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Da Redação
Publicado em 27 de abril de 2022 às 05:00
Tal qual a questão popular e filosófica, já superada, sobre as origens do ovo e da galinha, estão a hipertensão e as doenças renais. O dilema da causalidade que intriga de crianças a evolucionistas e criacionistas tem também sua versão na medicina! Ora causa, ora consequência, rins e pressão arterial estão, de fato, intrinsecamente relacionados.
Se por um lado, pressão alta é a principal causa de doença renal crônica - responsável por até 1/3 dos casos. Por outro, doença parenquimatosa dos rins é uma das principais etiologias de hipertensão secundária – ou seja, quando a pressão alta tem uma origem definida. As similaridades não param por aí. Hipertensão arterial e doença renal crônica são enfermidades insidiosas, crônicas, potencialmente fatais e com complicações sistêmicas. Não à toa, o justificado título, comum a ambas, de “assassina silenciosa”. No aparecimento de sinais e sintomas, provavelmente, se encontram em estágios mais avançados, quando o tratamento pode já não ser capaz de evitar complicações e desfechos negativos. Ainda, são epidemias globais relevantes. Estima-se que, no mundo, cerca de 1,3 bilhão e 700 milhões de pessoas, respectivamente, são hipertensas e têm doenças renais. Talvez por isso mereçam datas específicas para conscientização popular e de gestores públicos. Enquanto o Dia Mundial do Rim é celebrado em março, comemora-se anualmente o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial em 26 de abril. Instituído pela Lei nº 10.439/2002, a data tem o objetivo de informar sobre o diagnóstico preventivo e tratamento da doença. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o número de hipertensos entre 30 e 79 anos no mundo dobrou nos últimos 30 anos: de 650 milhões para cerca de 1,3 bilhão de indivíduos. No Brasil, estima-se que uma a cada quatro pessoas tenham o diagnóstico de hipertensão arterial. A magnitude e o impacto da hipertensão também merecem destaque. Foi a maior causa de morte no mundo em 2019, sendo o principal fator de risco associado a 10,4 milhões de óbitos, de acordo com relatório internacional recém-publicado. Todo indivíduo adulto deve medir a pressão arterial ao menos uma vez por ano. Caso já tenha a doença, o intervalo entre as aferições tende a ser menor, sendo a frequência definida pelo médico assistente, que pode ser um clínico, um cardiologista ou um nefrologista. A hipertensão não tem cura, mas, com acompanhamento adequado, pode ser controlada.
Embora já se reconheça que o ovo seja anterior à galinha, as origens da hipertensão e doença renal por vezes prescindem de uma resposta definitiva, com importância meramente teórica. Na prática, ambas - ou a que for primeiro diagnosticada - devem ser investigadas e prontamente tratadas. Para que a causa, seja uma ou outra, não leve às temidas consequências. Nem de uma, nem de outra.
José A. Moura Neto é médico nefrologista e presidente da Sociedade Baiana de Nefrologia