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Qual é a responsabilidade dos pais se um filho adolescente comete uma chacina?

Botar uma pessoa no mundo não nos qualifica como pais e mães, a não ser que haja uma honesta revisão íntima

  • D
  • Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2022 às 11:00

. Crédito: .

Ontem mesmo, eu escutava uma entrevista daquela psiquiatra, Ana Beatriz Barbosa, falando sobre psicopatas. Ela dizia que esta é a única condição mental para a qual não há tratamento. Aos psicopatas falta emoção. Eles não sentem. O fato de não sentirem nada os faz "invencíveis", na pior acepção da palavra. Isso porque, muito antes da racionalidade, é a emoção que nos dirige e regula.

(Medo, amor, alegria, raiva... percebe o tamanho do defeito que é não conhecer nada disso?)

Os psicopatas, essas aberrações, são 1% a 3% da população mundial e cerca de 25% da população carcerária. (Preste atenção nos percentuais.) Entre eles, há desde os estelionatários até os assassinos em série. Seja qual for o "nível", é sempre péssimo encontrar um na vida. Algum estrago ele causa, algum mal vai lhe fazer. É genético. Da natureza. Todos são irrecuperáveis e incapazes de convívio social saudável.

Então, você torce pra seus caminhos não se cruzarem e fica atento aos sinais, pra se picar, se for o caso. Sugiro, fortemente, que leia sobre isso. O livro "Mentes Perigosas", da própria Ana Beatriz, é de facílima compreensão e, praticamente, um manual simples de instruções sobre como reconhecer e agir diante desse tipo de criatura que é mais comum do que se imagina. Também, mais sedutor do que gostaríamos.

(Talvez, você até conheça um e ache ele "perfeito".)

Aí, quem sabe o nome do bicho, vê um adolescente atirar em todo mundo, como no caso do Espírito Santo, e pensa "só pode ser psicopata,". Sim, é possível. Se for, ele deu sinais. HPP. História Patológica Pregressa. Como ele se comportava, antes do "grande evento"? No caso dos psicopatas, as maldades surgem desde o início da vida. Sabe aqueles animais que aparecem mortos porque "queria ver ele morrendo"? Pois é. A partir daí, é uma escalada que não há como não ser percebida pelas pessoas com as quais convive intimamente.

Se for o caso, não há solução possível, por mais amorosa e culta e cuidadosa que seja a família. Não há tratamento. Não há nada que se possa fazer além de tentar conter o monstro e proteger as pessoas ao redor, até que ele seja preso, de preferência pra sempre. Só que, ainda que façam grande estrago, psicopatas são uma minoria. É, portanto, dentro da "normalidade" de todas as outras pessoas do mundo que podemos nos perguntar: "qual é a responsabilidade dos pais se um filho adolescente comete uma chacina?".

Legalmente, pais são responsáveis pelos atos ilícitos praticados por filhos menores que estiverem sob sua tutela e em sua companhia. Mas isso responde pouco porque trata de cuidar da merda feita. Saber "quem vai pagar o pato" não diz da construção, do tecer, do criar humanos, do quanto de dedo da família está naquele evento.

Apenas botar uma pessoa no mundo não nos qualifica como pais e mães, a não ser que haja uma honesta revisão íntima. Essa revisão só acontece motivada pela compreensão mais absoluta da beleza e da responsabilidade que é educar alguém. Coisa pra poucos, você há de convir.

Mas há outra chance na observação honesta de resultados no mundo. Veja o nosso caso: há um padrão nesses "atiradores" que passaram a acontecer no Brasil. Até o momento, todos são pessoas cis do gênero masculino. Adolescentes. As vítimas são, na maioria, mulheres e crianças. Se isso não for "causa e consequência", se o fato não é autoexplicado, eu não sei o que seria.

Um senhor analfabeto, lavrador da zona rural do Recôncavo, me disse das coisas mais sábias que já ouvi, sobre a adolescência. Ao comentar uma história do neto, ele completou com "a mente dele ainda é verde, tem que ter cuidado". Nunca esqueci. Vejo "mentes verdes" em cada criança e adolescente, desde então. Tudo importa no "amadurecimento" dessas mentes. Erro pra caramba, claro, diante da "mente verde" do meu filho. Sou humana. Mas também sei que a responsabilidade é minha. O esforço, portanto, é na construção do ambiente mais saudável possível.

"Saudável" tem significado vago, nesse caso? Talvez. Cada família deve adotar a linha de educação que lhe parece mais adequada? Sim. Mas é urgente pensar sobre isso, não fazer só de improviso e "o que deu". É bom, também, observar resultados e honesto não se pasmar com coerências. Não surpreende que quem cresce adorando armas e assassinos acabe matando. Foi treinado para esse fim. Por exemplo.

O adolescente assassino do Espírito Santo tinha uma suástica no figurino escolhido para o "grande ato". Era simpatizante do nazismo, de acordo com a polícia. Há vasto material provando esse "posicionamento". Também de acordo com a polícia, o rapaz ganhou, do próprio pai, o livro de Hitler, que fala sobre a proposta de extermínio de parte da humanidade. O pai chegou a fazer post indicando a leitura, nas redes sociais.

As investigações também informam que o assassino tinha acesso às armas do pai que é policial. Com esse tipo de criação, com tanto treinamento pro mal, para a exclusão e para o desrespeito à vida, o criminoso juvenil não precisa ser psicopata para agir como um. Ele estava, no mínimo, autorizado a isso. Agora, esse mesmo pai, disse que o filho "fez uma coisa horrível". Acho sacanagem.

Por coerência, o filho deveria ser parabenizado pela família. Aprendeu, fez o esperado, seguiu o caminho indicado. Papis devia ter coragem e assumir a parte que lhe cabe. Mas, que nada. Também é característica do homem da "família tradicional brasileira" o abandono dos filhos. Precisamente, o que esse pai está fazendo agora. O ato desse adolescente é uma compatível exacerbação do modelo masculino tradicional, inclusive no que se refere ao ódio a mulheres e crianças.

Nesse caso, houve a motivação do conteúdo nazista. Acho adereço. Esse enredo coube naquela família, encontrou eco e não o contrário. Aqui em casa, Hitler é das figuras mais ridicularizadas, não faz o menor sucesso, não é exemplo de nada que preste ou seja admirável. Nada daquilo "cola" em um ambiente familiar vinculado com a vida, includente, respeitoso. Observe que a estrutura das famílias precede o conteúdo, as histórias são parecidas em outros casos de "atiradores", mesmo nos que não trazem qualquer símbolo nazista.

É a violência nas relações, a mendicância intelectual, o abandono diante das telas, sem qualquer curadoria. É o modelo falido de "virilidade", a deturpação do significado de "poder" e "valentia". Esses são os problemas. Não fosse assim, quando o menino aparecesse com conversa de nazismo, seria informado de que o tal führer, além de tudo que sabemos, era um coprofílico impotente. Também que perdeu a guerra e se matou no final. Por muitos motivos, o cara era um bosta. Dita a verdade, duvido a presepada ir adiante. "Mentes verdes" precisam de orientação madura. Você é capaz?

(Sim, a família é responsável.)

(Sempre.)

(Pro bem e pro mal.)