CC0, uma das maiores empresas do mundo, tem em seu portfólio de 700 projetos em mais de 100 países fora da China com valor superior a US$ 100 bilhões. Gestores da CC0 Investment, que também operam logística e incorporação imobiliária, já estão visitando e cadastrando os 1.233 km2 da Baía de Todos os Santos, seus terrenos costeiros, vias de acesso, ilhas e portos.
Neste novo mundo da Internet das Coisas (IoT) e do blockchain, todo esse pacote abre uma espécie de “porta HDMI” que ligará da BTS à Praça da Paz Celestial, em Pequim, venerada pelos chineses como coração do país. Contrato firmado, terão o direito de bater martelos, pinos e chips digitais, revelando a sua nova posição central à Zona Econômica Exclusiva da Amazônia Azul brasileira, com 5.7 milhões de Km2, agora distante a um clique virtual de Pequim. Uma nova conquista na Rota da China.
A Iniciativa do Cinturão e Rota da China é um plano ambicioso anunciado pelo presidente Xi Jinping, em 2013, para construir cerca de US$1 trilhão em infraestrutura, aumentando laços comerciais e econômicos e promover os interesses da China em todo o mundo.
Com cerca de 140 milhões de chineses viajando ao exterior anualmente, em 2030 serão mais de 300 milhões circulando o globo todos os anos – quantos poderão vir para a Capital da Amazônia Azul?
A ponte da Baía de Todos os Santos – que poderá ser batizada de Amazônia Azul – em justa homenagem ao trabalho da Marinha do Brasil, além de suscitar debates e investimentos na rica economia do mar, inova como um monumento inusitado no berço da civilização brasileira. Ganha a incansável indústria do turismo da Bahia.
* Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil. [email protected]