Salvador recebe poucos turistas chineses

Anvisa tem protocolo para monitorar navios e aviões

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 05:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: justin Tallis/AFP

O histórico de procura de turistas chineses por Salvador ainda é baixo. Em 2019, eles representaram cerca de 0,2% na fatia total de visitantes estrangeiros na cidade, número que representa 2 mil pessoas, segundo dados da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Setur). 

De acordo com o Ministério do Turismo (MTur), a China é o país que mais emite turistas para o mundo, com 141 milhões deles viajando para o exterior todos os anos. Dados do ministério estimam que cerca de 60 mil chineses visitam o Brasil anualmente, tendo São Paulo e Rio de Janeiro como principais destinos.

Em conversa com André Leal, diretor de intercâmbios voluntários do escritório da Aiesec em Salvador, ele informou que a organização — uma das maiores do mundo em oferta de trabalho voluntário — já não opera com a China há bastante tempo em Salvador. “Não temos enviado pessoas para fazer intercâmbio lá e nem temos recebido intercambistas de origem chinesa devido a questões diplomáticas e dificuldades com vistos”, explicou.

Poucos cuidados

Comerciante da cidade de Embu das Artes, em São Paulo, Antônia Cruz Marinho, de 61 anos, veio a Salvador ontem para passar 15 dias. Apesar de estar ciente do surto de coronavírus pelo mundo, ela conta que não tem tomado o cuidado necessário durante as viagens."Eu estou ciente do vírus, mas confesso que não tenho tomado muito cuidado em minhas viagens, como usar máscara ou álcool gel. Mas, pelo que vi nas últimas notícias nos últimos dias, vou precisar me cuidar mais, ficar mais atenta para evitar qualquer contato", contou.Já o aposentado e morador de Salvador, Antônio Sousa, 62, aguardava o embarque para Fortaleza, no Ceará. Mesmo sabendo que já houve casos suspeitos do vírus no Brasil, ele defende que não há motivo para pavor. "Acho válido o cuidado que já estão tomando no país contra o risco de contágio da doença. Há sempre um pavor quando se viaja porque nos aeroportos se encontram pessoas de diferentes partes do mundo. Não tenho medo, mas pretendo ter cuidado, principalmente ao pousar em outro aeroporto", contou.

Engenheiro de Belo Horizonte (MG), Mário Moura, 47, está em viagem com a família há oito dias em Salvador. Ele, que diz não ter medo de contágio pelo coronavírus, acredita que a doença não passa de mais uma gripe como outra qualquer. "Acho que é um surto psicológico. Para mim, é uma gripe como outra qualquer, como outras que já tiveram no mundo e o medo era o mesmo. Eu, particularmente, se estivesse indo para fora do Brasil, não teria esse medo. Para mim é uma gripe normal mesmo", afirmou.

Navios

Ontem, dois navios de carga com bandeiras da China estavam atracados no Porto de Salvador, o Cosco Shipping J.XIU, com peças, e o Saga Fantasy, com celulose. Apesar de terem bandeiras do país asiático, isso não significa que as embarcações vieram de lá. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é obrigatório que cada capitão informe anormalidades de saúde a bordo.

Se for confirmada a existência de caso suspeito, nenhum tripulante pode desembarcar e o navio não recebe autorização para operar. A partir daí, a vigilância epidemiológica sobe no navio e inspeciona a embarcação e o paciente. Mantida a suspeita, a pessoa é removida para um hospital de referência e a Anvisa investiga os possíveis contatos do paciente com outros tripulantes.

Em aeronaves o procedimento é basicamente o mesmo. Se um caso suspeito for notificado, o avião pode até pousar, mas não é permitido o desembarque. A partir daí, a Anvisa aciona os órgãos responsáveis e vai a bordo em conjunto com o serviço médico e vigilância do município para fazer a avaliação do paciente. 

Se o médico descartar o caso a bordo, o desembarque dos passageiros é liberado. Se não, o passageiro doente vai para o hospital. Depois, todos os demais passageiros seguem para uma entrevista com a vigilância para que possam ser monitorados, caso a suspeita seja confirmada posteriormente. Além disso, a Anvisa monitora o trabalho de desinfecção da aeronave, descarte de resíduos e descarte de efluentes. Até o momento, não há recomendação de restrições de viagem.

Saiba mais sobre o coronavírusComo surgiu: A origem do surto ainda não está clara, mas acredita-se que a fonte primária do vírus seja em um mercado de frutos do mar e animais vivos em Wuhan, na China. O agente foi identificado neste país após notificações de casos de pneumonia de causa desconhecida no final de dezembro do ano passado. 

Sintomas: Febre alta, tosse e dificuldade de respiras, mas também podem existir casos assintomáticos

Transmissão: De pessoa para pessoa pelo ar através de secreções aéreas da pessoa infectada ou pelo contato pessoal com esses fluidos. Atenção para profissionais de saúde, membros da família ou outras pessoas que tenham permanecido no mesmo local que um paciente doente. Ainda não está clara a facilidade com que o vírus é transmitido.

Período de incubação: Até duas semanas. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) alerta que o coronavírus pode ser transmitido de animais para humanos  e de humanos para humanos. No primeiro caso, já foram registrados casos com gatos selvagens, dromedários, morcegos, aves, porcos, macacos, cães e roedores.

Tratamento: Indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos. Nos casos de maior gravidade com pneumonia e insuficiência respiratória, podem ser necessários suplemento de oxigênio e ventilação mecânica.

Vacina: Como a doença é nova, não há vacina até o momento.*Fonte: Sociedade Brasileira de Infectologia e Anvisa

Veja como reduzir o risco de infecção

1. Evitar contato próximo com pessoas com infecções respiratórias agudas; 2. Lavar frequentemente as mãos antes de se alimentar e, especialmente, após contato direto com pessoas doentes; 3. Usar lenço descartável para higiene nasal; 4. Cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir; 5. Evitar tocar nas mucosas dos olhos; 6. Higienizar as mãos após tossir ou espirrar; 7. Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; 8. Manter os ambientes bem ventilados; 9. Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações

Outras epidemias que alarmaram o mundo

>>SARS (2003) - A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) é uma doença respiratória viral causada por um subtipo de coronavírus. Entre 2003 e 2004, a doença iniciou um surto na China e atingiu 30 países em seis meses. Um caso importado chegou a ser confirnado em uma menina de quatro anos, no Brasil. Em todo o mundo, foram mais de 900 mortes.

>>Gripe Suína (2009) - Pandemia mundial, a gripe A H1N1 ficou conhecida como gripe suína e atingiu todos os seis continentes. Os primeiros casos ocorreram no México e logo a doença chegou também ao Brasil, deixando 627 pessoas contaminadas. Outros 53 países, como Japão, Inglaterra, Chile, Panamá, EUA, Canadá e Costa Rica registraram casos de infecção. Era comum a disponibilização de álcool em gel em diversos estabelecimentos do país. Em todo o mundo, cerca de 18 mil pessoas morreram.

>>Ebola (2014) - O vírus ebola já era conhecido desde 1976, mas foi entre 2014 e 2016 que a África Ocidental viveu surto que iniciou no Guiné e se estendeu para países como Serra Leoa e Libéria. De acordo com os Médicos Sem Fronteiras, que atendiam essa região na época, cerca de 28,7 mil pessoas foram infectadas e 11,3 mil homens, mulheres e crianças morreram vítima de febre hemorrágica causada pelo vírus.

*Colaborou Eduardo Dias