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Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 19:19
- Atualizado há 2 anos
O segurança que filmou a estudante Aila Brito, de 20 anos, enquanto ela usava um dos banheiros da estação de metrô Bom Juá, em Salvador, foi demitido por justa causa nesta terça-feira (18). O caso aconteceu na noite de segunda-feira (17), quando a jovem voltava da faculdade para casa. O suspeito chegou a confessar o crime para a vítima e pediu que ela não fizesse uma denúncia. >
Em nota, a CCR Metrô Bahia, que administra o sistema de metrô na capital baiana, pediu desculpas à estudante e informou que o segurança não representa os valores da empresa, o que motivou o seu desligamento.>
A concessionária informou ainda que mantém o contato com a estudante e está oferecendo assistência psicológica. "Através de parceria firmada com a Secretaria de Políticas para as Mulheres, em 2021, a concessionária já treinou mais de 250 colaboradores da área de atendimento no combate ao assédio moral e sexual", diz o texto. >
Após a denúncia de Aila Brito, outras mulheres que utilizam o metrô relataram ao CORREIO situações similares, que demostram a sensação de insegurança dentro do transporte. Por conta disso, a CCR Metrô Bahia iniciará, a partir de 25 de outubro, uma nova campanha de combate ao assédio dentro do Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas com a divulgação do canal para denúncia em casos de assédio. Veja abaixo a nota completa da empresa.>
Relembre o caso A estudante Aila Brito foi filmada dentro de um dos banheiros na estação do metrô Bom Juá por um dos seguranças da CCR Metrô. A vítima compartilhou a situação nas redes sociais. Aila contou à TV Bahia que estava usando o banheiro e que teve a sensação de que estava sendo observada. Ao se virar para trás, ela quando viu, em uma janela, um celular preto na mão de alguém. Assustada, ela pediu ajuda ao pai que a esperava para ir para casa. Eles fizeram barulho para chamar atenção dos seguranças. Ela contou que não imaginava que o crime tinha sido cometido por um deles.>
Sem ser atendida, ela foi tentar descobrir onde a janela estava e percebeu que ela dá acesso a um banheiro masculino que estaria desativado. Desse lugar, é possível ver o banheiro feminino, onde Aila estava.>
Aila e o pai foram até a administração para pedir as imagens das câmeras de monitoramento e, segundo eles, um dos seguranças confessou que fez o vídeo. "Foi muito chocante, está sendo muito chocante pra gente. Ele mostrou o vídeo que fez, mostrou que filmou a calcinha dela", disse João, em entrevista à TV Bahia.>
João contou ainda que os seguranças pediram que a estudante apagasse as imagens que tinha feito. "Ele pediu desculpas, disse que é pai de família, que trabalha no metrô há 8 anos. Disse que nunca tinha feito aquilo, que foi a primeira vez. Mas nada disso justifica", afirmou João.>
Após o susto, eles chamaram a polícia. Em nota, a Polícia Civil contou que um homem de 28 anos foi conduzido para a Central de Flagrantes, na noite de segunda-feira (17), por uma equipe da 23ª CIPM, depois de filmar uma mulher, de 20, enquanto ela usava o banheiro da estação de metrô.>
Eles foram ouvidos na unidade policial e foi lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) foi lavrado contra o segurança. Ele vai responder pelo Artigo 216-B do Código Penal Brasileiro, que trata sobre produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes.>
Aila relatou ao CORREIO que, durante o depoimento, não ocorreu conversa entre ela e o segurança, mas antes, ainda na estação, o funcionário alegou que iria apagar a filmagem e que era para ela esquecer a situação, porque ele "tinha muito tempo de casa [trabalho na empresa]". De acordo com a vítima, ela viu o segurança apagando o vídeo na sua frente, dizendo estar arrependido.>
"Hoje eles [CCR Metrô] me ligaram, pediram desculpas pela situação. O colaborador foi afastado e estão investigando para tomar as medidas cabíveis. Não pretendo usar nunca mais [o banheiro do metrô]", disse, antes de saber da demissão.>
Outros casos A situação da jovem Aila não foi o único caso de assédio que já aconteceu em uma estação de metrô de Salvador. Relatos de casos similares mostram uma sensação de insegurança para mulheres que precisam usar o sistema de transporte. >
Além da universitária, outras mulheres também já foram vítimas nas estações que cortam a capital baiana. Era horário de pico, quando Ludmila Bazílio, na época com 24 anos, tomou um susto ao receber um tapa nas partes íntimas enquanto subia as escadas do Acesso Norte. Segundo ela, o homem, que aparentava ser idoso, alegou que outras pessoas estavam passando rapidamente e 'levaram a mão dele', causando o tapa. "Só que aí depois um rapaz e uma senhora falaram: 'ele bateu de propósito porque ele veio ensaiando o caminho inteiro atrás de você'", relembra. >
A situação foi impactante, mas Ludmila não abaixou a cabeça. No final da escada, ela gritou para tentar intimidar o assediador. "Quando ele chegou lá em cima eu comecei a gritar: 'você gosta de bater na bunda dos outros, né? Eu espero que você não repita isso nunca mais'. Chamei a atenção de todo mundo do metrô", conta. "Me senti um lixo, invadida, desrespeitada. Só que o medo disso acontecer com outras pessoas que não poderiam se defender, desta vez falou mais alto", completa.>
Se para Ludmilla o tapa foi constrangedor, a perseguição que Mariana Oliveira, 23, sofreu com a amiga, virou caso de preocupação extrema. Ela voltava da praia e pegou o metrô na Estação da Lapa, em direção ao Imbuí. Dentro do vagão, as duas perceberam que um homem estava encarando-as constantemente, chegando a incomodar. Com medo até de ser um assalto, Mariana desceu na Estação Bonocô com a amiga, mas o assediador teve a mesma atitude. "Quando estávamos chegando na estação Acesso Norte, ele começou a se esfregar. Reclamei, e ele usou a desculpa de que era porque o vagão estava cheio e aquela parte dos trilhos balançava mesmo", comenta.Depois de descer em outra estação, ela saiu em direção ao segurança que estava no local para explicar a perseguição e o assédio. O funcionário alegou que as duas não poderiam acusar uma pessoa inocente se não tivessem a certeza "para não comprometer a empresa". A perseguição só acabou quando Mariana ligou para o primo buscá-la na Estação Imbuí. "O rapaz ficou encostado esperando que eu saísse, os seguranças viram e não fizeram nada. Quando o rapaz viu que eu iria ser acompanhada, deu meia volta, entrou novamente no metrô". >
Nas passarelas que são caminhos para a entrada da estação, mulheres também sofrem com o descaso da falta de segurança e acolhimento. Além do medo de assalto, Myla Katia, 32, também precisou correr de jovens que, segundo ela, têm o hábito de cometer assédios. >
"Voltando do trabalho, um menor infrator passou a mão na minha bunda. Busquei ajuda, mas só fui informada que eles [seguranças do metrô] não poderiam fazer nada. Pegaram o meu nome só para registrar o ocorrido", relatou a consultora ótica. Ela relatou a situação em uma publicação no Instagram.>
Além desses casos, há também relatos de que homens se masturbam dentro dos vagões e que não são pegos. Essa situação foi observada por uma mulher que preferiu não ser identificada por medo. Ela, que tem 45 anos, é cuidadora de idosos e mãe de uma jovem de 15, estava neste dia indo ao shopping com a vizinha, quando viu um homem se tocando. >
"Foi uma cena de terror, porque ele não conseguiu se segurar e acabou soltando tudo lá dentro do vagão vazio, como se as mulheres tivessem que ver aquela nojeira. Me senti invadida, mas eu não pude fazer nada porque ele tinha cara de que tinha problemas psicológicos, poderia me seguir", relatou. >
Leia a resposta da CCR Metrô Bahia na íntegra:>
A CCR Metrô Bahia pede desculpas à Aila Brito e toda a sociedade pelo triste ocorrido na noite desta segunda-feira, 17 de outubro. A atitude deste colaborador não representa os valores da empresa, o que motivou o seu desligamento por justa causa. A concessionária continua em contato com a cliente, oferecendo toda a assistência psicológica e solidariedade para seu pronto restabelecimento.>
Como empresa comprometida com a equidade e diversidade, a CCR Metrô Bahia possui uma consistente trajetória de capacitações e conscientização para seus colaboradores. Através de parceria firmada com a SPM – Secretaria de Políticas para as Mulheres, em 2021, a concessionária já treinou mais de 250 colaboradores da área de atendimento no combate ao assédio moral e sexual. A partir de 25 de outubro, será iniciada uma nova campanha de combate ao assédio dentro do Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas com a divulgação do canal para denúncia em casos de assédio.>
A empresa continuará trabalhando incessantemente no eixo diversidade, inclusão e cultura de compliance, investindo em programa contínuo de capacitação e treinamentos para seus colaboradores e sociedade.>