Prefeitura usa 150 ônibus de outras empresas para não parar linhas da CSN

Motoristas e cobradores relatam medo do futuro na concessionária

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  • Bruno Wendel

Publicado em 22 de junho de 2020 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Foto: Marina Silva/CORREIO Como parte dos veículos da Concessionária Salvador Norte (CSN) está em manutenção, 150 ônibus reservas de outras duas empresas estão sendo usados para dar continuidade ao serviço de transporte público da empresa, que opera 100% na Estação Mussurunga e na orla de capital baiana.  

A prefeitura de Salvador assumiu o comando da CSN após a própria empresa pedir intervenção através de uma ação judicial. 

“Tendo em vista que muitos carros da CSN têm problemas de manutenção em algumas linhas operadas pela CSN, precisamos colocar frota reserva da OTTrans e da plataforma. Nós utilizamos cerca de 150 carros das outras empresas para dar continuidade ao serviço e vamos fazer isso a semana inteira, até a gente ter uma estabilização da frota da CSN. Então, para a população nada mudará”, declarou o secretário de Mobilidade Urbana Fábio Mota, logo após deixa a garagem da CSN na manhã desta segunda-feira (22), em Brotas. 

Com o ingresso dos 150 ônibus de outras empresas à CSN, não haverá mudanças nas linhas. “As linhas são as mesmas e os itinerários são os mesmos. O que pode mudar é a operadora, a cor do carro. Por exemplo, a linha Parque São Cristávão/Barroquinha, que é operada ela CSN, hoje foi operada pela OTTrans, que é a concessionária de cor verde, mas o serviço continua o mesmo. Fizemos isso desde domingo. Hoje e durante a semana vamos precisar fazer isso até estabilizar a frota da CSN, consertar os carros quebrados e regularizar a situação”, declarou o secretário. 

Além de Fábio Mota, o interventor Almir Melo Jr, atual diretor-presidente da Agência Reguladora e Fiscalizadora dos Serviços Públicos de Salvador (Arsal), também esteve na garagem da CSN para posse do cargo. Ele informou que algumas medidas já foram adotadas, como o afastamento de todas as diretorias, como consta no decreto da intervenção.

“A intervenção na concessão implica na suspensão do mandato dos administradores, diretores e membros do conselho fiscal e de administração, assegurando ao interventor plenos poderes de gestão sobre as operações e os ativos da concessionária, além da prerrogativa exclusiva de convocar assembleia geral nos casos em que julgar conveniente”, disse Almir.  A Semob esteve pela manhã na garagem da CSN junto com o interventor (Foto: Marina Silva/CORREIO) Uma auditoria interna na empresa é realizada. “Estamos diante de uma situação de urgência que demandou uma rápida intervenção pelo município, para que seja garantida a continuidade do serviço de transporte público por ônibus, que é essencial para a nossa população. Na qualidade de interventor, iniciei hoje o levantamento das informações necessárias à realização de auditoria interna, bem como a adoção de todas as medidas que garantam a continuidade deste relevante serviço. Este é o meu foco no momento”, completou o interventor. 

Almir detalhou quais as informações que estão sendo levantadas para subsidiar a auditoria. “Vamos apurar as razões da inadequada e imperfeita prestação dos serviços; analisar a situação econômico-financeira da Concessionária CSN frente às necessidades contratuais; realizar na mesma as auditorias previstas no contrato de concessão ou outras que se mostrem necessárias para o cumprimento da intervenção; realizar o levantamento atualizado de descumprimentos legais e contratuais da CSN”. 

Incertezas Os rodoviários da CSN amanheceram na incerteza. “Até agora não passaram nada para a gente. Tudo o que sabemos foi através da imprensa, que a empresa tem um interventor agora. Mas não sabemos se, de fato, nossos empregos serão mantidos”, declarou o motorista Sandro Lima, 50 anos.   Sandro admite preocupação com futuro (Foto: Marina Silva/CORREIO) A insegurança da manutenção do emprego é o que consumiu a noite do cobrador Manoel Cerqueira, 39, casado, pai de uma menina e responsável pelo sustento da família. Além do pagamento de aluguel, ele precisa do salário para bancar outras despesas, como a escola da filha.

“Uma situação como esta é de preocupar todo mundo, porque nada disso era esperado. Apesar de não detalhar a situação, a empresa é grande e nunca imaginamos que a prefeitura pudesse intervir para a CSN não falir”, disse ele.  Manoel está preocupado com as contas que tem a pagar (Foto: Marina Silva/CORREIO) O também cobrador Otaviano Evangelista de Jesus, 55, não acreditava na intervenção na CSN. “Está sendo uma surpresa. Não dá para entender como uma empresa dessa, grande, chega ao fundo do poço. Mão-de-obra qualificada, tem, porque aqui tem bons motoristas, cobradores, despachantes. Já a administração deixou muito a desejar”, avaliou. O cobrador Otaviano não acreditava na intervenção na empresa (Foto: Marina Silva/CORREIO) O motorista Antônio Carlos Santos, 51, não ficou surpreso com os novos rumos da concessionária. “Vinha com muitos problemas. A gestão anterior atrasava salários e não vinha recolhendo o nosso FGTS. Pra mim, isso não foi novidade”, declarou.

O Sindicato dos Rodoviários espera que o interventor dê prioridade às questões ligadas diretamente aos 4 mil empregados da concessionária. “ A gente espera que Almir Melo tenha como compromisso primordial honrar com os trabalhadores de pagar a quinzena, os 40% do salário, o ticket de alimentação que está faltando e regularizar o fundo de garantia que está atrasado há dois anos”, disse o diretor de comunicação do sindicato Daniel Mota.