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Paulo Leandro
Publicado em 4 de janeiro de 2020 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Quando Xangô pediu a Iansã para ir buscar no meio do mato a poção de fazer fogo, não sabia da curiosidade, presente de Hera a Pandora, na intenção de produzir, na primeira mulher, o desejo irresistível de xeretar – perturbação pioneira do patriarcado divinal. >
Nesta mistura inaudita de África com Grécia, Iansã bebeu metade do frasco e desde então, Xangô só faz fogo quando está com ela (mito da fidelidade); quanto à Pandora, abriu a caixa de onde saíram todos os 'bozos' – ideia de Zeus para destruir a humanidade. >
Fora este insano (olá, Jobs) cruzamento mitológico, se Xangô governa, Oyá Iansã cola toda charmosa de vermelho - embora exista a Iansã que veste branco. 2020 é da justiça e sua cor mais forte é a da fraternidade nas bandeiras da França e da Bahia. >
Xangô ama essa ‘patroa’ dos raios, trovões (viram no dia Primeiro?) e agora até granizos: a bola é vermelha! Não foi à toa que Pai Balbino do Aganju tirou o Ifá e deu Mãe Ana de Xangô, uma pedagoga, na sucessão de Stella na Casa de Força do Afonjá. >
São bons augúrios também para nosso ‘fútil-ball’, que é vermelho, a começar pelo Bahia. O time seria ‘Atlético Baiano’, nas cores azul (da Athlética) e preto (do Bahiano). Estes clubs afastaram-se, por racismo de classe, e os players excluídos fizeram outro team em 1931. >
Só que não curtiram a combinação (ia dar Grêmio, argh!) e trocaram o preto por vermelho. Com a percepção de coincidir as cores do Estado (azul, vermelho e branco), foi que o nome virou Sport Club Bahia. Já o Victoria ganhou o vermelho transmitido pelo remo em 1903. >
A ideia de ser verde-amarelo e chamar-se Brasileiro não prosperou por faltar farda com as cores da pátria. Daí, o time nasceu alvinegro, com o nome Victoria, até tornar-se rubro-negro por causa da regata, influência de um carioca, César Godinho Spínola, ex-remador do Flamengo. >
Neste ano de Xangô, nosso ‘fútil’ precisa da justiça do Rei para escapar do controle de grupos que fazem fortuna sugando nossas energias. Precisamos, oh Jah, de uma Operação Faroeste! >
Pela Copa do Brasil, o ‘red’ do Liverpool pinta nossos escudos. Na estreia, o Bahia pega o River do Piauí; o Bahia de Feira enfrenta o Luverdense do Mato Grosso; o Atlético de Alagoinhas desafia o Bota da Paraíba e o Vitória, o Imperatriz do Maranhão. >
Na Copa do Nordeste, o Bahia pega CRB, Sport, Fortaleza, Botafogo da Paraíba e River do Piauí, fora o alvinegro ABC e o Frei Paulistano de Sergipe. Já o Vitória tem Santa Cruz, Náutico e o América de Natal, na chave com Ceará, CSA, Confiança e Imperatriz. >
Seguindo esta senda cromático-mitológica, a adivinhação escarlate alcança o Campeonato Baiano com destaques para Vitória, Bahia de Feira, Atlético de Alagoinhas, Fluminense de Feira, Juazeirense e Bahia. >
Em vez da verdade monocromática dos charlatães, o perspectivismo nos permite ver por prismas diversos, como na capa de The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd: quanto mais interpretações, maior a riqueza cultural. >
Este ano, deixe o coração livre: o Rei quis assim junto à parceira fiel! Pode preparar a festa (eles amam festejar!): coma bolo de fogo toda quarta-feira e bote fé, 'mizifiu", que se seu time tiver vermelho no padrão, vai te dar muitas Vitórias neste 2020!>
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade>