Santa Irmã Dulce do mundo

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  • Nelson Cadena

Publicado em 4 de outubro de 2019 às 05:00

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Elas têm algo em comum. Santa Irmã Dulce dos Pobres; Santa Teresa de Jesus dos Andes; Santa Narcisa de Jesus Martillo y Moran; Santa Madre Maria Guadalupe García Zavala; Santa Mariana de Jesus Paredes Y Flores; e Santa Rosa de Lima. Todas são mulheres nascidas na América Latina, as únicas santas nativas do continente. Apenas a Irmã Dulce, Teresa de Jesus e Maria Guadalupe viveram no século XX; Teresa de Jesus, especificamente no primeiro vinténio, nem chegou a testemunhar as transformações pós-guerra e a sua visão de mundo foi somente a visão do claustro; não conheceu o rádio e a televisão e seguramente que na sua reclusão não teve acesso aos jornais e revistas, as plataformas de mídia de seu tempo.

Se o natalício das religiosas citadas é comum sob o aspecto geográfico, a obra que justificou a sua indicação junto à Igreja Católica para os processos que precederam a canonização é bem peculiar, influenciada pela mentalidade do século que viveram e nesse sentido Irmã Dulce foi quem efetivamente pode ser chamada de uma santa mundana, esse o seu grande mérito. Não chegou à condição de santa através do misticismo, da contemplação, da mortificação, das leituras religiosas, e sim na lide diária com doentes miseráveis, andrajosos, moradores de rua, praticando a caridade durante mais de meio século; sacrificando a sua precária saúde em prol do próximo, lidando todos os dias com a falta de recursos e no início de sua obra com a incompreensão do governo e da igreja.

Santa Teresa de Jesus, a santa chilena, viveu apenas 20 anos (1900-1920), dedicou a sua juventude ao estudo de livros sagrados, à oração e à meditação; foi uma jovem sem pecado, entregue à vida espiritual, na sua biografia há citações sobre fenômenos místicos. Nos processos de beatificação e canonização, três dos principais confessores de Teresa de Jesus dos Andes sustentaram sob juramento que ela jamais cometera pecado mortal nem venial deliberado.

Santa Rosa de Lima, padroeira do Peru e primeira santa das Américas, viveu no século XVI, servindo à ordem dominicana, canonizada em 1671 pelo Papa Clemente X. Rosa foi uma moça admirada pela sua beleza, de família rica e virtuosa na música. Rejeitou todos os pretendentes ricos de Lima e de outras cidades para seguir a vida monástica e praticar a caridade no convento, assistindo índios e negros doentes que a procuravam.

Em Quito, Santa Narcisa de Jesus dedicou-se ao apostolado com crianças e assistindo jovens abandonadas e refugiadas na Casa de Acolhimento. A sua santidade foi fruto de uma vida de clausura, jejum, mortificação e oração. Testemunhas relataram que entrava em estado de êxtase. Punia seu corpo com coroas de espinhos e contínuo jejum. Já Santa Madre Maria Guadalupe, religiosa mexicana, viveu longos 85 anos e construiu uma grande obra: deixou como legado 22 Fundações das Servas de Santa Margarida Maria em sete países.

Santa Mariana de Jesus, equatoriana, teve uma vida contemplativa e de reclusão na sua própria casa, no século XVII; viveu apenas 27 anos, praticando diariamente a oração, o jejum e a penitência. Fez fama pela sua vida reclusa, a conversão de pecadores e sobretudo por ter intercedido em suas orações, junto ao Senhor, pelo fim de uma terrível epidemia que assolou a capital equatoriana. A suas preces foi atribuído, na época, o fim do flagelo.

Sem nenhum demérito para as santas que legaram aos seus um exemplo de vida sem mácula e sem pecado, de oração, contemplação, leituras sagradas, momentos de êxtase e penitência, há uma diferença perceptível entre a santidade em clausura e a santidade das ruas, em pleno século XX, com suas mazelas e incompreensões. Irmã Dulce foi uma santa na rotina mundana de assistir os doentes, com muito amor, de seu jeito. Não por acaso a pedra fundamental da obra do anjo da Bahia e seu legado (Osid) foi um galinheiro.

* Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às sextas-feiras