Por onde anda? Ex-goleiro Luís Antônio relembra hepta pelo Bahia

Ele esteve presente em seis das sete conquistas consecutivas do tricolor

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 1 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr./ CORREIO

Luís Antônio Vieira não é um daqueles quatro jogadores que participaram de toda a campanha do Bahia no heptacampeonato baiano - nessa lista, só aparecem Douglas, Fito, Baiaco e Sapatão. Mas foi por pouco: o ex-goleiro chegou ao time em 1974, um ano depois da incrível sequência começar, transferido do Fluminense de Feira. Integrou o Esquadrão nos seis títulos conquistados em seguida. 

Após se aposentar dos gramados, ele conseguiu sua sétima taça em 1991, dessa vez, campeão baiano como treinador tricolor. No ano seguinte, o paulista de Santo André partiu para trabalhar nos Estados Unidos. Acabou estabelecendo residência por lá e não voltou mais a morar na capital baiana. Mas a cidade nunca saiu do coração. 

“Eu não gosto de São Paulo, não gosto dos Estados Unidos, a minha paixão é Salvador. Eu amo Salvador. Estou esses anos todos lá por causa da família, a coisa mais importante do mundo. Eu vou morrer por lá mesmo, infelizmente (risos). Fui muito feliz aqui, todos os títulos que disputei pelo Bahia, como treinador e jogador, fui campeão”, enaltece o ex-jogador, atualmente com 69 anos.

Daquela década de ouro, o Luís Antônio só tem lembranças com muito carinho: “A gente jogava por amor, queria ganhar todos os campeonatos”. E ganharam muitos. Sempre sob a benção do Senhor do Bonfim.“Alemão [massagista do Bahia na época] já ficava no vestiário, depois do jogo, esperando a gente com um calção e com um tênis. Botávamos a roupa e corríamos até a Igreja do Bonfim. Estávamos cansados, mas percorríamos aqueles 10km até a igreja. Fizemos isso em todos os títulos que ganhávamos, tanto que as pessoas que moravam na Cidade Baixa já sabiam do costume e ficavam na calçada esperando a gente passar. Também sabiam que jogador de futebol sempre gosta de tomar uma cervejinha depois do jogo (risos) e já ficavam com as latinhas de cerveja gelada, jogando para a gente”, recorda.No Bahia, como goleiro, ficou até 1981. No mesmo ano, transferiu-se para o Olympiacos, da Grécia. Não deu muito certo, como o próprio Luís Antônio diz, e voltou ao estado. Teve uma proposta do Esquadrão, mas optou por diversificar o currículo. Passou por alguns clubes até encerrar a carreira como jogador pelo Leônico. Pela mesma equipe, virou treinador em 1989, graças a um convite de João Olímpio Guimarães Filho, presidente do clube na época.

Evaristo de Macedo, então técnico e campeão brasileiro pelo Esquadrão em fevereiro daquele ano, quis Luís Antônio na sua comissão técnica para 1990. Convite aceito. “Era para ser auxiliar dele. Mas, na realidade, ele não voltou ao Bahia [foi para o Fluminense]. Trabalhei com [José Luiz] Carbone, depois Candinho até que, em 1991, assumi o time e ganhei o título estadual”. 

Em 1992, porém, após comandar o grupo por seis partidas no Campeonato Brasileiro, Luís Antônio foi substituído. “Acharam que eu era um treinador muito jovem. Naquela época, o técnico tinha que ter 80 anos, eu tinha 42”. Em pé: Luís Antônio,Toninho, Sapatão, Zé Augusto, Baiaco e Romero.Agachados: Botelho, Douglas, Caio, Peres e Gilson Nos EUA A saída do Bahia foi em maio de 1992. Na primeira semana de junho, o ex-goleiro já estava de malas prontas, rumo aos Estados Unidos. Mais um convite especial chegava para mudar sua carreira.

“Eu fui fazer um trabalho para a Copa do Mundo de 1994, que foi sediada lá. Foi um chamado da Fifa, que estava querendo divulgar o futebol entre os jovens americanos. O feminino, desde essa época, já era forte. Mas, para os homens, os esportes principais são o beisebol, o futebol americano, o basquete... Estavam construindo centros de treinamento, um em Miami, um em Los Angeles e um em Nova York, e eu fiquei no primeiro. Quando acabou a Copa do Mundo, vencida pelo Brasil, falei que ia voltar para Salvador, para continuar minha carreira”, lembra.

O plano, porém, esbarrou em uma grande barreira: a família. Glicia, a esposa, se negou a retornar. Queria ficar em solo americano com os filhos do casal – Igor, que na época tinha 12 anos, e Janaína, então com 10. “Ela falou que estavam todos adaptados por lá. Me disse para voltar ao Brasil que, nas férias, eles me visitariam, e que eu iria fazer o mesmo nas minhas. Mas não quis e preferi ficar lá com eles”, explica.

Em 1995, então, Luís Antônio virou empresário: abriu a Brazilian Soccer Training Center, uma academia de futebol para jovens em Miami. “Eu nunca pensei em trabalhar com garotos, com crianças, adolescentes, essas coisas. Mas eu tinha que ficar próximo dos meus filhos, que eram pequenos”, justifica.

A cidade americana é conhecida pela forte comunidade latina, e a escolinha dele representava este cenário. “Tínhamos alunos brasileiros, argentinos, colombianos, peruanos, mexicanos... E era mais fácil trabalhar, pois já tinham um pouco mais de habilidade. A gente ia aprimorando a técnica, posicionamento em campo. Já trabalhar com americanos... eles são muito duros (risos)”, compara.

Depois de 20 anos no comando da academia, Luís Antônio vendeu a empresa em 2012 para um dos sócios, João Moraes. Mas não deixou o futebol de lado – só preferiu se tornar espectador. Sua competição favorita é a Copa do Mundo, aquela mesma que o levou aos Estados Unidos. Esteve presente nas edições de 2010, na África do Sul; 2014, no Brasil; e 2018, na Rússia. “Agora, estou me preparando para ir para o Catar, em 2022”.

À espera do convite Mesmo morando em Miami, Luís Antônio faz questão de visitar sempre Salvador. Vem duas a três vezes no ano e fica entre 10 e 15 dias passeando pela cidade. Nesta mais recente, porém, resolveu estender a estadia: chegou em outubro de 2019 e só voltará aos Estados Unidos esse mês.

Os quatro meses por aqui são por um motivo especial. O ex-goleiro veio em uma temporada tão grande na promessa de uma festa, comandada pelo Bahia, em homenagem ao heptacampeonato. Só que, até agora, nada do evento.

“Não tem data para comemoração, nada. Já entrei em contato com a diretoria dizendo que estou retornando aos Estados Unidos no dia 14 de janeiro”, reclama.

Segundo ele, o clube quer casar a festa pelos sete títulos com as inaugurações da Cidade Tricolor e do Museu do Bahia. “Em janeiro, já não são 40 anos do hepta; vão ser 41. Nós não temos nada a ver com esse pacote que ele [Guilherme Bellintani, presidente do Bahia] vai fazer. O que nós queremos é reunir nosso clube dos anos 1970 e fazer um almoço, um jantar. A gente não quer uma festança, trio elétrico na rua, Carnaval. A gente quer encontrar os amigos, voltar ao passado, contar histórias, ficar um gozando com a cara do outro... Pode até ser um lanche em uma barraca de praia. Mas que tenha todo mundo”, argumenta Luís Antônio.

Ele, inclusive, conta que foi o mentor do plano. “Tive essa ideia em fevereiro. Aí liguei para o pessoal aqui [Douglas e Fito], para a gente fazer a comemoração dos 40 anos. Eles gostaram. Mas vamos procurar quem? Vamos procurar o Bahia. Aí eles começaram a amadurecer a ideia e falaram com o presidente, que disse que também estava pensando em fazer uma comemoração. Isso foi em junho, julho. Aí foi passando o tempo, li no CORREIO dizendo que a diretoria do Bahia ia comemorar o hepta. Vim para cá e até agora não saiu nada”, relata.

De acordo com Luís Antônio, um grupo de WhatsApp foi criado com os jogadores que participaram de pelo menos um dos sete títulos. Todos espalhados por vários cantos do Brasil e esperando o encontro ser oficialmente marcado. 

O CORREIO entrou em contato com o Bahia, que não respondeu sobre a declaração do ex-jogador. Segundo a reportagem apurou, o clube ofereceu aos ex-atletas um jantar, que não aconteceu no ano passado porque não contemplaria todos os que participaram de pelo menos um dos sete títulos -condição da qual os campeões não abrem mão.“Os que estão vivos integram o grupo. Muitos já morreram. Minha preocupação é essa. Tem grandes jogadores do hepta que morreram. Para mim, o maior zagueiro da história do futebol baiano, Roberto Rebouças, morreu [em 1994]. Um dos melhores laterais que o Bahia teve, Perivaldo, morreu recentemente [2017]. Ubaldo, Tirson, Marquinhos... A ideia é reunir o pessoal enquanto estão vivos. São ídolos de uma geração de 1970, 1980”.Se o encontro oficial não sair, Luís Antônio já tem um plano B: diz que fará ele mesmo, em sua próxima passagem pelo Brasil. Em abril, completará 70 anos e pretende chamar seus antigos colegas de Esquadrão. “Será a comemoração dos 41 anos do hepta”.

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