Salvador, “15 minutos do mar”

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  • Eduardo Athayde

Publicado em 25 de junho de 2021 às 13:32

- Atualizado há um ano

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Em arguto artigo intitulado “Salvador, cidade de 15 minutos”, publicado no Correio, Waldeck Ornelas, reconhecido especialista em planejamento urbano-regional, afirmou que “as cidades estão sendo transformadas para que moradia, trabalho, consumo e lazer possam ocorrer a um raio de 15 minutos a pé”. Tem toda razão.

Ecossistemas das chamadas ‘smart cities’, cidades inteligentes, que se multiplicam pelo mundo, se reunirão em setembro próximo, em São Paulo. Lá Salvador poderá mostrar um status único e ser destaque de interesse global, o de ‘Smart Capital da Amazônia Azul’. Aquinhoada pela mãe natureza com 66 quilômetros de orla marítima, hoje urbanizada, e com belas praias, Salvador tem, em média, 15 km de distância transversal da costa oceânica à borda interna da baía. Dos 693 km² da área total do município de Salvador (IBGE), apenas 343 km² estão em território seco e os outros 350 km² no território molhado da Baía de Todos os Santos (BTS). O ambiente de infovia municipal, com rede de comunicação de dados multisserviços e soluções de inclusão sócio-digital, organizado pela prefeitura, precisa incluir o território molhado.

O prefeito Bruno Reis, em recente visita ao novo Museu do Mar - cem por cento construído com recursos próprios, no Largo de Santo Antônio além do Carmo, e doado ao povo da Bahia - foi recebido pelo engenheiro naval e fundador do museu, Aleixo Belov, único baiano (nascido na Ucrânia) a empunhar as bandeiras da Bahia, e do Brasil, cinco vezes ao redor do mundo. A Bruno foi mostrada a importância de “conectar as pessoas do mar da Bahia, com as pessoas dos mares do mundo”. Ninguém tem mais autoridade do que Belov para dar este conselho ao alcaide que, impressionado com o que viu e ouviu, garantiu apoio para a divulgação e ativação do espaço. O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), dessa cidade inteligente, tem um novo desafio - a urbe molhada. Grande parte da população está a 15 minutos do mar.

Declarada pela bicentenária Associação Comercial da Bahia, conjuntamente com seu útero, a Baía de Todos os Santos, como Capital da Amazônia Azul, Salvador, para assumir o status de Cidade Inteligente, precisa abraçar o mar. Nessa Década dos Oceanos 2021-2030 (UNESCO), o Museu do Mar será um ponto conectado em rede com outros centros de pesquisa do mar do mundo. Já sintonizados, o Sebrae, capacitando o exército de micro e pequenas empresas que dão suporte às grandes corporações no ambiente marinho; e o Senai-Cimatec, um dos mais importantes centros de pesquisa e educação tecnológica do Brasil, reconhecido internacionalmente, e a Marinha; juntam esforços para criar o Centro Nacional de Economia do Mar. 

“É preciso, sem medo, abrir as portas para a transformação urbana”, ensina Ornelas. O povo de Salvador também pode ‘andar’ pelo mar. O transporte que vem do subúrbio pelo território seco (BRT) para o bairro do Comercio, também pode ser feito bordejando a orla, no território molhado, com embarcações, estações e lanchas rápidas para 200 passageiros, fechadas e com ar condicionado, operado via internet das coisas (IoT) e com tempos e movimentos cronometrados. Usando tecnologias transferidas de inovadoras cidades marítimas do mundo, farão linhas São Tomé de Paripe-Periperi-Comercio, via náutica, com roteiros e paradas em Plataforma, Ribeira e no Bonfim - em 15 minutos.

“Salvador tem 170 bairros. Que tal começarmos, cada um, a fazer uma análise do que temos e do que nos falta na proximidade de nossas casas?”, observa Waldeck. Tem razão. Com a ponte Salvador-Itaparica próxima das nossas casas, as áreas conurbadas sofrerão impactos na mobilidade, no valor imobiliário e na paisagem. Para ser um equipamento de uma ‘smart city’ a ponte, além de ser uma usina solar, eólica e maremotriz, precisará ter áreas para bicicletas e para pedestres – pessoas poderão ir a pé para Itaparica em 15 minutos.

O cheiro, as festas, o sabor e os recursos do mar, seduzem, abastecem e unem a todos. As bênçãos do Senhor do Bonfim e do Hospital da Santa Dulce - ambos a poucos metros do mar; e de Iemanjá, a Rainha do Mar; tudo isso está nas proximidades das nossas casas. Miscigenado com nativos, o povo baiano também veio do além-mar, do Velho Mundo e, principalmente, da Mãe África – somos um povo do mar. Jamais podemos esquecer disso quando fizermos as nossas análises.

Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil