PT em fase anal?

Por Aninha Franco

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  • Da Redação

Publicado em 21 de julho de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Neste final de semana, o Instituto Goethe oferece performances e exposição sobre o tema “Cu é lindo”. Sim, vocês leram que o Goethe expõe e performiza a “beleza do cu” com financiamento do Fundo Estadual de Cultura porque a “beleza anal” venceu edital de ocupação de espaços, ocupou o Goethe com o “Cu é lindo” e tem provocado debates acirrados sobre sua conveniência. Devo dizer que a arte sempre falou do cu direta ou indiretamente. Goethe (1749-1832), o patrono do Instituto que recebe o evento, num dos seus Epigramas Venezianos confessa que “Gosto de rapazes, mas muito mais de moças. Satisfaço a moça, e ela me serve de rapaz.” O poeta carioca Tanussi Cardoso evocou um cu problemático num poema originalíssimo: “Peida, não fede; caga, não suja; dá e não dói. Pobre cu sem mágoas”. 

 Na capa de Todos os Olhos (1973) de Tom Zé, plantou-se um cu disfarçado nos tempos sombrios da ditadura. A minha dramaturgia usou cu em muitos sinônimos pinçados do Dicionário do Palavrão de Mário Souto Maior na trilha de Esse Glauber (2004), a porta do céu, oitão, quo vadis, rosqueta, radô, pão, além de outros. Em Brasis (2002), o personagem Francisco, bravamente interpretado por Frank Menezes, pede: “Tirem o dedo do meu cu!” Súplica contestada por um espectador especial, Zé Celso Martins, no Theatro XVIII: “Tirem não! Botem o dedo no meu cu!”. 

Os poemas de Goethe e Tanussi, a capa de Todos os Olhos, a trilha de Esse Glauber e o espetáculo Brasis demonstram que o cu sempre participa da arte. A diferença é que no “Cu é lindo”, a evocação é do cu em si e de “sua beleza estética”, fenômeno frequente nas emissões “artísticas” do lulopetismo. Há pouco tempo os macaquinhos mitaram ele. 

Será que o lulopetismo está na fase anal? Pode ser... Na fase anal, de acordo com Freud, o foco principal da libido está no controle da bexiga e das evacuações, e o conflito é treinar o toalete e dominar as necessidades corporais para desenvolver o controle que provocará sentimentos de realização e independência. Freud acreditava que as experiências positivas na fase anal são essenciais para que crianças – e por que não partidos? – se tornem adultos competentes, produtivos e criativos. Pode ser um caminho para a refundação do partido dos trabalhadores.

Quem sabe a “filósofa” lulupetista Márcia Tilburi, candidata ao governo do RJ pelo PT, enalteça o cu em busca de um sistema filosófico que nós, preconceituosos, criticávamos, e pode ser a sistematização da fase anal do PT. Se Hannah Arendt sistematizou a “banalidade do mal” que nos acossa com a violência das ruas, se Foucault sistematizou os ardis do poder que nos assusta e Walter Benjamin sistematizou a perda da aura, Tilburi pode estar sistematizando a fase anal do PT. 

E diante da indignação dos que condenam o “Cu é lindo”, sejamos pragmáticos e entendamos que, finalmente, chegamos à cultura que a política cultural lulopetista entende, do governador à sua secretária de cultura, secretaria que, desde 2007, entende bastante da beleza dos cus. Lembremos que quando os “pensadores culturais lulopetistas” chegaram ao poder, eles infernizaram os artistas com a pergunta impressa, gritada, televisada de “o que é cultura?”. “Cu é lindo” pode ser a resposta que eles esperavam.

Aninha Franco é escritora e pensadora