Saiba como dar preço em produtos e serviços para lucrar e não desvalorizar negócio

É fundamental levar em consideração os custos variáveis atrelados à venda

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 19 de outubro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Quando abriu uma loja física há quase dez anos, a design Madalena Silva, da Negrif, não sabia como definir os valores das peças de roupa que ela mesma desenhava, costurava e que, durante muito tempo, vendia apenas para amigos conhecidos e para uma clientela que a procurava em casa ou adquiria as peças nas sacolas que vendia em eventos.

“Quando abri a loja, achava que poderia cobrar o mesmo preço, não levava em consideração taxa de cartão, nada...Fui aprendendo na marra como precificar para garantir que meu negócio não falisse antes mesmo de se aprumar”, conta. As dificuldades em precificar produtos e serviços não é uma raridade no mundo dos negócios.  Insegurança, vergonha, desorganização financeira do empreendedor possuem um peso significativo na questão, que é muito mais complexa que simplesmente a aplicação da matemática pura e simples. Até aprender a dar o preço certo para as peças que desenhava e produzia,a  design Madalena Silva amargou alguns erros na loja Negrif. (Foto: Divulgação) De acordo com especialista em gestão financeira Raquel Santos, antes de definir quanto determinado produto ou serviço custará, é fundamental levar em consideração os custos variáveis atrelados à venda, a exemplo da comissão de vendedores, parceiros, impostos sobre o faturamento, taxas das formas de recebimento como cartão de crédito, entre outros. “Na maioria das vezes, esses valores são esquecidos na hora da precificação e assim o dinheiro some do caixa depois da venda realizada”, esclarece. Para exemplificar melhor essa situação, a financista fala que se um comerciante comprou uma peça por R$ 25,00 e vendeu por R$ 50,00, pode até acreditar que teve R$ 25,00 de lucro, mas desconsidera os custos variáveis e esquece que essa conta não fechará no final do mês.  Raquel Santos chama atenção para as diferenças entre o preço financeiro e o mercadalógico para que o empresário não tenha prejuízos nos negócios (Foto: Divulgação)  Mapa de Custos

Para não ter prejuízo, Raquel diz que é preciso mapear todos os custos variáveis atrelados às vendas e definir o lucro desejado com as peças. “O empreendedor precisa saber o mínimo que pode cobrar por cada produto ou serviço para não ter prejuízo financeiros e acabar pagando para trabalhar”, esclarece. 

A fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME Ana Fontes sugere que também se verifique como os concorrentes estão precificando e, atualmente, se haverá entrega em casa e se o serviço será taxado. “Um negócio é criado para dar lucro, além de possuir um propósito, mas é importante saber os custos da empresa: matéria prima, quanto custa a mão de obra e quanto será o valor do produto ou serviço, tendo em vista o preço dos concorrentes, além de considerar qual a margem acima dos custos e o quanto se espera de lucro”, explica, salientando que a equação tem que ser viável para todas as partes, empreendedor e consumidor.  

Segundo Raquel, é preciso dividir a questão em duas partes: o preço financeiro e o preço mercadológico. O preço financeiro é o valor mínimo que a empresa pode cobrar por um produto ou serviço sem prejuízos no caixa. O preço mercadológico é a definição do valor do produto ou serviço baseado no que os clientes e concorrentes aceitam como justo. “O preço financeiro está totalmente ligado às despesas e custos da empresa e ela precisa estar atenta para nunca vender abaixo desses parâmetros. Já o preço mercadológico é aquele que os clientes e concorrentes ditam quanto vale e quanto eles estão dispostos a pagar para consumir os produtos e serviços”, ensina.

Promoção para quê?

O cuidado também precisa estar presente na hora das promoções, que devem ser pensadas de forma estratégica, dependendo da época do ano e do mix de produtos do estabelecimento. “Do ponto de vista da gestão financeira, dê preferência a produtos estocados há muito tempo - estoque é dinheiro parado. Tente pelo menos recuperar o valor pago inicialmente pelo produto”, orienta Raquel, lembrando que o mês de novembro está chegando e com ele muitos negócios se preparam para a black friday. 

Ana Fontes lembra que antes de lançar uma promoção, o empreendedor deve levar em consideração o objetivo da iniciativa. É alcançar novos clientes? É fidelizar os que já estão com ele? É queima de estoque? É para aproveitar a época (no caso de empreendedores que trabalham com produtos sazonais). “É preciso observar sempre qual é o objetivo da redução de preço e tomar muito cuidado para não depreciar a marca ou o produto”, orienta. 

Para Ana, vale investir tempo e organização na administração financeira do negócio. “Use caderno, planilha de excel ou software de gestão...Pouco importa, mas anote tudo:  gastos, despesas, despesas bancárias, pró-labore e revisite com frequência essas anotações”, orienta, reforçando a importância de não misturar as contas pessoais com as contas do negócio. 

“Se você trabalha em casa, tente fazer uma separação, escolher horários para trabalhar, fazer conta de gás, de energia, internet, telefone, tudo isso. Separe o máximo que conseguir porque assim o negócio tem mais chances de dar certo e apresentar resultados. E fique atenta ao fluxo de caixa ele é essencial para sua empresa”, finaliza. 

Finanças equilibradas:

1. Não misture as contas pessoais com as contas do negócio;2. Precifique corretamente seus produtos e serviços e para isso, considere: . se é loja física (se paga aluguel e demais contas) ou só loja virtual e home office;  . se tem empregados;  . a capacidade de produção mensal do produto;  . quais resultados financeiros espera ter mensalmente.3. Não perca o controle do dinheiro da empresa para evitar a situação do "vende, vende, vende, mas nunca vê a cor do dinheiro”.