Projeto sobre memória do Carnaval de Salvador será lançado nessa sexta-feira (14)

Evento gratuito acontece no Museu de Arte da Bahia

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  • Thais Borges

Publicado em 12 de fevereiro de 2020 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mais de 30 fotos da época serão disponibilizadas no site do projeto (Foto: Acervo FGM/Divulgação)

O Carnaval hoje pode ser até uma festa associada à alegria – ainda que não esteja isento dos problemas sociais. No entanto, nem sempre foi assim. Na verdade, o Carnaval de Salvador nasceu justamente da repressão. O primeiro desfile que aconteceu em Salvador com esse nome, em 1874, foi marcado pela proibição de uma das tradições da população negra. 

O início da folia momesca em Salvador, seus antecedentes e seus desdobramentos são o alvo de uma pesquisa inédita sobre a memória do Carnaval na cidade. Nesta sexta-feira (14), será lançado o projeto Memórias do Reinado do Momo, idealizado pelo professor Paulo Miguez, vice-reitor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), e coordenado pela pesquisadora Caroline Fantinel, doutora em Cultura e Sociedade pela Ufba. 

O lançamento dessa que é a segunda edição do projeto acontecerá no Museu de Arte da Bahia (MAB), a partir das 14h, de forma gratuita, com a apresentação de pesquisa sobre os primeiros carnavais da cidade. Também será lançado o novo site do projeto, um minidocumentário sobre o Clube Carnavalesco Embaixada Africana e uma obra visual assinada pelo artista plástico baiano Anderson AC sobre o desfile mais emblemático do Clube, em 1897. “A gente sabia que, na fase inaugural do Carnaval, havia ocorrido uma tensão muito grande entre as partes envolvidas. A gente quis investigar isso para entender essa tensão étnica e cultural. O Carnaval não foi um surgimento de festa tranquila, pacífica”, explica Caroline. Até 1874, existia o entrudo. Para Caroline, era uma “catarse coletiva”. “Era uma festa de se sujar, jogar farinha, lama, água. E em 1874, tem uma mudança completa, carros alegóricos, fantasias luxuosas, tudo inspirado no Carnaval inspirado em Nice, na França. A elite baiana estava olhando para esse Carnaval e tinha o desejo de transformar a Bahia nesse mundo imaginário. Achavam que deviam civilizar a Bahia e, para isso, precisavam desafricanizar as ruas, tudo muito entre aspas”, diz a pesquisadora. 

No site, vai ser possível acessar mais de 30 fotografias raras e 200 matérias jornalísticas divulgadas à época. Um dos destaques da pesquisa é a compreensão dos clubes negros, como o Embaixada Africana. “Era um clube carnavalesco majestoso composto por pessoas negras da cidade. Esses clubes mudam, de fato, a configuração e a imagem da sociedade. Mas isso começa a incomodar a elite, que passa a perder o controle da festa com a intensificação da presença negra nas ruas”, afirma a pesquisadora. Após o surgimento do Embaixada Africana, são criados outros clubes negros, como o Pândegos da África. Porém, todos foram proibidos de desfilar oficialmente em 1905 e só puderam retornar mais de dez anos depois. 

Para o professor Paulo Miguez, essa pesquisa é importante para entender o próprio Carnaval atual, bem como as transformações da época. “Não existe presente e jamais existirá futuro se não compreendermos como o passado se realizou, se construiu. No caso do Carnaval, a memória da festa é algo que merece e precisa ser cuidada”, enfatiza. 

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