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Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2019 às 08:18
- Atualizado há 2 anos
Schumpeter, ainda na primeira metade do século passado, nos ensinou a ver o mundo e a sua evolução a partir de uma sequência ininterrupta de destruições criativas. As inovações criam novas ordens e possibilidades, na mesma medida que desconstroem organizações e modelos de negócios. No entanto, à medida que vemos o século atual avançar, percebemos que o horizonte de inovação possível cria condições para um nível inédito de ruptura nas mais diversas áreas com impactos imprevisíveis na vida em sociedade.>
Segundo Harari, ao nos apresentar suas 21 Lições para o Século XXI, a biotecnologia e a tecnologia da informação, de forma estanque, e sua eventual fusão nos acelerarão a um estágio de velocidades de mudança sem precedentes. É assim, por exemplo, que, sem que pudéssemos ter uma exata compreensão do fenômeno, assistimos a Internet, entre outros fatores, colocar a democracia liberal em crise, a partir do fenômeno da pós-verdade. Do mesmo modo, inovações que impactarão as áreas de saúde, da educação e da empregabilidade, somente para que fiquemos nas de maior impacto, poderão causar um grau de desordem sem precedentes na vida social como a concebemos contemporaneamente.>
Se não temos a menor ideia de como as pessoas farão para ganhar a vida nos próximos 50 anos, como formar pessoas para o futuro mundo do trabalho? Mesmo habilidades que se apresentam hoje como expressiva vantagem competitiva, como a capacidade de desenvolver códigos de programas de computador e o domínio do mandarim, podem tornar-se irrelevantes face à capacidade da Inteligência Artificial em desenvolver softwares e gerar aplicativos de tradução simultânea. O aumento da expectativa de vida é um ganho extraordinário trazido pelo avanço do conhecimento na área de medicina e saúde.>
Se hoje essa é praticamente o dobro de 100 anos atrás, há projeções das mais diversas em relação a como a medicina genômica e a terapia genética podem elevá-la de forma exponencial ainda nesse século. Dependendo da abrangência do acesso às novas terapêuticas, a desigualdade repercutirá no que temos de mais valioso: a extensão da nossa vida. No mundo do trabalho, a esperança de nos refugiarmos em profissões que demandem mais inspiração e criatividade é cada dia mais vã. A confluência da tecnologia da informação com a biotecnologia deverá se materializar em computadores que assumam o papel de psiquiatras, de pesquisadores na área de saúde e, até, de artistas.>
O grau de desordem no universo aumenta inexoravelmente. Ovos quando quebrados não se reestabelecem. A reconexão dos seus vários pedaços é não espontânea, tornando a sua fragmentação irreversível. Não sabemos antecipar como será o mundo mais automatizado e com a presença ubíqua da Inteligência Artificial. No entanto, o papel que essa terá em nossa vida individual e coletiva, por hora, é uma determinação humana. Cabe-nos asseverar que a ciência e a tecnologia estejam sempre a serviço de uma melhor sociedade e interferir com sabedoria na agenda tecnológica das próximas décadas. Pelo menos, enquanto ainda estivermos no controle.>
Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado e atual diretor da Escola de Administração da UFBA>
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores>