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Thais Borges
Publicado em 5 de fevereiro de 2017 às 06:20
- Atualizado há 2 anos
Desde o ano passado, a prefeitura de Salvador acompanha acumuladores na cidade. Tudo começou com uma denúncia feita em uma Prefeitura-Bairro, referente a um acumulador de Valéria. Depois, vieram de diferentes canais, mas especialmente nos mutirões de limpeza para combater o Aedes aegypti, de acordo com a coordenadora de projetos especiais da Secretaria Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza (Semps), Cláudia Cavalcanti. >
Hoje, são pelo 23 conhecidos – com outras duas denúncias ainda em análise. “Esses acumuladores recolhem lixo, entulho, eletrodomésticos quebrados, camas velhas, armários, madeira, muito brinquedo... Eles vão achando que podem vender esse material e daí tirar algum lucro financeiro, depois começam a ter apego emocional. Acham que vão usar, eventualmente, numa necessidade”, diz. >
Logo depois que tomam conhecimento do caso, o trabalho começa. Primeiro, os agentes sociais da Semps vão até o acumulador, para conhecer a pessoa, sua história, identificar o que desencadeou o processo de acumulação e tentar criar um vínculo de confiança. Muitos são reclusos e têm restrições a conversar com os agentes públicos. Às vezes, as pessoas sequer querem abrir a porta, no contato inicial. >
Depois, quando as duas partes começam a se entender – e pode levar até três ou quatro meses para que a pessoa com Transtorno de Acumulação (TA) se sinta à vontade para contar sua história – vão para a fase que a Semps chama de “conscientização”. É o momento de convencê-los a tirar o material da casa. Quando o acumulador autoriza a retirada do material de casa, a prefeitura convoca a Limpurb e o CCZ (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)“A gente faz a sensibilização, mostrando os riscos, para que a pessoa possa compreender que o melhor é limpar. A partir do momento que a pessoa sinaliza que quer ter uma mudança em sua qualidade de vida, a gente inicia o processo de limpeza”, afirma a assistente social Cristiane de Oliveira, uma das que acompanhou o caso de seu José Rocha, morador de Paripe que contou sua história ao CORREIO. >
Mas, sem que o acumulador aceite, a prefeitura não pode fazer nada. “A gente tem o cuidado de não falar a palavra ‘lixo’, porque eles não entendem assim. Existem poucas coisas servíveis nesses locais, mas a gente não pode usar a palavra”, conta a coordenadora Cláudia.>
No dia da limpeza, entram a Limpurb e o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Quando a casa já está ‘limpa’ ou vazia, a pessoa precisa começar a assimilar que o espaço, de repente, está diferente. “Então, fazemos o encaminhamento para os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) para atividades de socialização, para os Cras (Centros de Referência da Assistência Social), para fortalecer vínculos familiares”, lista Cláudia. >
Só que não para por aí. A depender da necessidade da pessoa, a pessoa deve ser encaminhada para o serviço competente – às vezes, o acumulador em questão sequer tem documentos. Se o imóvel for em área de risco, a pessoa pode receber auxílio moradia, por exemplo; se o acumulador tiver algum tipo de deficiência, pode receber Benefício de Prestação Continuada (BPC) e assim por diante. >
A maioria dos 23 casos recebidos pela prefeitura estão na região da Cidade Baixa – das três histórias contadas pelo CORREIO, por exemplo, dois estão na Ribeira. Há acumuladores conhecidos na Calçada, Uruguai... Mas também há os que ficam em outros bairros, como Paripe e Valéria. >
“É um trabalho contínuo, mas a gente tem notado que é fundamental a participação da família. Então, a gente tenta resgatar esse vínculo familiar, porque, muitas vezes, como as pessoas são solitárias, elas não fazem o tratamento”, reforça Cláudia. Se você é ou conhece um acumulador e acha que precisa da ajuda da prefeitura, pode entrar em contato com a Ouvidoria municipal, através do telefone 156. >
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