Salvador tem recorde de pessoas internadas por covid-19 desde o início da pandemia 

São 533 pacientes nas UTIs da capital, maior número absoluto desde março  

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  • Marcela Vilar

Publicado em 8 de março de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/ CORREIO

Com medidas restritivas desde 26 de fevereiro para conter o novo coronavírus, Salvador registra o maior número de internamentos por covid-19 desde o início da pandemia. São 533 pessoas internadas na capital baiana, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). É o sexto dia seguido que o município tem mais de 500 internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Salvador atingiu essa marca 15 vezes desde março: 6 em 2020 e nove em 2021.

Em 2020, o maior número foi registrado em 2 de agosto, quando Salvador tinha 516 pessoas nas UTIs para covid. Naquele dia, a cidade dispunha de 692 leitos – somando o quantitativo da prefeitura, governo do estado e rede privada – e a taxa de ocupação chegava a 74%. Hoje, temos 639 leitos ativos, com 533 pessoas nas UTIs, ou seja, a taxa está em 83%. O maior percentual de ocupação esse ano foi de 85%, atingido nos dias 28 de fevereiro, 2 e 5 de março. O recorde de ocupação foi em 2 de maio de 2020, dia em que a taxa atingiu 90%. Contudo, na época, Salvador só tinha 338 leitos disponíveis (veja mais dados abaixo).

A diretora de regulação, controle e avaliação da SMS, Daniela Alcântara, não se surpreende com o número, pior do que qualquer um já registrado. “Dentro do que a gente vem acompanhando, termina sendo o esperado. Com a demanda de internamentos e mais leitos, temos mais possibilidade de ter pacientes e a gente está em uma curva de crescimento que na primeira onda não chegou a esse volume”, avalia.  

A margem de pelo menos 15% na taxa de ocupação é imprescindível para poder manter o giro de leitos, cenário que está pior nos hospitais privados, segundo ela. “Precisa ter essa margem confortável para girar os leitos, se não, trava. A rede privada vem em uma situação mais desconfortável que a rede pública, tanto que eles vêm pedindo apoio, quando alcançam taxa de ocupação de 100%. Geralmente eles já estão com um backup de apoio de paciente internado cheio e a rede pública vem dando o suporte justamente pela possibilidade maior de abrir leitos, o que não acontece na rede privada, já que eles têm o espaço limitado”, explica Daniela.  

A prefeitura ainda pretende ampliar, nos próximos dias, a quantidade leitos de UTI. Serão mais 100 no Hospital Salvador e 50 em Itapuã. O número de leitos ofertados pela prefeitura já é maior que o pico de oferta registrado na primeira onda da covid-19. O governo do estado também busca a ampliação. No entanto, é preciso conter a quantidade de casos.“É uma situação limítrofe. Vai chegar um momento que esses casos não reduzirão e a gente não vai ter mais pra onde crescer de leitos porque existe limitação de estrutura e de recursos humanos, que é o que mais a gente sente, porque as pessoas estão esgotadas e não querem mais ficar com dois, três empregos nesse ritmo, é cansativo pra todo mundo. Precisamos limitar a demanda", pondera Daniela. Entre 6h da manhã de sábado e 6h da manhã de domingo, foram 197 solicitações de regulação recebidas pela SMS, um recorde de pedidos. O máximo, na primeira onda, segundo a diretora de regulação, foi de 130 – a média era de 80 por dia. Desse total de 197 pedidos, 96 aguardavam por um leito de covid-19, 40 pessoas n fila de espera da UTI. Já nas últimas 24h, a secretaria recebeu 149 solicitações e 85 ainda esperam na fila, sendo 44 por leito de UTI de covid. Ou seja, 46 pessoas foram reguladas, sendo 21 para UTI adulto e 25 para leitos clínicos. Outros 18 foram aceitos, mas aguardam no sistema de regulação de emergência uma vaga. 

Medidas restritivas visam diminuir números Com as restrições, que continuam até 15 de março em Salvador, a expectativa é que esse cenário melhore na próxima semana, mas é difícil fazer previsões. “Fazer expectativa se vai melhorar ou pior é difícil, mas as medidas estão sendo tomadas no sentido de haver uma redução, porque com menos gente circulando, mesmo pessoas vão poder estar sendo infectadas e a gente espera que com menos gravidade”, conforta a diretora. 

A decisão de quem entra e quem saí do leito de UTI não é fácil. “É uma tensão o tempo todo, porque são números entrando, com a classificação do risco, e a gente tem que encaminhar os pacientes mais graves, de acordo com o protocolo técnico. Depende do perfil do paciente, das vagas que têm disponíveis e em qual local, porque tem pacientes de maior complexidade que precisa de uma unidade de maior complexidade, mas nem todas as unidades podem oferecer isso. É uma corrida contra o tempo e um quebra-cabeça, porque depende da demanda e do que você tem de oferta, que o médico avalia caso a caso, dia-a-dia”, desabafa a diretora. 

Até encontrar a vaga correta, Daniela Alcântara garante que as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) conseguem dar conta do recado, dando o suporte necessário ao paciente até que seja regulado. Em algumas delas, como a dos Barris e de Valéria, equipes de fisioterapia atuam como reforço para os pacientes que necessitam de ventilação mecânica. Essa articulação da disponibilidade de leitos é feito em conjunto com o governo estadual, através do Sistema Único de Saúde (SUS).  

Dias recordes de internamentos em Salvador (fonte: SMS) 2020: 04/07/2020 - 503 internados (Salvador tinha 596 leitos, ocupação estava em 84%) 07/07/2020 - 502 internados (Salvador tinha 611 leitos, ocupação estava em 82%) 29/07/2020 - 501 internados (Salvador tinha 687 leitos, ocupação estava em 72%) 01/08/2020 - 503 internados (Salvador tinha 687 leitos, ocupação estava em 73%) 02/08/2020 - 516 internados (Salvador tinha 692 leitos, ocupação estava em 74%)2021: 24/02/2021 - 502 internados (Salvador tinha 599 leitos, ocupação estava em 83%) 25/02/2021 - 502 internados (Salvador tinha 599 leitos, ocupação estava em 83%) 28/02/2021 - 511 internados (Salvador tinha 599 leitos, ocupação estava em 85%) 02/03/2021 - 512 internados (Salvador tinha 599 leitos, ocupação estava em 85%) 03/03/2021 - 508 internados (Salvador tinha 599 leitos, ocupação estava em 84%) 04/03/2021 - 513 internados (Salvador tinha 609 leitos, ocupação estava em 84%) 05/03/2021 - 519 internados (Salvador tinha 609 leitos, ocupação estava em 85%) 06/03/2021 - 527 internados (Salvador tinha 629 leitos, ocupação estava em 83%) 07/03/2021 - 533 internados (Salvador tinha 639 leitos, ocupação estava em 83%)

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro