Produtores temem que uso de agrotóxico na Chapada Diamantina afete orgânicos

Associação de Produtores Orgânicos da Bahia fala de 'risco à biodiversidade'

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  • Fernanda Santana

Publicado em 29 de agosto de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Emater

Na infância e adolescência, só o que Edilson Silva via nos terrenos vizinhos, em Itaberaba, também na Chapada Diamantina, eram fileiras de plantações orgânicas. Os agrotóxicos chegaram ali, como possibilidade de aumentar a produtividade, há, ao menos, 40 anos. “Eu dizia que não queria, me chamavam de louco, de sonhador, como se não fosse possível produzir sem veneno. Mas a gente sempre produziu sem veneno”, conta ele, presidente da Associação de Produtores Orgânicos da Bahia.  

A vizinhança mudou, os grandes produtores chegaram à Chapada, atraídos pelas condições climáticas. O presidente da associação diz que as grandes propriedades vizinhas “preocupam”. Não há relatos de interferência direta na qualidade do orgânico, mas existe o temor do impacto na biodiversidade, como na água e na terra, da qual dependem plantações - sobretudo orgânicas. "Se for pulverizado de avião, aí sim pode afetar as produções orgânicas, mas não temos registro. Nos preocupa é como esse uso afeta o ambiente, porque o orgânico precisa de um equilíbrio”, conta.Os alimentos produzidos sem agrotóxicos são identificados pelo selo "Produto Orgânico", do Ministério da Agricultura. São, 769  produtores - pequenos, médios e grandes - cadastrados na Bahia. Os principais polos baianos de produção orgânica são, segundo a Associação de Produtores, a Chapada, o Piemonte Paraguaçu e o Recôncavo. Não há, no entanto, números, pois o Brasil não possui nenhuma sistematização de dados de quanto é produzido de orgânico."Para o pequeno produtor do campo, pode ser que não impacte tanto. Para o produtor maior, custa caro, essa insegurança na regularidade de entrega. Além disso, é complicado sistematizar o quanto é um mercado crescente e que tem demanda", diz Cobi Cruz, diretor do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis). Há uma estimativa de que o setor movimentou R$ 4,5 bilhões em 2019.O Ministério respondeu que as normas determinam a existência de barreiras físicas para impedir a “contaminação proveniente de propriedades vizinhas” e que “a responsabilidade da qualidade recai sobre o produtor orgânico”. Chapada é maior produtora de morango da Bahia (Foto: Imagem representativa/Divulgação/Agência Brasil) O caso foi relatado a um agrônomo para entender quais os riscos reais de impacto dos agrotóxicos em plantações orgânicas. Ele afirmou que, no caso de Velame, a distância não seria suficiente para que os agrotóxicos chegassem, levados pelo vento, a plantações com selo orgânico. Mas depende da intensidade do vento.“Existe um termo chamado deriva, que é quando o agrotóxico é desviado pelo vento para outras plantações que no caso podem ser orgânicas, assim como atingir mananciais e zonas urbanas. Pode haver deriva até 2km, dependendo da forma de pulverização e condições climáticas”, explica Daniel Martins, agrônomo. Na Chapada Diamantina, tem tido destaque o morango orgânico. Os municípios de Morro do Chapéu, Mucugê e Palmeira - todos na Chapada - são três dos seis municípios com produção de morango, segundo a Secretaria da Agricultura do Estado. Morro do Chapéu, o maior, com 1,2 tonelada. Não há especificação de quanto desse morango é orgânico. “Mas ainda não temos preços competitivos, então temos que enviar para fora da Bahia”, conta. 

O destino principal é São Paulo. Os orgânicos são, geralmente, mais caros que os vegetais e hortaliças regados a veneno, pois  é preciso mais determinação no cultivo, como a descoberta de inseticidas naturais. O quilo do morango orgânico custa R$ 42; plantado com agrotóxico, R$ 20.