Salve o 2 de Julho!

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2020 às 13:00

- Atualizado há um ano

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Eu sempre considerei que 2 de Julho deveria ser a data de comemoração de Independência de Brasil. Até porque, pelo que sei, em qualquer nação que passa por estes processos, a consolidação só se dá quando da capitulação e reconhecimento da derrota militar ou, até mesmo, um o fechamento de um acordo pacífico com a nação outrora dominante. Para mim e muitos, o 7 de setembro representa apenas um ato simbólico, perpetrado pelo então Príncipe Regente D. Pedro I, para o início de um processo que só seria finalizado meses depois na nossa Bahia, com a retirada das tropas portuguesas.

Mas, deixando de lado o meu discurso histórico, carregado por sentimento bairrista, ou melhor, patriótico, tenho no 2 de Julho uma ligação especial: o "meu 2 de Julho” me remete às minhas sensações pessoais de adolescente dos anos 60, quando na comemoração dessa importante data, o pensamento me leva em participar ao belo desfile das escolas secundárias, com suas bandas caprichadas no colorido dos uniformes, numa certa competição desde a evolução cromática, como a sonora, notadamente, além dos metais, a percussiva malabarista, dos instrumentos de tambor: bumbos, caixas e surdos.

No meu caso, estudei de 1962 a 1966, no Colégio da Polícia Militar e a nossa competição só se dava com o “rival” Colégio Militar do Salvador (o do Exército). Ambos, na época, só masculinos. Assim, como militares, o que mais importava era o respeito à cadência, o alinhamento perfeito, o passo certo e a elegância com que cada um vestia garbosamente e exibia a sua impecável farda de gala.

Interessante é que nem todos os alunos participavam, pois havia limitação do contingente. Então, o nosso comando definia a convocação das turmas, usando seus critérios. Os alunos torciam para serem convocados, principalmente os calouros, que sofriam um falso menosprezo dos veteranos, quando demonstravam esse sentimento, embora os mais velhos, na sua grande maioria, quisesse desfilar. Mas, como se diz hoje, “se achavam”, e diziam (só da boca para fora) que queriam ser dispensados para aproveitar o feriado. 

O meu sentimento de orgulho era maravilhoso, quando estava dentro dos desfilantes. Festejava por estar entre os convocados. A emoção quando calouro, ainda maior. Mesmo nos anos posteriores, sempre torci para chegar a data e poder desfilar. Me lembro que, da primeira vez, minha mãe preparou impecavelmente a minha farda de gala, Eu achei tão bonita, e como não havia selfie naquela época e fotografia colorida era difícil de obter, estendi a farda na cama fazendo um “boneco”, incluindo o quepe (aquele chapéu de guarda antigo) e os sapatos tipo verniz. Minha falecida mãe sempre lembrava disto,

A preparação da farda era uma “obra de arte”. Principalmente, a túnica branca - espécie de casaco -, vestida sobre uma camisa, onde se montavam os botões de metal dourado, que se guardavam em separado, pois não podiam ir para a lavagem. Depois, se montavam as platinas (ombreiras externas separadas), punhos e a gola que, bem fechada, como devia ser, deixava o pescoço apertado e o calor no desfile maltratava pra valer. Os demais componentes do vestuário eram também tratados com carinho: a calça impecavelmente passada, com os vincos perfeitos. Tinha até uma cobertura de tecido para proteger os sapatos de verniz rigorosamente engraxados até espelhar, chamada de “polaina”. Os militares sabem o que digo. 

Chegava o 2 de Julho, o nosso dia do desfile. Saíamos do Quartel da Polícia nos Dendezeiros para ir à nossa concentração na Vitória, transportados com emoção, no famoso “Caminhão Choque”. Era uma carroceria em formato de arquibancada com uns quatro degraus (acho), de cada lado. A gente sentava segurando num corrimão que ficava atrás de nossas cabeças, sem qualquer cinto de segurança e ainda torcíamos para ir com um tal motorista de “pé pesado” (não me lembro o nome dele), para elevar ainda mais nossa adrenalina. Com tudo isso, nunca vi falar de qualquer acidente.

Chegando na Vitória a expectativa, então, era receber o lanche. Pão com queijo e um refrigerante, que eu saboreava como fosse um banquete. Depois era só esperar o primeiro toque de comando da corneta, que disparava, a primeira batida do bumbo da banda, e batendo os pés no chão, seguíamos a marcha pela Avenida Sete de Setembro.  

As belas marchas tocadas pela banda da Polícia Militar nos ajudavam na cadência exigida e ainda são muito vivas na minha memória. O desfile era glorioso para mim. Ouvir as palmas da plateia - no caso, a claque era o povão distribuído nas calçadas da avenida. Gritos de elogio, que enchiam nosso peito de orgulho e o ego ia lá pra cima, sem poder retribuir, com um sorriso, nem tampouco virar o rosto, pois o 'garbo' da marcha tinha que ser mantido. Alguns familiares meus que iam assistir me diziam onde iam ficar e quando gritavam meu nome, eu queria seguir as regras, mas confesso que, sorrateiramente, deixava escapar um sorrisinho, que expressava um pouco da minha felicidade.

É o que prazerosamente lembro, como momentos de comemoração da NOSSA REAL INDEPENDÊNCIA.

SALVE O 2 DE JULHO!   

A DATA MAGNA DO BRASIL!*José Antônio França Marques é engenheiro aposentado e ex-aluno do Colégio da Polícia Militar da Bahia.