Procissão de São Roque cria 'tapete branco' nas ruas da Federação

Mais de duas mil pessoas participaram do festejo nesta sexta-feira (16), na Estrada de São Lázaro

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 18:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
. por Arisson Marinho/CORREIO

Assim como nos últimos 10 anos, a rodoviária Andreza Virgínia, 20 anos, reservou esta sexta-feira (16), para comemorar o dia de São Roque. Filha de Obaluaê, a moça fez uma promessa quando ainda tinha 9 anos de idade. Todo mês de agosto, feridas apareciam no corpo dela. Para que elas sumissem, Andreza prometeu que iria comemorar o dia de São Roque (Omolu) e de São Lázaro (Obaluaê), em janeiro, ofertando banho de pipoca.

Além de Andreza, cerca de duas mil pessoas participaram do festejo na Estrada de São Lázaro, no bairro da Federação. O local ficou lotado durante todo o dia, tendo seu ápice na hora da Missa Magna, às 15h. A procissão, que ocorreu da Igreja São Lázaro e São Roque (Federação) até o Cemitério Campo Santo e retornando para a igreja, pintou as ruas da Federação de branco.

São Roque, que é Omulu no sincretismo religioso do candomblé, é considerado o protetor dos inválidos e cirurgiões. Em algumas comunidades católicas também é tido como o protetor do gado contra doenças contagiosas. Para a Umbanda, o sincretismo religioso de São Roque é com Obaluaê.

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Todo o caminho até a Igreja de São Lázaro e São Roque, que fica em uma rua sem saída, estava repleto de pipocas e de muitos fiéis. Além do banho tradicional na frente da igreja, muitas pessoas o ofertavam no decorrer da rua. Era o caso de Andreza Virgínia.“Fiz uma promessa junto com minha mãe de que, até a minha morte, eu viria para cá, sempre no dia 16 de agosto, ofertar o banho de pipoca e no dia de São Lázaro, que é Obaluaê, em janeiro, eu venho agradecer”, disse ela.Andreza ainda explicou a simbologia do banho de pipoca para o candomblé: a pipoca, que é chamada de flor na religião, é a comida tradicional de Omolu e Obaluaê e também é utilizada como banho para fazer a limpeza, agradecer ao orixá e na hora de se fazer uma oferenda.

Os festejos a São Roque iniciaram logo cedo, às 5h, com a alvorada. O tema escolhido para a festa deste ano foi “São Roque, companheiro dos necessitados”. Ao longo do dia, quatro missas foram celebradas: às 7h, às 9h, às 11h e a Missa Solene às 15h, que foi seguida da procissão. 

Estreia Essa foi a primeira vez que a administradora Maria Elídia, 55 anos, participou da comemoração. Ela veio há 40 dias de São Paulo para Salvador e aproveitou para participar da festa. “Eu vim de uma formação católica, mas sou espírita kardecista. Eu admiro muito todas as religiões e respeito e admiro muito as festas”, contou.

O músico Gilberto Marques, 54, tem a tradição de vir “sempre que pode” à comemoração. Ele é de Oxóssi e, apesar de afirmar não ter a “cabeça feita”, afirmou “viver o candomblé”. 

A jornalista Sandra Viana é umbandista e foi à Igreja acompanhar a Missa Solene e a procissão. “Eu gosto de tomar banho de pipoca para limpeza, purificação e fortalecimento. Venho agradecer a Obaluaê porque acho que um orixá fortíssimo. Eu devo muito a esse velho e, sempre que posso, venho pedir renovação e cura. Já vim com dores no joelho e, depois de uma promessa, estou curada”, contou.

Prima de Sandra, a professora Elaine Sena, 54, está com um problema no joelho e anda de muletas. Além de agradecer e pedir purificação, ela foi à igreja para pedir a cura de suas dores.

Junto a um grupo de praticantes do candomblé na frente da Igreja de São Lázaro, estava a zeladora Antônia Moreira, 50, que já vai à igreja há 10 anos e, além do banho de pipoca, também oferta banho de folha para os presentes.“O banho de aroeira é para purificar e o de arruda é para tirar todas as quizilas e mal-estar do corpo das pessoas”, explicou ela, que afirmou que Omolu e Obaluaê são 'donos do meu coração'.A aposentada Edna Lima, 66 anos, é católica e frequenta a igreja há oito anos para os festejos de São Roque e São Lázaro. Ela afirmou que, mesmo morando em Cajazeiras, frequenta a igreja para agradecer. 

A aposentada Sônia Maria, 64 anos, é devota de São Roque e São Lázaro e afirmou pedir frequentemente para que eles intercedam por ela. “Eu vim agradecer por dois partos difíceis que duas sobrinhas minhas tiveram e sobreviveram, neste ano. Eu pedi aos dois e vim agradecer hoje. Também vim agradecer por um sobrinho que conseguiu um emprego e se afastou do mundo das drogas”, contou ela, que fez todo o percurso da procissão e diz que “faz questão” de acompanhá-lo.