Prefeitura entrega geomanta em Matatu de Brotas, demanda há 35 anos da comunidade 

Estrutura de 190 m² de área custou R$ 26 mil aos cofres públicos 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 16:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marcela Villar/CORREIO

Há 35 anos que a professora Regina Célia Reis, 59 anos, esperava por uma solução para os deslizamentos de terra que enfrentava no terreno de sua casa, na rua da Travessa, em Matatu de Brotas. Construída na ribanceira, a casa já estava “quase que pendurada”, como definiram moradores do bairro. “Quando você mora numa ribanceira, você tem medo de a casa desabar, porque ali é um risco constante. Quando chovia, eu não dormia”, desabafa a Célia. Agora, a professora não passará mais por esses problemas. A prefeitura de Salvador entregou, na manhã de hoje (12), uma geomanta para conter esses possíveis escorregamentos de terra. A estrutura, de 190 m², custou R$ 26 mil aos cofres municipais.  

“Criei meu filho ali na ribanceira, pedindo a um e a outro pra fazer aquela contenção. Eu pago meu IPTU, pago meus impostos, e não estava pedindo nada a não ser que fizesse uma coisa que não tinha condições financeiras de fazer”, conta Regina. Além do medo das chuvas, a moradora sofria com constantes rachaduras que apareciam no apartamento, além de ratos e cobras. “Tinha um matagal que corria rato, cobra, mato brabo mesmo. Mosquito era o mínimo e a gente tinha que manter a cada sempre fechada. Também tinha o medo de uma pessoa se esconder naquele mato e me atacar”, narra Reis.  

Depois da reforma, que começou a ser feita em novembro, ela conseguiu até abrir uma pizzaria, que agora é uma das suas fontes de renda. “Foi como se abrisse um novo horizonte. Foi um divisor de águas e ajudou com que a gente fizesse a pizzaria. Graças a deus, a comunidade abraçou e todo mundo compra”, comemora Célia, que também é formada em teologia. Com o restaurante, ela contratou três motoboys do bairro para ajudar nas entregas. Moradora agradece por construção da obra, que esperava há mais de 30 anos. Crédito: Marcela Villar/CORREIO Além da geomanta, implantada pela Defesa Civil de Salvador (Codesal), a prefeitura reformou duas escadarias do bairro. Durante a entrega da obra, o prefeito Bruno Reis ressaltou os benefícios da estrutura. “Essa tecnologia que implantamos aqui em Salvador já nos permitiu proteger 204 áreas como esta que estamos entregando, que há mais de 30 anos a comunidade reivindica. Levamos essa solução para diversos locais da cidade. Se não é a solução definitiva, pelo menos, ela garante mais segurança e mais tranquilidade aos moradores”, afirma Bruno. 

O prefeito pontuou que foram mais de 100 encostas definitivas implantadas na cidade e que isso protegeu mais de 300 áreas em Salvador. “É isso que tem feito com que a gente passe pelo período das chuvas com uma tranquilidade maior. Estamos imunes? Não. Estamos livres de deslizamentos? Não. Porque não há cidade no mundo que resista à tanta chuva em tão pouco tempo. Mas, todos sabem que Salvador hoje está muito mais preparada”, explica.

Pela topografia irregular da cidade, o prefeito ressaltou que são muitas as áreas de risco em Salvador e que muitas casas são construídas nessas regiões por falta de opção. “Segundo o IBGE, Salvador tem 1040 áreas de risco e 46% da sua população mora em encostas. A topografia da cidade irregular, marcada por vales e declives, por regiões montanhosas, faz com que as pessoas acabem, por falta de opção, construindo nas encostas. Ninguém constrói uma casa na encosta porque quer. É porque é a alternativa que tem”, esclarece Bruno.    Prefeito Bruno Reis, vice-prefeita Ana Paula Matos e diretor da Codesal, Sósthenes Macêdo, participaram da entrega da obra. Crédito: Marcela Villar/CORREIO. Esse modelo de intervenção começou a ser aplicada no município em 2016. Até então, o modelo tradicional era o de contenções. Segundo o diretor da Codesal, Sósthenes Macêdo, as geomantas são mais rápidas de serem construídas, por isso, favorecem uma intervenção mais objetiva. “Primeiro, tem a praticidade, porque existe uma facilidade de aplicação da geomanta. Enquanto a contenção, embora ela seja perene, demora um tempo maior para a execução. Já a geomanta é feita com mais brevidade e rapidez. Dependendo do caso e da complexidade, levam três a quatro meses para ser construída, e isso facilita o processo de proteção mais imediatista”, explica Macêdo.  

Outro benefício desse tipo de intervenção é a economia orçamentária. “A relação financeira entre contenção e geomanta é absurda, então isso possibilita que os cofres públicos possam abraçar um número maior de frentes diferentes. Por vezes, uma única contenção custa R$ 700 mil, R$ 800 mil, podendo chegar a R$ 1 milhão”, argumenta. Segundo ele, o metro quadrado para a implantação de uma geomanta custa R$ 140. 

O diretor da Codesal ainda cita outros tipos de intervenção que são feitos na cidade para conter os deslizamentos e escorregamentos de terra, como a implantação de gramas no terreno. “Nem toda situação comporta a técnica de geomanta e existem outras formas de proteção que, por vezes, não são enxergadas pela população, como a grama e talude com uma boa rede de drenagem. É uma solução vegetal que protege a área e permite que não tenhamos escorregamentos de terra”, informa Sósthenes.  

Até então, de 2016 até fevereiro de 2021, foram feitas intervenções em 204 localidades, o que totaliza uma área de 130.315,63m². O investimento total nesses quatro anos foi de mais de R$ 19,4 milhões. Ou seja, a cada ano, em torno de R$ 6 milhões são gastos para a construção dessas intervenções. Os bairros que mais precisaram da atenção da Codesal estão no chamado “miolo” da cidade, como em Brotas, Liberdade, São Caetano e Pau da Lima. Além da geomanta, duas escadarias reconstruídas também foram entregues pela prefeitura em Matatu de Brotas. Crédito: Marcela Villar/CORREIO. No caso de Matatu de Brotas, além de Regina Célia, outras 20 famílias foram beneficiadas com a obra. O material da geomanta é feito de composto de PVC e geotêxtil com cobertura de argamassa jateada. O jornalista e candidato a veredor em 2020, Gusmão Neto, também ajudou a comunidade para que a internveção fosse feita.  

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro