Saiba quem é o ambulante que virou testemunha da prisão de Geddel

Vendedor estava indo trabalhar quando foi solicitado pela PF para acompanhar a prisão

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  • Bruno Wendel

Publicado em 8 de setembro de 2017 às 15:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Os olhos de Marcos de Jesus Santos, 36 anos, viram o que muitas pessoas tiveram curiosidade de ver. Enquanto ia trabalhar na manhã desta sexta-feira (8), o vendedor ambulante, que tinha como uniforme uma camiseta do Vitória, virou testemunha da prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, realizada pela Polícia Federal, no bairro do Chame-Chame, em Salvador, onde o político mora.

Marcos foi uma das duas pessoas escolhidas de forma aleatória pela PF e levadas como testemunhas do cumprimento dos mandados de prisão, busca e apreensão dos federais no 9º andar do edifício de luxo Pedra do Valle, na Rua Plínio Moscoso, onde Geddel cumpria prisão domiciliar. A outra testemunha foi um porteiro do prédio que não teve o nome revelado.

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O ambulante tem uma banca com bebidas (cerveja, refrigerante, água e suco) em frente ao Pedra do Valle. Ele ainda começava a dar os primeiros passos para subir a ladeira, que é paralela à Avenida Centenário, quando foi cercado pelos federais a 35 metros de seu ponto de trabalho.“Foi um susto e tanto. Na hora, pensei: ‘trabalho duro para sustentar minha família, levo uma vida honesta e o que eles querem comigo?’ Mas aí me perguntaram se eu trabalhava na região, disse que sim, e me pediram para simplesmente acompanhá-los, que eu seria apenas uma testemunha. Não tive opção”, contou Marcos. Até às 6h desta sexta, Marcos estava longe de qualquer popularidade. Mas, depois que entrou no prédio junto com os federais, virou alvo dos jornalistas que faziam campana em frente à residência do ex-ministro. Todos queriam saber o que ele viu lá dentro. 

Ao CORREIO, o ambulante relatou que foi conduzido em silêncio absoluto, quebrado somente quando os policiais se identificaram na portaria do condomínio e apresentaram os mandados da Justiça. Na hora, um dos porteiros também foi levado como a segunda testemunha.    Vendendor ambulante foi usado como testemunha para a ação da PF no imóvel de Geddel  (Foto: Marina Silva/CORREIO)   Apartamento Marcos disse que quem os recebeu no 9º andar – o edifício é um por pavimento – foi o próprio Geddel.“Ele não esperava. Dava pra ver na cara dele que não esperava uma visita naquela hora”, conta.Entre as pessoas que estavam no imóvel, a mãe do político, Marluce Quadros Vieira Lima.

Segundo o vendedor ambulante, os federais vasculharam tudo. “Geddel e outras pessoas da casa ficavam afastadas enquanto os policiais mexiam em tudo. Entraram na sala, cozinha, quartos, banheiros. Tudo foi revirado. Levaram muitos documentos e um HD (dispositivo de armazenamento de dados)”, disse Marcos. A revista durou pouco mais de uma hora e meia.

Medo Por volta das 7h10, uma viatura da PF deixou o edifício. Vestindo uma camisa branca e escondendo o rosto com uma das mãos, o ex-ministro estava no banco de trás do carro e era levado rumo ao Aeroporto Internacional de Salvador, de onde embarcou para Brasília. 

Quinze minutos depois, outra viatura deixou o prédio. “Os policiais saíram com um malote”, contou a testemunha, que também deixou o local. Marcos disse que foi proibido pelos federais de dar detalhes sobre o que aconteceu no apartamento. “Sinto muito, não posso falar mais nada. Estou proibido de falar sobre o assunto”, declarou. 

O ilustre incidental disse que seus olhos e ouvidos testemunharam muito além do que relatou ao CORREIO, mas foi advertido pelos federais. “Eles falaram que poderia sofrer consequências se vazar algo importante. Um deles me disse: ‘se sair alguma coisa daqui, saberemos que foi você ou o porteiro’. Por isso, mais do que isso, não posso falar”, continuou ele, que a todo momento era abordado por jornalistas que faziam plantão na porta do edifício.

De acordo com a assessoria da PF, a arrolação do vendedor ambulante e do porteiro como testemunhas no processo está prevista no artigo 245 do Código de Processo Penal (CPP). O item dispõe sobre os procedimentos obrigatórios para as buscas domiciliares. O parágrafo sétimo prevê que "finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais". O artigo 202 do CPP ainda dispõe que "toda pessoa poderá ser testemunha".   Dinheiro encontrado em imóvel no bairro da Graça (Foto: Polícia Federal/Divulgação)   Rotina A prisão do ex-ministro movimentou a Rua Plínio Moscoso. Quem passava em frente ao edifício Pedra do Valle queria saber o que estava acontecendo, devido à presença dos policiais federais e jornalistas. 

“É dose! Queria um toquinho daquele dinheiro para abrir um negócio”, comentou a doméstica Madalena Dias, 49, fazendo referência às mais de dez caixas e malas com R$ 51 milhões em espécie flagradas pela PF na terça-feira (5) em um imóvel que, segundo as investigações, seria usado pelo ex-ministro para esconder as notas, no bairro da Graça. 

Buscas na casa da mãe  O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara em Brasília, autorizou a busca e apreensão em três endereços nesta sexta (8), entre eles a casa da mãe de Geddel. Ao pedir a busca, a PF alegou que "há grande probabilidade" de que nos endereços existam documentos que comprovem a prática de crime e "inclusive, mais dinheiro de origem ilícita".

A PF foi pela manhã na casa de Geddel, e de Gustavo Ferraz - ambos presos preventivamente - e da mãe do ex-ministro, que mora no mesmo prédio do filho. Por essa razão, a polícia considerou que "não se descarta que o mesmo possa utilizar a residência da mãe para ocultar documentos e valores decorrentes e sua empreitada criminosa, retirando-os do seu apartamento, mas se encontrando em local de pronto acesso".