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Bruno Wendel
Publicado em 16 de outubro de 2022 às 16:32
- Atualizado há 2 anos
A fila dobrava na bilheteria e se estendia além do Cine Metha Glauber Rocha, na Praça Castro Alves. A espera pelo tão cobiçado ingresso chagava à Avenida Sete, na manhã deste domingo (16). Mas, às 10h30, horário previsto para o início da sessão, os 630 lugares já tinham sido vendidos. Todos queriam ver a “A Mulher Rei”, uma história verídica, até então esquecida, sobre as Agojies, guerreiras que protegiam o reino africano de Dahomey nos anos 1800. Foi preciso abrir uma sessão extra às 13h. >
“É uma história de representatividade. Essas guerreiras inspiraram outras produções, como o exército de Dora Milaje que defende o trono do reino de Wakanda, no filme Pantera Negra (2018), e também as amazonas e a Mulher Maravilha, que, neste caso, as personagens foram retratadas nos desenhos e filmes por mulheres brancas. Então, ‘A Mulher Rei’ traz não só a força das pretas, como também é uma reparação quanto à usurpação da história do povo negro”, declarou a estudante de pedagogia Helen de Jesus Fonseca, 22, uma das primeiras pessoas que adquiriu o ingresso. A fila para comprar ingresso no Cine Metha Glauber Recho chegou à Avenida Sete (Foto: Paula Fróes/CORREIO) “A Mulher Rei” tem seu elenco majoritariamente feminino e negro, algo que é novidade para um filme de Hollywood. É protagonizado por uma das atrizes mais renomadas da atualidade, Viola Davis, que interpreta a general Nanisca. As Agojies lutam contra os colonizadores, tribos rivais e todos aqueles que tentam escravizá-las e destruírem suas terras em Dahomey, hoje o Benin. “Sei que vou gostar da história, porque tenho minha mãe de 94 anos e minhas tias como exemplo de luta. Todas foram guerreiras, mães que trabalharam sozinhas para sustentar os filhos”, disse a aposentada Dilma Vasconcelos, 68, em uma das quatro salas destinadas à exibição do longa. A aposentada Dilma Vasconcelos diz que a família é formada por mulheres guerreiras (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Já na entrada do cinema, a médica Ana Elisabeth Marback, 61, estava ansiosa para garantir a entrada. “Não vejo a hora de entrar e prestigiar o filme que só teve elogios dos críticos. Além disso, qualquer pessoa negra no Brasil se identifica com a produção, que traz a luta e a coragem dessas guerreiras. Isso porque a gente tem que se vestir com essas qualidades, caso contrário fica à margem da sociedade”, declarou a cardiologista. A cardiologista Ana Elisabeth Marback resalta a importância do filme para o povo negro (Foto: Paula Fróes/CORREIO) A estudante Beatriz Muniz, 23, era também mais uma entre muitos na fila quilométrica. Ela fez um paralelo entre a produção e a escravidão no Brasil. “Muitos negros trazidos para cá, eram reis, rainhas, guerreiros, que vieram anônimos para serem escravos e com isso tiveram suas memórias apagadas. O filme é importante que mostrar que naquela época havia uma sociedade aguerrida, como outras que também foram excluídas pela cultura branca”, disse ela. Ana Beatriz cita que muitos escravos trazidos ao Brasil foram reis, rainhas e guerreiros (Foto: Paula Fróes/CORREIO) O filme faz tanto sucesso, que teve gente que encarrou a fila para assisti-lo novamente. “É um trabalho emblemático porque mexe com a gente. A general mostra que é uma mulher forte, mas quando sozinha chora as suas fraquezas. Fiquei emocionado na primeira vez que vi, porque passei por situações semelhantes, e por isso quero ver de novo”, declarou o coordenador de projetos Vinícius de Oliveira, 30. Vinícius de Oliveira diz que o filme é emocionante e foi assistir pela segunda vez (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Ingressos O sucesso de público foi o mesmo do dia 9 (domingo) desse mês, quando os ingressos para o filme foram também vendidos por R$ 4. Segundo o sócio e idealizador do Cine Metha Glauber Rocha, Cláudio Marques, o valor promocional é uma forma de estimular o acesso à cultura e também estimular o hábito de ir ao cinema. “Até hoje, mesmo após à pandemia, as salas dos cinemas de todo o Brasil estão sendo ocupada os 50% de sua capacidade com a popularização do serviço de streaming”, disse ele. >
Marques pretende para o próximo domingo, 23, outra matinê de “A Mulher Rei”. “As pessoas estão procurando muito. E a ideia é trazer de volta as matinês aqui, com filmes infantis e também grandes produções, com preços promocionais”, declarou. >
O filme estrelado por Viola Davis dominou as bilheterias dos EUA em seu fim de semana de estreia, arrecadando US$ 19 milhões (cerca de R$ 100 milhões na cotação atual) em 3.765 cinemas – a estimativa era de US$ 12 milhões. O longa custou US$ 50 milhões para ser produzido, sem incluir as dezenas de milhões em despesas de marketing — incluindo uma estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto. >