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Dom Sergio da Rocha
Publicado em 21 de setembro de 2020 às 11:00
- Atualizado há 2 anos
Os casos de depressão, ansiedade e estresse têm aumentado muito neste período da pandemia, segundo dados divulgados e situações vividas por pessoas que conhecemos.>
O isolamento social, a crise econômica, o desemprego, a morte de familiares e amigos, as incertezas e o medo repercutem na vida das pessoas, afetando a saúde mental.>
Certamente, havia dados preocupantes no Brasil, antes da pandemia. Transtornos mentais existentes antes dela podem ter se agravado, especialmente, se foram interrompidos os tratamentos. As consequências da pandemia para a saúde mental poderão continuar além dela. Por isso, o assunto deve ser considerado com especial atenção.>
Para o enfrentamento do problema, é muito importante a ajuda especializada no campo da saúde mental. É preciso superar o preconceito e buscar o tratamento adequado para doenças mentais, como ocorre em outras enfermidades que necessitam de auxílio médico. Além dos conhecidos meios, como medicamentos e psicoterapia, estão em andamento diversas iniciativas como grupos de apoio, cartilhas para a saúde mental, atendimento online e orientação para os familiares. Conforme o sábio alerta dos especialistas, os tratamentos não devem ser interrompidos, especialmente, durante este período desafiador da pandemia.>
Dentre os diversos fatores importantes de proteção da saúde mental estão o sentido dado à própria existência, a redescoberta do valor e da alegria de viver, e as atividades religiosas. No campo da espiritualidade têm sido revalorizados, hoje, a meditação, o silêncio e a oração, assim como a participação numa comunidade fraterna e acolhedora.>
Não bastam os esforços pessoais. O cuidado de si necessita do outro, a partir dos círculos mais próximos de relacionamentos, como a família. A experiência de ser amado é fundamental na superação de doenças mentais.>
O amor que se expressa no cuidado de quem sofre contribui para a cura. Não podemos cansar de amar quem passa por momentos de angústia e depressão e necessita de maior atenção fraterna e de cuidados. Amigos, familiares e profissionais de saúde compartilham a tarefa bela e exigente de cuidar. >
Contudo, os problemas não se restringem ao interior das casas ou ambientes de trabalho. Merecem especial atenção os que sofrem distúrbios mentais abandonados nas ruas, o que estão nas prisões e em situação de extrema pobreza. As doenças mentais não implicam em menor dignidade humana ou menos direito à assistência médica.>
O “Setembro Amarelo”, realizado no Brasil, desde 2014, quer contribuir para a prevenção do suicídio, muitas vezes, associado a transtornos mentais. Essa triste realidade não pode ser ignorada; exige medidas efetivas para a sua prevenção, em vários níveis, especialmente no âmbito da saúde pública. É tempo de olhar com mais atenção e de cuidar da vida fragilizada pelas doenças mentais.>
* Dom Sergio da Rocha é Cardeal Arcebispo de Salvador>