Secretaria de Saúde de Feira confirma falta da vacina contra poliomielite

CORREIO mostrou que outra vacina, a BCG, deixou de ser aplicada há mais de uma semana

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  • Marcela Vilar

Publicado em 4 de junho de 2021 às 16:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A cidade de Feira de Santana, a 100 quilômetros de Salvador, passa por um período de desabastecimento de algumas vacinas. Além da BCG, que deixou de ser aplicada há mais de uma semana, como mostrou o CORREIO, a secretaria de saúde do município confirmou, nesta sexta-feira (4), que a VOP, vacina contra a poliomielite, está em falta.  

No caso da BCG, há estoque da vacina, mas o problema é com as seringas, que não vieram em mesma quantidade, segundo o secretário municipal de saúde, Marcelo Britto. Os insumos são os mesmos da vacina Pzifer, contra a covid-19, e, pela alta demanda com o combate ao novo coronavírus, a vacina das crianças e recém-nascidos ficou em segundo plano.  

Nesta quinta-feira (3), a secretaria municipal de Saúde tinha negado que havia problemas com outras vacinas. Contudo, a operadora de telemarketing Willyane Oliveira, 32, disse que não conseguiu vacinar o filho Kalebe, de 1 ano e 4 meses, contra outras três doenças. Ele não recebeu as vacinas Tetra Viral, DTP e VOP, contra a poliomielite. 

“No dia 11 de maio fui ao posto, porque tinha a vacina da gripe para ser aplicada, mas só aplicaram duas, a de Influenza e Hepatite A. Ela [a vacinadora] optou por aplicar a da gripe por causa da campanha e disse que não ia aplicar tudo de vez para não ter reação, que era para eu voltar com quinze dias. Voltei no dia 26 de maio e não tinha seringa. Não deram nem prazo sobre quando ia chegar e meu filho até hoje não tomou”, conta a mãe. 

Já nesta sexta-feira (4), a secretaria voltou atrás e disse que há problema com a VOP, mas negou qualquer irregularidade com os outros imunizantes.

“Em relação a queixa de que a vacina Tetra viral, VOP, DTP, além da BCG não está sendo aplicada, a SMS esclarece que a Tretraviral não é enviada a nenhum município, como substituição é enviada a tríplice + varicela. Em relação a DTP não há problema e sobre a VOP o município recebeu poucas doses pois está em desabastecimento”, informa a secretaria, por meio de nota.  

Segundo a pasta, todas as vacinas são enviadas pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). A Sesab disse que as vacinas são encaminhadas pelo Ministério da Saúde, mas, em menor quantidade. "As remessas tem sido encaminhadas todos os meses. O pedido da Secretaria da Saúde do Estado ao MS é de 4 ampolas (cada ampola tem 25 doses) por sala de vacina, no entanto, a Bahia tem recebido uma média de 2 ampolas por sala de vacina", comunica a pasta, em nota. 

Relembre o caso  A vacina BCG, indicada para todas as crianças no primeiro mês de vida, deixou de ser aplicada em Feira de Santana há mais de uma semana. O motivo, segundo o secretário municipal de Saúde da cidade, Marcelo Britto, é a falta de seringas. Em meio ao aumento da demanda por agulhas mais finas, a mesma usada na vacina da Pzifer contra a covid-19, a imunização dos recém-nascidos está comprometida. 

“Muito parecida com a vacina da Pzifer, a BCG tem quantidade muito pequena de dosagem, de metade de um mililitro, e não se pode correr o risco de aplicar a mais, senão a criança pode ter problema por causa da utilização indevida. Por isso que a gente precisa usar seringa especial, que era entregue junto com a vacina pelo Núcleo Regional de Feira de Santana e pela Sesab [Secretaria da Saúde do Estado da Bahia], que nos avisou que também estava com dificuldade”, explicou o secretário.   

Segundo ele, a prefeitura de Feira e a Sesab tentam comprar o insumo na Bahia, em outros estados e com empresas no exterior: “A culpa não é da Sesab, porque também está com dificuldade de entrega, não acha para comprar. Quem achar primeiro, ajuda o outro. Com a vinda dessa vacina da Pzifer, todo mundo comprou as seringas para utilizar”.   

Nem o secretário ou a Secretaria de Saúde do munícipio souberam dizer em que data a vacina deixou de ser aplicada nos bebês feirenses. Marcelo Britto acrescentou ainda que não há problema em adiar a vacinação, apesar de não saber os riscos para a criança com o adiamento. O titular da pasta também não soube dizer quantos recém-nascidos deixaram de ser vacinados.   

“Fica o alerta para os pais dessas crianças que não têm risco, não estamos enfrentando nenhuma pandemia, endemia, nenhuma crise ou surto controlado pela BCG, portanto, não há problema em adiarmos um pouco vacinação. É melhor usar com a Pzifer, porque o coronavírus está matando rapidamente. Assim que tivermos as seringas compradas, vamos disponibilizar e as pessoas podem regularizar essa vacinação”, alega Britto.   

Responsabilidade do Ministério da Saúde  A Sesab alega que a responsabilidade de enviar as agulhas e seringas é do Ministério da Saúde (MS) e que o problema não ocorre em outras cidades baianas.  “O Ministério da Saúde é o responsável pela aquisição de vacinas e seus respectivos insumos. Apesar do ministério não realizar entregas desde agosto de 2020, em virtude da falta do insumo na Índia, local de fabricação da seringa de 0,05ml, não havia qualquer desabastecimento nos municípios. Com a entrega do insumo ontem (anteontem), amanhã (hoje) será realizada a distribuição das seringas”, respondeu o órgão, em nota.   

Já o Ministério da Saúde comunicou que já distribuiu quase 60 milhões de seringas e agulhas para os estados, até o momento, e que a entrega é realizada de forma gradativa, à medida que são disponibilizados pelos fornecedores.   

A pasta também alegou que “o fornecimento de seringas e agulhas é responsabilidade das secretarias estaduais e municipais de Saúde” e que a compra “pode ser feita de forma independente da aquisição do Ministério”. 

Vacina deve ser aplicada em até 30 dias   A médica pediatra Célia Silvany explica que a BCG protege contra as formas graves de tuberculose e deve ser aplicada em até 30 dias do nascimento da criança. “A vacina protege contra a neurotuberculose e deve ser dada ao nascer, em dose única. Não há necessidade de repetir e, quanto mais cedo ela for dada, melhor. Pode ser dada até na maternidade”, diz.   

Célia ressalta que o ideal é o mais cedo possível, ainda no primeiro mês de vida. “Quanto mais cedo melhor porque o índice de mortalidade é maior nas crianças pequenas. Pode até ultrapassar o primeiro mês, mas, quando chega a uma determinada idade, entre quatro e seis anos, a BCG não assegura a proteção”, orienta.   

A pediatra enfatiza que a BCG não protege de todas as formas da infecção. “Ela não protege contra a tuberculose em outras apresentações, como pneumonia e tuberculose extrapulmonar. Além disso, existe associação entre a BCG e a proteção da lepra, que acomete muito o Nordeste. O bebê vacinado com a BCG tem uma proteção parcial contra essa doença”, pontua.  

*Sob orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo