Professor denuncia racismo após alunos serem acusados de furto em shopping de Salvador

Seguranças teriam ameaçado e agredido adolescentes

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  • Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 18:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Redes sociais

Um professor denuncia o crime de ameaça e injúria racial contra três de seus alunos por seguranças terceirizados do Big Bompreço, no Salvador Shopping. Os profissionais teriam agredido fisicamente os adolescentes e os acusado de furto no último dia 19 de janeiro. A ocorrência foi confirmada pela Polícia Civil.

Yuri Carlton, professor de artes marciais no Projeto Boa Luta, contou que os jovens de 14, 16 e 19 anos, foram ao supermercado comprar alimentos e pedir doações para participarem do Campeonato Brasileiro de Jiu-Jitsu, que vai ocorrer no mês de maio, em São Paulo. O Projeto Boa Luta, do qual fazem parte, atende quase 400 jovens da comunidades da Boca do Rio.

Segundo o relato feito pelos jovens à polícia, eles foram abordados por quatro funcionários do mercado, que os acusaram de furto. Como eles negaram terem cometido qualquer crime, teriam sido levados para uma sala onde foram agredidos física e psicologicamente, ofendidos com diversos insultos racistas.

Os seguranças ainda serão ouvidos na Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derrca), que irá seguir com diligências para apuração do caso.“Os seguranças pegaram eles pela camisa e levaram para uma sala. Chamaram eles de ‘pretos, favelados’, disseram que 'preto não tem como ter sonho algum' e que, se encontrassem os meninos na rua, iriam matar. Passaram uns 15 minutos com os meninos lá dentro”, relata o professor.Yuri disse que treina adolescentes há mais de 10 anos no projeto e que eles costumam vender água em sinaleiras para custear as participações nos campeonatos nacionais.

A queixa contra os seguranças foi feita no dia 24 de janeiro. Já no último dia 29, uma nova situação aconteceu. Enquanto cerca de 20 meninos do projeto social vendiam produtos em uma sinaleira, um carro passou pelo local. Três seguranças estavam no veículo, e tentaram levar o menor de 14 anos contra sua vontade.

Eles teriam se identificado como policiais e dito que levariam o menino devido ao caso de roubo no shopping. Um colega mais velho viu a situação e conseguiu impedir, afirmando que era pai do menor. Os homens partiram com o veículo, após uma guarnição da polícia passar no momento, e ninguém ficou ferido." Trabalho com eles há mais de 10 anos e conheço a família deles. Eles moram na favela, sim, mas são garotos de boa índole, são competidores, campeões brasileiros, baianos. E tudo que eles buscam é um sonho, que o esporte vai lhes dar um futuro melhor. Infelizmente, no caminho encontramos essa pedra", disse o professor.Resposta A rede Big Bompreço afirmou que abriu uma sindicância interna para apurar os fatos e tomar as medidas necessárias. Também afirmou que o caso ocorrido não corresponde aos procedimentos e aos valores da empresa. A empresa acrescentou que o seu código de ética da rede não tolera nenhuma forma de discriminação.

A administração do Salvador Shopping afirmou que está apurando o fato e já entrou em contato com os integrantes do Projeto Boa Luta para entender melhor a grave denúncia. Em nota, afirmaram que as informações levantadas apontam para uma ocorrência que não teve participação de colaboradores do quadro do shopping.

"Todas as informações serão enviadas para a Polícia para apuração dos responsáveis. O empreendimento segue à disposição das autoridades para elucidação do caso e reafirma que não compactua com atos de racismo", diz pronunciamento.

Racismo e injúria racial De acordo com o Código Penal, injúria racial é a ofensa à dignidade ou ao decoro em que se utiliza palavra depreciativa referente a raça e cor com a intenção de ofender a honra da vítima. Nesse caso, o crime é individualizado.

O crime de racismo, previsto em lei, é aplicado se a ofensa discriminatória é contra um grupo ou coletividade. Conforme o artigo 5º da Constituição, é inafiançável e imprescritível.

Em outubro de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por 8 votos a 1, que o crime de injúria racial pode ser equiparado ao de racismo e ser considerado imprescritível, ou seja, passível de punição a qualquer tempo.