Retrato da Bahia pelo censo de 1920

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  • Nelson Cadena

Publicado em 20 de agosto de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Em 1º de setembro de 1920, um século transcorrido, o IBGE (então denominado Departamento Nacional de Estatísticas) concluía o mais importante censo realizado desde 1872, quando o órgão passou a pesquisar a população brasileira. O censo de 1920 foi revolucionário na sua metodologia e um marco pela sua perspectiva de se criarem, doravante, novas variáveis de estudo. Inovou ao ampliar a sua abrangência territorial, estratificação do grau de instrução por idade e sexo, classificação das atividades profissionais e a inclusão de informações (que complementaram inquéritos anteriores realizados por outros órgãos) da agricultura e indústria com um mapeamento das usinas açucareiras e da aplicação industrial da eletricidade, assim como dos serviços básicos de iluminação pública, água e esgoto.

Outro mérito do censo de 1920, foi reconhecer o fracasso do censo  anterior, o de 1900, cujos procedimentos e metodologia foram colocados em questão, ainda hoje os pesquisadores recorrem às estatísticas dos censos de 1872 e 1890, mais confiáveis, o que resulta em um hiato de três décadas (1890—1920) sem um norte estatístico. Cabe aqui a ressalva de que o censo de 1872 mapeou a população livre e escrava (84 e 16% respectivamente), este último segmento a partir de informações, não da população pesquisada, mas de seus senhores. O que gera outros questionamentos.

Em 1920 mais de 95% dos municípios baianos careciam de luz elétrica, serviço este apenas disponível em Salvador__ que ainda iluminava parte da cidade com gás carbônico__ Barreiras, Conquista, Ilhéus, Itabuna, Nazaré, Santo Amaro e Valença. Os demais municípios iluminavam os seus espaços públicos com querosene, ou acetileno. A energia elétrica era gerada por motores hidráulicos e térmicos. A Usina “Bananeiras”, da Companhia Brasileira de Eletricidade, alimentada pelas águas do Paraguassu, era a maior do país entre as máquinas de combustão interna, potência de 30 mil cavalos de força.

O contingente de analfabetos no país, e na Bahia, naquele segundo decênio do século, continuava muito alto, sem maiores variáveis nos 30 anos do hiato referido, considerado o tempo cronológico. No caso específico de Salvador, a variação foi de 24% para 56% da população alfabetizada, mas no Estado o índice de analfabetismo permaneceu acima de 80%, exatos 82% de iletrados. Os municípios de Cariranha e Boipeba lideravam essa lamentável estatística com índices próximos de 90%. Chama a atenção os índices acima de 80% de analfabetos de municípios de certo porte como Feira de Santana, Barreiras, Guanambi, Caetité e Jeremoabo.

Itaparica ostentava os melhores índices de letrados do interior do Estado, com 44% de letrados. A se destacar, também Porto Seguro, Nazaré, Belmonte, Cairu e Canavieiras. Uma das razões para os altos índices de analfabetismo da Bahia era a falta de investimentos do poder público, um dos menores do país, apenas 4,6% do orçamento estadual, investido em instrução. O Rio de Janeiro investia 22%, Goiás 12%. Esses números comprometedores sustentaram o movimento em favor da educação, com a criação da Liga Baiana contra o Analfabetismo, em 1915, por Cosme de Farias e, a partir da década de 1920, o surgimento da Escola Nova. a obra revolucionária de Anísio Teixeira.

Cem anos depois do censo de 1920, constatamos que a Bahia ainda possui 13% de analfabetos, infelizmente lideramos as estatísticas brasileiras neste quesito. Será reduzido nas próximas duas décadas, não pela ação do poder público, mas pela morte de parcela expressiva deste contingente, composto na sua maioria (+ de 55%) por idosos. 

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras.