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Jolivaldo Freitas
Publicado em 13 de agosto de 2019 às 13:00
- Atualizado há 2 anos
Não é de se acreditar que ainda neste século XXI que os iluministas vislumbravam como um futuro utópico de grandes realizações e evolução dos sentimentos, ainda tenha quem faça gente e animais virem a sofrer. Foi chocante a notícia de apreensão de 90 galos treinados para brigar, em uma rinha na Bahia. Os galos não puderam ser “ressocializados” e não se tinha onde coloca-los em proteção. Os galos foram abatidos depois de decisão judicial. Saíram da rinha para uma indústria de processamento. Sumiram do mapa.>
Sequer puderam servir como alimentos para os famélicos, pois com suas almas sujas os donos dos galos haviam entupido as aves com hormônios, antibióticos, bombas e sabe-se lá mais o quê. Neste caso embora dolorido, a morte dos pobres galos pelo menos serviu para livrá-los de uma vida de sofrimento em mãos de pessoas cruéis, desalmadas (falei lá em cima em almas?) e doentes da cabeça. Pois somente sendo débil para não sentir o sofrimento dos animais, sejam galos, cães, cavalos, gatos ou pássaros... Todos. Os galos estavam muito feridos.>
Existem teses de que a violência e a tortura de animais revelam um real desvio de personalidade e que a questão está atrelada à violência social. É íntima, dizem especialistas, a relação entre a criminalidade e os maus-tratos aos animais. Uma autora norte-americana, que não cito o nome por ter simplesmente esquecido e não achei, e peço desculpas -, depois de anos de pesquisa junto ao FBI, constatou que 80% dos assassinos começaram torturando animais.>
O homem coexiste desde sempre com os animais, notadamente com os cães. Com esses são mais de 20 mil anos. Os animais têm seus direitos assegurados em declaração universal desde a terceira quadra do século passado. Mas as pessoas doentes – e sabemos que são de todas as classes sociais e variados níveis de informações – insistem nos maus tratos. Baianos inteligentes e intelectualmente bem posicionados, criativos até – que prefiro não citar nomes – foram detidos anos passados numa rinha de galos na Boca do Rio.>
Em quase todos os municípios são realizadas vaquejadas, rodeios, touradas. Briga de galo. Briga de cães. Briga de pássaros. Engraçado e gratificante para o público, o espectador. Gratificante em termos de lucros para os realizadores. Gratificante em termos de valorização social para os criadores e produtores. Uma vergonha a frieza de todos. Um tom negativo para a humanidade.>
Nossa Constituição tem um artigo de número 225 que observa e declara em relação aos animais que: “Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações.>
As rinhas, as touradas, as vaquejadas, os sacrifícios, os jogos, as apostas – mesmo sob a égide de patrimônio cultural – deixam mesmo é aflorar os instintos violentos dos indivíduos. Desvio de personalidade. Perversão. Lembrar é bom que os psicopatas agem em relação às criaturas frágeis. Pois, neste século futurâmico, humanos, desumanos; todos os seres viventes, orgânicos, cientes e sencientes vivem mesmo é uma distopia.>
Jolivaldo Freitas é escritor e jornalista>
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores>