Revoluções por minuto

Por Aninha Franco

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Publicado em 29 de setembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Trump e Temer estiveram na ONU semana passada. Trump arrancou gargalhadas gerais falando de si mesmo como estadista e Temer arrancou gargalhadas locais garantindo que o Brasil está a maior das maravilhas. Mas hilariante mesmo para nós americanos, brasileiros, venezuelanos, nicaraguenses, foi ouvir o primeiro presidente cubano fora da família Castro, pós 1959, quando a família se instalou no poder, estrear denunciando o Brasil pelo “encarceramento com fins políticos do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva”, e defender as democracias da Venezuela e Nicarágua. Apesar de ofuscada pela eleição brasileira que está lacração, faca, grito e baixaria, a Assembleia da ONU promoveu as melhores piadas da semana.

Estive em Cuba em 2001, e conferi, pessoalmente, como o regime de Fidel Castro prezava a democracia. Quase fui detida numa praia de Varadero porque estava sem pulseirinha de turista, e a polícia me confundiu com uma cubana. Vi um cubano ser levado pela polícia porque conversou 10 minutos com meu companheiro de viagem sobre as novelas da Globo. E no que entendi a ditadura cubana, aderi imediatamente ao seu mercado negro comprando Coíbas a 10% do preço das lojas oficiais e comendo lagostas desviadas do estatismo em casas particulares.

No avião que nos levou da Cidade do México para Havana, os passageiros eram 98% do gênero masculino a caminho do turismo sexual cubano, descobrimos no fim da viagem, quando assistimos a um quiprocó que saiu da boate para o salão do hotel, porque estourou uma briga de machos por causa das trabalhadoras do sexo e o camarada gerente foi obrigado a chamar o camarada policial para abafar a ameaça às camaradas do sexo. As camaradas trabalhadoras eram graduadas em Medicina, Engenharia, Direito, mas se o único empregador era o Estado, não havia emprego para todo mundo.

O camareiro que carregou minhas malas e me informou como comprar livros de Lydia Cabrera em Havana foi habilitado pelo Estado cubano para Engenharia Espacial, e era um excelente funcionário estatal antes de 2001, mas com salário de 30 dólares mês e o famoso libreto da fome. Carregando malas seu salário era menor, mas as gorjetas se encarregavam de multiplicá-lo. Um anarquista sabe, sempre, que “Há governo? Sou contra!”, sejam governos de esquerda ou direita. Se forem democracias, ótimo, porque é possível ser contra sem censura, prisão ou tortura. Se forem autoritários deveriam evitar falar de democracia.

E quando me falam de revoluções, lembro de milhares de livros, mas fortemente do poema Para O Meu Amigo Revolucionário do totalmente revolucionário Ibsen: Tu dizes que eu me tornei conservador. Sou o que sempre fui. Não contes comigo para mover peões. Mas estarei ao teu lado se quiseres realmente virar o tabuleiro de xadrez. Só conheço uma revolução verdadeiramente radical, A única real e séria: Quero falar-te do dilúvio! Mesmo assim, até o diabo perdeu seus direitos. Tu bem sabes que Noé instaurou a ditadura. Refaçamos esta revolução de forma completa. Para isso, são necessários homens, e mesmo oradores, como tu! Deves procurar a água para a inundação! Eu fornecerei os elementos para explodir a arca.