Por que as escolas permanecem abertas na Bahia?

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 13 de março de 2020 às 16:49

- Atualizado há um ano

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Não, eu não sou da área de saúde. Também não ando surtada de pânico e pra dizer a verdade só passei a dar atenção a esse vírus quando, de fato, ele chegou por aqui. Continuo achando que tem exagero nas narrativas e que se o mundo for acabar, ainda não é desta vez. No entanto, eu gosto de pensar. Também de pesquisar e de consultar especialistas, antes de formar e emitir opiniões sobre temas que não são os "meus". Especialistas de diversas posições, óbvio, porque os olhares são múltiplos a respeito de qualquer questão. Exatamente por essa multiplicidade de olhares (e outras mumunhas mais), é bom ficar ligado/a que os "posicionamentos oficiais" nem sempre vão pelo melhor caminho. É exatamente o que penso sobre as escolas permanecerem abertas, na Bahia, "enquanto a epidemia não vem".

Temos poucos casos confirmados e divulgados, sim. Até hoje (13/03), pelo menos. E a opinião mais consensual é a de que, apesar de a letalidade do Coronavírus não ser assustadora para a maior parte da população, a contaminação de muita gente, ao mesmo tempo, pode vir a ser. No mínimo, temos mais chances de dar conta do inevitavelmente grande número de pessoas que precisarão de atendimento médico, se elas não chegarem todas de vez. Nisso, todo mundo concorda. É facinho de entender. 

Raciocínio derivado: quem pode mudar a rotina, deve tentar pegar o vírus apenas na "segunda leva", digamos, considerando que quase todo mundo vai pegar, em algum momento. Seja pensando no individual ou coletivo, quem pode ficar em casa, fica a partir de AGORA, de hoje, deste momento, quando os números oficiais de infectados ainda não entraram naquele crescimento veloz, como aconteceu em todos os lugares do mundo em que o vírus chegou. 

Por isso, pessoas sensatas estão tomando atitudes, de Norte a Sul da Bahia. Em vez de surtar de pânico e comprar todo o papel higiênico dos mercados (ainda não entendi isso daê), cancelam eventos, ensaios, reuniões e afins. Ou substituem, o que for possível, por encontros virtuais. Empresas estão tentando se organizar em escalas para deixar funcionários/as em home office, por exemplo. Massa, também. Tudo isso deriva de uma recomendação básica: evite aglomerações. Atitude tão necessária, neste momento, quanto lavar as mãos e usar álcool gel, mesmo não saindo de casa.

Só que as escolas continuam abertas com milhares de crianças amontoadas, compartilhando bebedouros e banheiros, se abraçando e dividindo lanches, como se não houvesse amanhã. Principalmente no ensino fundamental, por mais esforços que sejam feitos, é humanamente impossível manter, com rigor, entre crianças, o comportamento preventivo que já está sendo aplicado, por exemplo, na Escola Bahiana de Medicina e na UFBA, como já foi divulgado na imprensa. Não se cumprimenta pessoas, com toques. Alguns refeitórios foram fechados. Se qualquer um/a acordar "gripado", não deve sair de casa. Faltas não serão computadas, não precisa de atestado, basta avisar. Estamos falando de profissionais de saúde, pessoas adultas, cuidando de si. Acha mesmo que crianças de quatro, cinco, seis, sete, oito anos, por mais assistidos que estejam, conseguiriam reproduzir?

Não consigo entender, de fato, o que as escolas ainda fazem abertas. Numa lógica preventiva, tirar de circulação os pequenos deveria, ao meu ver, ser atitude imediata. Primeiro porque nenhum serviço básico deixa de ser oferecido, se crianças permanecem em casa. Segundo porque encontros diários de uma população naturalmente incapaz de cumprir os protocolos básicos deste momento, obviamente colaboram para a disseminação. Todos sabemos que escolas e creches são berçários de vírus e bactérias, o Coronavírus não tem como ser exceção.

Os argumentos para manterem escolas abertas podem convencer a qualquer um, mas a mim não. Vamos aos três principais que vejo gente defendendo e não é possível que não reflitam, antes de emitir opinião:

As crianças quase não adoecem - em várias publicações e falas, é comentada a possibilidade de mutação do Coronavírus, inclusive por variações climáticas. Não há sobre a terra um único humano que possa garantir que as crianças estarão sempre protegidas, durante toda a pandemia. Fora que, se vivemos em comunidade, precisamos pensar no todo e o fato de não adoecerem tanto não quer dizer que não contaminem outras pessoas.

Se não tiverem aula, muitos vão ficar com os avós e contaminar, justamente, os mais vulneráveis - Se as crianças infectadas (e podem estar assintomáticas) são consideradas um risco para os idosos, é importante deixá -las em casa exatamente agora, antes de começarmos a ter confirmações de casos nas escolas. Se os avós são rede de apoio, eles já convivem com os netos e o contato com as crianças que estão indo às aulas todos os dias é, evidentemente, mais "perigoso" do que com aquelas que pararem agora de se expor a aglomerações.

As mães não têm com quem deixar as crianças - Primeiro, por óbvio, vamos começar a citar os pais, nessa afirmação. Segundo, a verdade é que a função da escola não é cuidar de crianças, enquanto pais e mães trabalham. Terceiro que, mesmo não sendo a função, nada impede que se tenha solidariedade. Num meio termo, a presença pode passar a ser facultativa, nesse primeiro momento, sem prejuízo do conteúdo às que deixarem de frequentar. Diminuir a quantidade de alunos no ambiente escolar, redimensionar a quantidade de profissionais, criar atividades alternativas pode dar trabalho, mas parece um bom passo inicial.

Mais cedo ou mais tarde, vão fechar, assim como aconteceu em todos os países onde o vírus aportou. A questão é apenas rever esse marcador, esse número que diz "agora tá perigoso". Me espanta que com tantos exemplos no mundo inteiro, não possamos nos adiantar, fazer de outro jeito, como já fazem em tantos espaços. Um comportamento que só faz sentido porque continuamos sendo um povo que vive entre pânico e letargia, que não encontra o lugar de equilíbrio. Só quero dizer uma coisa: atenção é diferente de pânico e ter calma não significa ficar leso a ponto de só fechar a porta depois que o ladrão já entrou.

Este artigo teve a consultoria da Dra. Thaís Calasans, enfermeira doutora em medicina e saúde, pela Escola Bahiana de Medicina.