Salvador pode sediar evento do movimento slow food

A cidade é avaliada para receber o Terra Madre Brasil em 2020

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  • Georgina Maynart

Publicado em 26 de setembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: André Frutuôso)

Salvador poderá sediar em 2020 os eventos Terra Madre Brasil. A proposta começou a ser discutida em Turim, na Itália, durante a 12ª edição do Terra Madre Internacional, que terminou nesta segunda-feira (24/9). O evento, que acontece a cada dois anos na cidade italiana, reuniu nesta edição participantes de mais de 160 países. São profissionais de diversas áreas, como pesquisadores, cientistas, produtores rurais e chefs de cozinha adeptos do movimento Slow Food, que defende a produção agrícola sustentável, o acesso de todos a alimentos de qualidade, a valorização do produtor rural e o local onde são cultivados.

A candidatura de Salvador ainda está em fase de negociação e será avaliada, mas foi bem recebida por representantes do movimento no Brasil. "É com muita alegria que a gente recebeu esta informação hoje, do interesse de candidatura para recepcionar o Terra Madre Brasil, considerando todos os avanços que o estado vem dando as cooperativas, aos agricultores familiares, inclusive nos produtos que já estão identificados na Arca do Gosto e na Fortaleza do Slow Food. O Terra Madre quer dizer Terra Mãe, então nada melhor do que acontecer na Bahia, considerando que é a terra mãe por ter sido a primeira capital do Brasil", disse Revecca Tapie, coordenadora do Slow Food Nordeste.

As outras duas edições do Terra Madre Brasil foram realizadas em Brasília, nos anos de 2007 e 2010. Durante o evento são discutidos assuntos como agricultura orgânica, desperdício e segurança alimentar, alimentação hospitalar, mudanças climáticas, saúde e espiritualidade.

Sabores da Bahia

A Bahia marcou forte e saborosa presença na edição do Terra Madre 2018. Diversas cooperativas agrícolas levaram produtos que representam muitos dos sabores peculiares da Bahia e simbolizam a biodiversidade dos territórios produtivos do estado. Durante os cinco dias do evento, teve de tudo: produtos feitos com umbu, licuri, mel das abelhas sem ferrão, maracujá da caatinga, cacau cabruca, entre outros alimentos. Produtores apresentaram produtos e sabores da Bahia em Turim (Foto: André Frutuôso)

Para muitos agricultores foi a oportunidade de mostrar o potencial da agricultura familiar da Bahia. "Nossa participação no Terra Madre 2018 foi muito importante pela troca de conhecimento em torno do movimento de alimento do mundo. Trazer o sabor da caatinga, do umbu para o Terra Madre, foi muito importante. O evento é grandioso, tem cultura e experiências de todas as partes do mundo e reforça a importância de manter as comunidades organizadas em torno do processo de alimento justo e limpo", avalia Denise Cardoso, presidente da Coopercuc, Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá, no norte da Bahia. A Coopercuc tem 271 cooperados que produzem doces, geléias e bebidas derivadas de frutas do sertão, como umbu, manga e maracujá da caatinga.

Os agricultores ligados a Cooperativa de Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves, no Baixo Sul, que já produzem frutas como abacaxi e banana, além de alimentos beneficiados como a farinha de mandioca, levaram para o evento novidades como a banana chip. "Foi a primeira vez que a gente trouxe para um evento internacional os produtos mais novos da cooperativa que são as bananas da terra chips. A receptividade do público foi muito boa. A partir disso nós vamos começar a trabalhar na adaptação do produto para atender ao mercado externo. Estamos muito felizes", disse Ailton Pereira, presidente da Coopatan, que tem 330 integrantes.

As cooperativas participaram do evento por meio de uma parceria com a Companhia de Desenvolvimento e Ação regional da Bahia (CAR), ligada à Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR). “Nosso intuito foi apresentar as estratégias das alianças produtivas entre as cooperativas da agricultura familiar e o setor empresarial. A gente vai estreitar a relação com o Slow Food para que várias cooperativas da Bahia possam receber a assistência da organização, principalmente os produtos tidos como Fortalezas”, afirmou Wilson Dias, diretor-presidente da CAR. 

Além da exposição e venda dos produtos de diversos territórios, a Bahia foi representada também por vários chefs de cozinha, membros da Aliança de Cozinheiros Slow Food em Salvador. Eles participaram do Laboratório do Gosto, apresentando receitas com ingredientes especiais. Um dos pratos foi apresentado pelos chefs Caco Marinho e Fabrício Lemos. Eles prepararam para o público uma Moqueca com azeite de dendê de pilão e leite de licuri Chef Caco Monteiro apresentou na feira uma moqueca feita de azeite de dendê de pilão e leite licuri (Foto: André Frutuôso)

Movimento começou na Itália

O Slow Food foi fundado em 1986 por Carlo Petrini, e se tornou uma associação internacional sem fins lucrativos em 1989. O movimento tem sede na Itália, mas opera junto com organizações internacionais como a FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Atualmente, o Slow Food tem mais de cem mil membros em vários países do mundo, entre eles Alemanha, Suíça, Estados Unidos, França, Reino Unido, Brasil e Japão. Conta ainda com apoiadores em outros 150 países.

Segundo os organizadores, a forma como os alimentos são produzidos tem profunda influência no ambiente ao redor, na paisagem, na diversidade e nas tradições. A principal filosofia do movimento é incentivar a utilização de produtos artesanais de qualidade especial, produzidos com respeito ao meio ambiente e as pessoas responsáveis pela produçã