Ronaldinho Gaúcho é a nossa versão de Maradona

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  • Gabriel Galo

Publicado em 9 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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As discussões sobre quem seria o melhor jogador de futebol de todos os tempos normalmente desbancam para uma argumentação da ‘verdade’ de cada personagem. Enquanto Pelé e Edson são praticamente entidades apartadas, com o Pelé sempre tendo a preparação para expor o que fosse comercialmente aprazível, Maradona era o humano, um Deus do Olimpo cheio de defeitos e pronto para jogar tudo fora em nome dos prazeres da carne e opiniões polêmicas.

Bola por bola, números confrontados, não há dúvidas da superioridade de Pelé. Mas no ambiente das preferências pessoais, este em que nada pode fazer muito sentido, dada a interferência da experiência pessoal na predileção, Maradona se equivale porque muitos, além do efeito tempo mais próximo e imagens em HD, veem no astro argentino a simpatia pelas falhas que poderiam, por certo, ser nossas. Ademais, Maradona defende suas escolhas como naturais, não passíveis de arrependimentos, ciente da natureza humana de seu caminhar.

A carreira de Maradona foi curta, quando comparada a suas possibilidades, cortada ainda mais depois do triste episódio na Copa de 94, em que saiu de campo acompanhado pela agente do antidoping direto para a aposentadoria.

Pois se Pelé, em humanidade, passou longe de Maradona, o Brasil, por fim, cria o seu rival possível ao astro argentino.

Desconsideremos os tantos que se envolveram com bebidas e drogas ou que tomaram decisões estranhas. Para basear equivalência era necessário um craque incontestável, multi-campeão, que tivesse desperdiçado boa parte de sua carreira em prol da luxúria, sem fiapo de remorso, alheio aos centros do poder, mas de certa forma, usufruindo das benesses de sua trajetória.

Entra, pois, Ronaldinho Gaúcho.

A prisão do bruxo no Paraguai é apenas mais um capítulo de uma história que acumula rolês aleatórios, palavras descumpridas, sensação de incompletude por ter ficado abaixo de suas possibilidades.

Tudo o que envolve o imbróglio do passaporte fajuto na terra da falsificação - a isto chamemos de destino, ou recompensa cármica - é bizarro demais. A gravidade da acusação é deixada praticamente de lado, enquanto assistimos um show de horrores como se a esperar um desfecho digno de um passe mágico do Ronaldinho em seu auge, olhando prum lado, metendo do outro, e saindo para o abraço para encantamento dos espectadores, que vão se virar, perplexos, “olha o que ele fez! Olha o que ele fez!”

Ronaldinho é o futebol demasiadamente humano, representação da pura molecagem, que aparenta não saber exatamente a dimensão do que faz porque importa mais o prazer do momento. É uma espécie de libertação extrema, em que o talento é meio, não fim, e as vontades ditam as regras da convivência. É o talento na sua forma mais pura, praticamente intacto, que não se rendeu às boas normas pregadas por uma conformista noção de bom senso.

É o nosso herói possível para igualar, finalmente, Maradona. E que, assim como o seu espelho argentino, deve pagar pelos erros crassos para renascer na sequência como sobrenatural, como craque caído que se reergue porque, para sempre, será o bruxo dos campos cujos movimentos eram impossíveis de serem previstos.

Gabriel Galo é escritor