Questão do Centro de Convenções da Bahia é de 'fácil resolução', diz Rui

Dívida trabalhista pode emperrar venda do espaço; ação dura 11 anos

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  • Da Redação

Publicado em 5 de outubro de 2020 às 10:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arquivo CORREIO

O governador Rui Costa comentou nesta segunda-feira (5) a dívida trabalhista que ameaça a venda do antigo Centro de Convenções. Segundo ele, a negociação não deve ser emperrada por isso. "É uma questão de fácil resolução. Todo problema trabalhista o Estado assume e resolve. Aquela área, hoje, está no nome do Estado e ela será,sim, alienada" afirmou Rui, que visitou pela manhã as obras da Linha Azul. 

O Centro de Convenções está em processo de penhora pela Justiça para quitar uma dívida milionária com mais de 160 ex-funcionários da Bahiatursa. A ação já se arrasta há 11 anos, conrforme explica reportagem do CORREIO.

Segundo Rui, trata-se de uma situação complexa, mas que será resolvida, "O que acontece é que são áreas muito grandes. É diferente de você vender um lote pequeno de terreno. Uma área como essa demanda a montagem de um complexo com prédio residencial ou centro comercial é mais demorado", explicou.  

No momento, o esforço é para divulgar a área para atrair possíveis interessados. "Pra alguém fazer um investimento de R$ 300 milhões é necessário um estudo mais aprofundado pra saber o que ele pode fazer com aquela área. É por isso que estamos fazendo uma primeira etapa que consiste em publicizar e valorizar nacionalmente a venda dessa área para chamar a atenção de fundos de investimento e empreendedores para conhecer o local e, eventualmente, daqui alguns meses, fechar a venda"

Dívida trabalhista A dívida estadual, hoje, ultrapassa R$ 49 milhões. Ela existe porque o estado não cumpriu, de 1990 a 2008, o Plano de Cargos e Salários de mais de 160 funcionários da empresa. O acordo de promoções salariais estipulava um aumento de 6,03% a cada dois anos, o que não aconteceu.

O reajuste incidiria também sobre o FGTS, 13º e férias, e muitos dos funcionários que tinham direito foram admitidos na década de 1980 - ao menos 15 já morreram e os herdeiros aguardam a quantia.

Djalma Santana, 45 anos, é um desses herdeiros, junto com os seis irmãos. O pai deles, Jaime Santana, trabalhava para a Bahiatursa como motorista e morreu antes de ver o dinheiro cair na conta. “Meu pai trabalhou 35 anos na Bahiatursa e nunca recebeu aumento. Sempre enrolavam dizendo que iam aumentar o salário, mas foram tapeando. Tudo depende da lei dos homens e a gente tá esperando receber”, afirma.11 anos de tramitação O processo tramita na justiça desde 2009 e a Bahiatursa já foi condenada. Porém, a sentença não foi executada porque a Procuradoria Geral do Estado (PGE), que defende o estado, não concorda com o valor e pede novo cálculo.

Atualmente, o processo está em nova fase de perícia contábil, para definir quanto cada funcionário irá receber. É o terceiro cálculo, segundo o advogado que representa o Sindicato dos Empregados em Empresas de Turismo do Município de Salvador (SETS), Pedro Ferreira.

O atual perito contábil disse à reportagem que o novo valor está sob sigilo e que não foi finalizado. O advogado do sindicato, no entanto, afirmou que cada servidor deveria receber de R$ 300 mil a R$ 400 mil. O valor total pode ultrapassar R$ 50 milhões.

Celeridade O advogado do SETS explicou que a maioria dos trabalhadores é de idosos, por isso querem celeridade na execução da sentença. Eles tentam negociar um valor aceitável com o estado, para retirar a penhora - o prédio está arrestado, uma fase antes da penhora - e emitir os precatórios (que reconhecem dívida judicial do poder público).

Mas, na última audiência de mediação, em abril de 2018, o representante do estado não apareceu.“As pessoas querem resolver e ficar com o precatório, porque elas não podem ficar esperando”, cobra.O advogado do sindicato acredita que não haverá compradores para o imóvel enquanto a questão judicial não for resolvida.

A PGE informou que “ainda não houve decisão judicial sobre o valor do crédito dos reclamantes” e que “buscará reverter a decisão que determinou o arresto do Centro de Convenções, tendo em vista que se trata de bem público que, por força de lei, é impenhorável. O pagamento de qualquer crédito neste processo somente pode ser realizado por precatório”, diz nota.

O diretor da Secretaria da 34ª Vara do Trabalho de Salvador, Manoel Evangelista Neto, explicou à reportagem que, quando o processo de penhora foi iniciado, a Bahiatursa ainda era uma empresa de capital misto e não um bem público. A Bahiatursa disse que não podia se posicionar porque desde 2016 é superintendência e não empresa. 

Os processos são públicos, têm mais de 5 mil páginas, e podem ser consultados através dos números 00781.00.83.2008.5050014 e 0017900-16.2009.5.05.0034 no site do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT5).