Quanto mais perto, melhor: devotos movimentam Santuário de Irmã Dulce

Notícia da canonização da freira baiana provocou 'romaria' a Santuário e Memorial, em Salvador

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  • Bruno Wendel

Publicado em 16 de maio de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/CORREIO
Bolsa de praia grande - R$ 48 por Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Dona Maria do Carmo foi nesta quarta-feira (15) buscar suas relíquias (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Pode ser um terço, um escapulário, uma caneca ou até uma relíquia - um pedacinho de um hábito usado pela religiosa baiana que vai virar santa. Seja como for, o que os devotos querem é ter Irmã Dulce por perto de algum jeito. Desde que o Vaticano anunciou a canonização da freira pelo papa Francisco, nesta terça-feira (14), o telefone das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) não parou.

“Foi uma ligação atrás da outra. Fiéis de São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe, Paraná. Passei o dia inteiro respondendo perguntas”, contou, animada, Carla Silva, a museóloga que trabalha na Assessoria de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). No final do dia de terça, 300 ligações. Tinha gente até querendo saber a data da cerimônia de canonização, para reservar hotel e passagens em Roma, na Itália.

Dos 300 telefones, quase a metade tinha um propósito específico: encomendar a chamada relíquia de segundo grau, uma carteirinha com a imagem e um pedaço do hábito da religiosa. “Normalmente, são dez pedidos por semana da relíquia de segundo grau, mas só nesta quarta-feira (15) foram 143 solicitações”, declarou Carla. A relíquia é entregue gratuitamente aos devotos na própria Osid – para pessoas que externam sua devoção e relatam graças alcançadas. A professora Aridan Machado contou que foi curada de um câncer graças a Irmã Dulce (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Foi o caso da aposentada Maria do Carmo Sales, 87 anos, que foi nesta quarta (15) buscar a carteirinha dela. “Irmã Dulce já era santa em vida. O trabalho que ela fazia, a luta que ela travava pelos pobres, a abdicação de tudo para viver ajudando o próximo, tudo isso já a fazia santa. Para mim, hoje, o Vaticano está só reforçando”, declarou.

No caso de fiéis que estão em outros estados, a relíquia de segundo grau é enviada pelos Correios. A de primeiro grau é mais restrita: contém um fragmento da pele de Irmã Dulce e o uso é exclusivo em ambientes religiosos.

Memorial cheio  Estar no mesmo ambiente frequentado por uma santa também fez com que o Memorial Irmã Dulce tivesse um movimento atípico. O livro de visitas, que fica na entrada do espaço, no Largo de Roma, em Salvador, logo sentiu a diferença.“Ontem, foram duas páginas preenchidas de assinaturas do livro de presença. Em período de baixa estação, como o de agora, em um dia, a gente chega à metade de uma página”, disse Carla.Na manhã desta quarta (15), um dia após o anúncio da canonização, o movimento seguiu intenso. O espaço se encheu de gente que veio até de fora de Salvador para pedir ou simplesmente para agradecer.

Foi o caso da professora Aridan Grave Machado, 66 anos. Ela veio de Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), para agradecer. “Há dez anos, tive um câncer nas costas e me curei graças a Irmã Dulce. Toda vez que eu pedia, ela aparecia projetada na minha frente. Fiquei curada e hoje vim agradecer”, contou.

Orações e selfies A Osid ainda não sabe mensurar a quantidade de pessoas que passaram na terça-feira (14) pelo Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, mas a manhã desta quarta (15) foi de muitas orações e selfies. Todos queriam tirar uma foto junto da imagem de Irmã Dulce posicionada no altar.

O motorista José Carlos Santos Sena, 39, veio de ainda mais longe que a professora Aridan. Ele e a família saíram da cidade de Cardeal da  Silva, no Nordeste da Bahia, e viajaram 162 quilômetros até a capital, Salvador. Era o momento de agradecer. “Somos de Cardeal da Silva e viemos aqui para agradecer e pedir saúde. Fiquei 21 dias internado aqui. Sou um homem de muita fé e acredito muito nela (Irmã Dulce). A canonização dela é uma forma de reafirmar sua santidade”, contou. O motorista José Carlos saiu de Cardeal da Silva, no Nordeste da Bahia, para agradecer (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) José Carlos está em tratamento da Doença de Still - uma enfermidade inflamatória sistêmica e rara, que causa episódios frequentes de febre. Ele,a  mulher, Railda Brito Santos, 40, a filha Rafaela Brito, 11, e a amiga Vera Lúcia Anjos dos Santos, 31, fizeram questão de uma selfie com a imagem da religiosa.

Quem também fez questão da foto foi a técnica de enfermagem Vânia Barbosa, 35. “Vim pedir à minha santa saúde, prosperidade para o Brasil, que passa por um momento político delicado, e aumentar a minha fé”, disse ela, após ajoelhar-se diante da imagem de Irmã Dulce.

Tour e compras Os turistas que chegam ao Memorial Irmã Dulce são levados para um tour pelo espaço, que possui mais de 800 peças, entre objetos pessoais, cartas, homenagens e um dos hábitos utilizados. O quarto onde Irmã Dulce dormia, o túmulo, que fica no Santuáro, e o espaço do galinheiro, onde as Obras Sociais começaram, são os preferidos.

A  notícia da canonização também impulsionou a venda de souvenirs. Um dos itens mais procurados, uma medalhinha de bordas douradas com a imagem da religiosa, no valor R$ 1,50,  acabou na terça e não havia chegado mais até a manhã de quarta-feira.

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Uma das funcionárias da loja não soube informar quantas unidades foram vendidas. No local há objetos de todos os preços. O mais caro é a imagem da Irmã Dulce em 80 centímetros (R$ 1.677).

O médico-cirurgião Adilson Couto, 41, levou para casa três terços – um para cada carro da família. “Tudo que consegui hoje foi graças a ela. Saúde, conquistas, emprego, tudo peço apoio a Dulce”, disse ele, que trabalha no Hospital Santo Antônio, da Osid. A museóloga Carla Silva, que trabalha na Assessoria de Memória e Cultura da Osid, disse que o dia foi cheio (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)