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Murilo Gitel
Publicado em 27 de dezembro de 2021 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Ao mesmo tempo que a produção mineral baiana alcança níveis recordes, uma vez que o setor registrou faturamento de R$ 2,6 bilhões apenas no terceiro semestre deste ano, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), um velho problema impede que o segmento se desenvolva ainda mais no estado: a falta de ferrovias para transportar os minérios com preços competitivos no mercado de commodities.>
Com o apoio da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), os empresários baianos reivindicam investimentos nos trechos baianos da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA/VLI), que pleiteia renovação do contrato de concessão por mais 30 anos, contudo, ainda não mostrou quais benefícios trouxe para a Bahia nos últimos 25 anos, e nem os que trará caso venha a renovar pelas próximas três décadas.>
“Como atender ao navio sem levar a carga para o porto?”, questiona o presidente da CBPM, Antonio Carlos Tramm. Soma-se a isso o fato de que o Programa de Autorizações Ferroviárias anunciado recentemente pelo Ministério da Infraestrutura deixou de incluir os trechos baianos entre os seis do País que deverão receber recursos da ordem de R$ 31 bilhões.>
“Para 2022 os empresários da mineração baiana precisam se unir para tirar a logística ferroviária da sucata em que a VLI deixou, pois não é viável transportar milhares de toneladas por mês de caminhão. Cada embarque da Brazil Iron é o equivalente a seis voltas no planeta Terra, então imagine para todo o setor no estado”, compara Tramm. O presidente da CBPM acrescenta que o transporte rodoviário é mais caro, demorado e poluente.>
Exclusão de corredor Na avaliação do diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, a FCA já provou que não tem interesse em fazer operações no estado. “Nós estudamos profundamente a renovação antecipada da concessão da FCA e vimos que não faz nenhum sentido para a Bahia. Aqui na Bahia foram desativados mais de 600 km de linhas, que foram abandonadas pela FCA”, aponta.>
Villa também alega a inexistência de obrigatoriedade quanto a novos investimentos. “Quando fomos olhar a proposta de renovação constatamos que não existe a obrigatoriedade de investimentos. São apenas intenções. Juntando essas duas situações, entendemos que é melhor para o Estado da Bahia que o corredor Minas-Bahia seja excluído dessa renovação e que ele seja licitado ou autorizado, porque carga a Bahia tem muita, seja minérios ou grãos”, defende. >
Cobrança no legislativo A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) afirma que tem cobrado uma solução para o impasse no Congresso Federal. “Esta é uma questão que precisa ser colocada em pauta, pois a Bahia não pode ser prejudicada com essa política de não prioridade. Embora diga que fará aportes de mais de R$ 3 bilhões, a concessionária deixou que o modal caminhasse para o sucateamento por falta de investimentos a altura do seu potencial. Em 25 anos, muito pouco foi feito de relevante. O que temos feito é cobrar uma solução do governo federal, que é quem fez a concessão.”>
Em evento recente promovido pela FIEB, o secretário nacional de Transportes Terrestres, Marcello Costa, defendeu uma compensação de parte da VLI. “Aceitaremos a parte dos trilhos que eles não usam de volta, mas desde que indenizem o Estado pelo tempo que não utilizaram.” Ele também prometeu mais esforços do governo federal no sentido de baratear a logística.>
Fiol e Porto Sul Enquanto a celeuma com a FCA/VLI não avança, com a finalização do trecho 1 da Ferrovia Oeste-Leste (Fiol) e sua ligação ao Porto Sul, terminal portuário em implantação pela BAMIN, em Ilhéus, a Bahia terá um dos mais importantes corredores Logísticos do País. A ferrovia, com capacidade para 60 milhões de toneladas/ano é considerada fundamental para resolver o gargalo de escoamento de minérios e outros produtos, como os grãos produzidos no Oeste baiano.>
“A Fiol representará R$ 500 milhões em dinheiro novo para os municípios, pelo incremento da Cfem [Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais] dos minérios que passarão a ser produzidos e, posteriormente, escoados pela ferrovia", projeta Tramm. >
Produtos escoados Com previsão de escoar 18 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, a Bamin utilizará cerca de um terço da capacidade da Fiol. Os outros dois terços serão destinados ao transporte de outros minérios, grãos do agronegócio e fertilizantes, além de outros produtos. Sob investimentos de R$ 3,3 bilhões, o trecho 1 da ferrovia (537 km) foi arrematado pela BAMIN em leilão realizado pelo Governo Federal em abril, na B3 (Bolsa de Valores), em São Paulo.>
Como parte da logística integrada, em parceria com o governo do estado da Bahia, a Bamin está construindo o Porto Sul, em Ilhéus. A expectativa é de que em cinco anos o terminal portuário, com capacidade para até 42 milhões de toneladas anuais e navios de até 220 toneladas, já esteja em operação. A BAMIN utilizará 50% do potencial de cargas e a outra metade será destinada a outros produtos, como minérios, itens do agronegócio e fertilizantes. >