Ray Baratino dança, bota o café dos meninos e dá aula de empoderamento; conheça

Jovem de Lauro de Freitas viralizou com vídeo que simula zig no boy: ‘Fica na paz e bom final de semana’

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  • Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2020 às 06:39

- Atualizado há um ano

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Raiana Farias, a Rainha do Baratino (Foto: Reprodução) Se Capitu fosse uma baiana desta geração, Raiana Farias Soares da Silva, 26 anos, seria uma excelente inspiração para Machado de Assis incrementar sua obra-prima. Digo isso baseado no que Ray Baratino – nome artístico adotado essa semana pela jovem – aprontou ao lado de duas primas e uma amiga, eternizando num vídeo viral uma dança oblíqua e um papo dissimulado com algum Bentinho não identificado.

Essa história começou há três fins de semana quando a mãe solo desempregada, dando um baratino na quarentena, resolveu chamar algumas amigas e primas para tomar uma e resenhar em sua rua. Sim, na porta da casa dela, na Avenida Brigadeiro Alberto Costa Matos, em Lauro de Freitas, e não num paredão como muita gente imaginou ou sugeriu.

“Não foi festa nenhuma. A gente fez um churrasco aqui, de tarde. Tavam eu, minhas primas e minhas amigas. Aí algumas foram embora e ficaram só uma amiga e duas primas. E foi aqui na frente da minha casa mesmo, não foi em festa, nem paredão, nem nada. A gente tava numa resenha, tava bebendo, aí surgiu o vídeo”, explica Ray à coluna Baianidades, ao citar o improviso que lhe renderá fama eterna.

Mas o que nossa Capitu de Lauro fez, afinal, para causar tanto rebuliço? Eis o dito na gravação, aqui com anotação simultânea: 

“Boa noite pra você também, pai. E aí, tá fazendo o quê? Ah... [Simulando interesse nos afazeres do boy]. Eu tô aqui botando o café dos meninos. [Há controvérsias]. Cadê você, rapaz, que até agora disse que ia me buscar? Eu tô te esperando até agora. [Mão na cabeça de preocupação #sqn com a desculpa esfarrapada]. Ah... Eu só lamento por você, viu, pai? [Linguagem corporal indicando o contrário]. Boa noite, viu? Fica na paz e bom final de semana”.

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Só lamentooo ????

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Empoderando Apesar dos votos sinceros da última frase, nossa heroína ficou eternamente responsável por aquilo que cativou no público: a técnica do disfarce.

O título de Rainha do Baratino – gíria baiana que em diferentes contextos poderia ser traduzida como enrolação, mentira, migué ou desculpa esfarrapada – fez com que os novíssimos fãs cobrassem dela orientações nesse sentido.

“Quando chegam as caixinhas de perguntas no meu Instagram sempre tem coisas do tipo: ‘me ensine a ser igual a você, pra também dar baratino’ ou ‘como eu faço pra esquecer o boy que me dá baratino?’, sempre tem essas coisas”, conta Ray, que não foge da responsabilidade de orientar algumas de suas seguidoras – já são mais de 50 mil pessoas curtindo a moça, boa parte entre os 500 mil que visualizaram o vídeo direto no perfil, embora tenha circulado em todo canto, de toda forma.“Eu sempre falo: 'se valorize, meu amor'. 'Se ele tá lhe dando baratino, dê baratino nele também. E se não quiser dar o baratino, dá o desprezo. Quando ele começar a te valorizar, aí que ele vai correr atrás de você, e vai ser essa hora que você não vai querer mais'”, ilustra Ray, que mesmo antes do sucesso já conjugava amor próprio com desapego. “Dia dos Namorados chegando e eu tô como? Na sofrência como ano passado, me afogando no álcool e eu sou minha própria companhia”, dizia numa postagem altiva, há seis semanas, vista agora em perspectiva.“Eu me sinto empoderada, porque mulher não pode ser besta, né? O homem mandar na mulher não pode. Os direitos são iguais e tudo tem que ser na base da conversa”, prega ela.Mistérios Ok, Ray, vários likes, mas já rolou, na real, algo parecido com o que você faz no vídeo? “Eu já dei baratino em namorado, como também já recebi vários, né? Mas nunca fiz nada parecido com aquilo”, garante a jovem, que não nega nem confirma se havia, de fato, algum paquera de ocasião do outro lado da linha naquele dia.

“O vídeo não é verdade e nem mentira. Porque as pessoas ficam me perguntando se eu tava falando com alguém no telefone ou não, e eu deixo no ar”, resume, enigmática.

Se não temos essa informação, pelo menos sabemos a responsável pela gravação: Paulinha, a amiga inimiga do fim. No entanto, a versão que viralizou, com a foto de um bróder, Ray não sabe de onde saiu.

“Na verdade, eu nem sei direito quem jogou na internet. Eu sei que primeiro foi pro meu status do WhatsApp, e minhas primas e amigas, todo mundo colocou. Como qualquer pessoa podia salvar o vídeo no status, a gente não sabe quem fez a montagem”, recorda ela, que contou com a ajuda do assessor de comunicação para criar uma versão menos problemática (sem a cara do cara).

Sim, Ray já tem até assessoria! A parceria é tão recente quanto seu sucesso, mas promete ser duradoura, como explica Alan Souza, 29. “Eu achei ela em uma página de fofoca. Logo após fiz o convite”, relembra o rapaz, que cuida da carreira da jovem dona de casa há menos de uma semana.

Apesar do pouco tempo, já conseguiu fazer duas ações promocionais com ela e já tem um “cronograma com várias empresas fechadas até o dia 3 de agosto”.

Além disso, vai precisar organizar o meio-de-campo na bola dividida entre a La Fúria, que anunciou uma versão do meme, e a banda O Metrô, que é a trilha sonora original do vídeo, com a sugestiva ‘Online e Metendo’, como indica uma página de fofoca. Foto: Divulgação Dança O talento de Ray para meter dança, evidenciado no vídeo viral, pode até parecer casual, mas não é. Quando tinha a idade de Capitu, foi selecionada para integrar uma banda de pagode. 

“Passei nos testes com as meninas e tudo, me apresentei duas vezes em uma festa, e na hora de fechar contrato pra viajar, complicou, porque eu tinha 14 anos. Eu sempre gostei de dançar. Só não fui pra frente porque eu era de menor. Aí eu peguei e desisti”, lamenta ela, que não desistiu coisa nenhuma. Continuou nutrindo o desejo mesmo depois de ter engravidado, cerca de dois anos depois.

Foi quando nasceu Cléver, o primogênito, hoje com 9 anos, e ela continuou lançando a quebradeira onde podia – dos paredões de Lauro às festas no Wet e no Parque de Exposições.

Veio depois o segundo menino pra tomar café: Raylan, hoje com 4 anos, e ela não perdeu o rebolado, nem mesmo quando o pai dos meninos, de quem já estava separada e afastada, faleceu – isso também há quatro anos.

O sucesso com a dança, finalmente, veio. Tudo bem, num vídeo casual e de forma inesperada até para Dona Neide e Seu José, pai e mãe de Ray, ambos de 50 anos. É com eles que a nossa estrela mora, junto com os dois filhos. 

“Meu pai e minha mãe, graças a Deus, não reclamaram. Eles sabem que eu sou uma boa filha. Cuido bem da casa quando eles estão trabalhando e cuido bem dos meninos. Agora, não tem quem não tenha aprontado quando era mais novo, né? Sobre o vídeo, minha mãe que ficou assustada com isso tudo e perguntou o que eu tava achando, mas eu disse que há males que vem para o bem”, analisa a jovem.

Ajudar a família Enquanto Dona Neide ajuda a compor a renda familiar trabalhando na casa de outra família, e Seu José acrescenta dividendos atuando num supermercado do bairro, Ray ajuda a aumentar o faturamento da casa embelezando a vizinhança. “Todo final de semana eu enrolo cabelo aqui na minha casa mesmo. A maioria é homem, pessoal conhecido aqui da rua onde eu moro”, conta ela sobre o serviço. O preço varia pelo tipo de cabelo, mas custa em média R$ 10. Passa de cinco clientes num “bom final de semana”.No cuidado das crianças e da casa, garante estar sempre nos conformes. “Quando eles [pais] chegam do trabalho tá tudo pronto, não precisam fazer nada”, explica nossa heroína, que agora deseja, com a fama repentina, garantir algum conforto aos meninos.

“Espero um patrocínio bom, e que eu possa ajudar cada vez mais. Dar as coisas melhores aos meus filhos, que várias vezes eu não tive a condição de dar, e quem sabe conseguir um bom emprego”, conclui a alegre Capitu baiana do século 21 que nunca dependeu de Bentinho pra nada.