'Quanto mais rico, mais ridículo' (ou 'eles estão descontrolados')

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 28 de setembro de 2020 às 11:09

- Atualizado há um ano

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Eles, os ricos "branquíssimos", transmitem de geração para geração o costume de rir do jarro de água em formato de abacaxi, do protetor de crochê para o botijão de gás, das toalhas de mesa feitas de plástico e, evidentemente, dos nomes próprios compostos e abundantes de ípsilons, dáblius e cás dobrados. Do figurino barato, aí é que riem com vontade. Assim como dos hábitos, das festas, da música, do gestual.  Se for pobre, é risível. A maioria sequer jamais percebeu que, mesmo na pobreza, há diversidade. Pobre, para eles, é o adjetivo que serve para o imenso conjunto de pessoas que abarca desde os miseráveis até aqueles que não conseguem frequentar o [restaurante] Gero, por exemplo, como se fosse um boteco qualquer, ou seja, com naturalidade. E, se conseguem, não usam o traje adequado.  É muito provável que você faça parte desse imenso conjunto onde também estou. Dividimos espaço com os famintos com os remediados. Também com os aspirantes a ricos que imitam direitinho, mas jamais serão eles, porque podem até conseguir algum dinheiro, mas sempre faltará DNA. A "elite" brasileira, inclusive, nem inclui os artistas. Acham estes "curiosos", "espirituosos", também bastante "engraçados". Nossos ricos sempre foram cafonas e excludentes. Agora, parecem bastante desequilibrados. "Quanto mais rico, mais ridículo", já dizia minha avó emprestada. Tinha toda razão e eu só consegui mesmo rir ao ver aquele homem gritando "tive educação francesa e educação americana", na matéria do Fantástico. Alguma coisa aconteceu e eles desceram dos saltos. Agora, se esbofeteiam, gritam, espumam como cães raivosos, entre eles, diante de câmeras de celulares. Um "movimento social" que nasce no Sudeste, mas tende a se espalhar e uma hora chega aqui. Espero ter a calma do guarda municipal de Santos, diante do desembargador, que deu ataque de pelanca e ligou para "otoridades" porque não queria usar máscara pra andar na praia.  Sempre foram assim, será? Talvez, mas agora temos provas, é tudo registrado. Bendita inclusão digital e imagino patroas interceptando os celulares das "empregadas" uniformizadas para que não sejam flagrados os assédios, os excessos, os sopapos, os chiliques domésticos dos endinheirados.  Dos quais, até recentemente, só ouvíamos falar, contados à boca pequena pelas raras testemunhas amedrontadas. Mas que agora estão expostos nas ruas dos bairros chiquérrimos, nos restaurantes cinco estrelas onde pobre só entra pra servir e dizer "por aqui, senhor", de cabeça baixa. Olhe, eu confesso que estou achando engraçado. Finalmente, conhecemos as internas das mansões, das coberturas, dos triplex da Delfim Moreira. Vou fazer minha pipoca pra continuar assistindo o filme que se chama "sim, eles estão descontrolados".