Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Nelson Cadena
Publicado em 25 de junho de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Em 2 de julho de 1824, os baianos assistiram, ou participaram, do desfile de 2 de julho. Comemorávamos o primeiro ano da Independência da Bahia com um script oficial, a população convidada apenas para observar e aplaudir. Alguns anos se passariam antes de o povo ser protagonista, também. De lá para cá, o desfile do 2 de julho sempre ocorreu. Nenhum evento (guerras, epidemias, conflitos internos) impediu a sua realização. Este ano, excepcionalmente, em função da pandemia, não teremos as comemorações de praxe. Ninguém poderia imaginar que isso viesse ocorrer algum dia.
A sabinada foi o primeiro evento que alterou a rotina da cidade, após a Independência. O levante armado liderado por Sabino Viera trouxe a inquietação de uma guerra civil e, nessa perspectiva, grande parte da população se transferiu para o recôncavo, assim como o governo legalista deposto. Foi um movimento transitório, iniciado em novembro de 1837 e concluído em março de 1838 com a derrota e prisão de Sabino e outros amotinados. A lembrança desses acontecimentos fez com que o já tradicional desfile do 2 de julho fosse menos imponente e concorrido em 1838 e 1839, porém, não deixou de ser realizado.
As epidemias da década de 1850, também, não impediram a realização do desfile. O auge da febre amarela e do cólera morbus, e o consequente distanciamento social, ocorreu entre a primavera e o verão. A de febre amarela teve início em setembro de 1849, quando os primeiros casos foram notificados; no fim do verão de 1850, a doença já estava sob controle. Outros casos apareceram, esporádicos, e continuaram a aparecer por décadas, não epidêmicos. A de Colera Morbus foi notificada a partir de 21 de julho, três semanas após o desfile da Independência da Bahia; em novembro, já tinha diminuído de intensidade e, em abril de 1856, as autoridades atestaram que estava sob controle.
A Guerra de Canudos (1896-97) e a I Guerra Mundial (1914-18) não alteraram a rotina de Salvador, a não ser no impacto econômico que pode ter influenciado o desfile - colocar na rua os batalhões patrióticos demandava altos custos - mas não impediu a sua realização. A pandemia da gripe espanhola (1918) e, no mesmo ano, a anunciada invasão Sertaneja, na prática um fake da imprensa situacionista, não afetaram o cortejo. A gripe espanhola na Bahia teve o pico da doença - identificado em setembro - entre meados de outubro e inícios de novembro. Em dezembro, já era águas passadas.
Antes disso, tivemos o bombardeio da Bahia, em janeiro de 1912, episódio restrito a esse período cronológico. E, após, a revolução de 1930 cujas escaramuças, dos grupos de resistência e de apoio, ocorreram entre outubro e novembro do ano referido. A II Guerra Mundial chegou mais perto de nós, após o bombardeio da costa da Bahia por submarinos alemães, em 1942, e o alistamento de pracinhas para reforçar o exército aliado, mas nada que quebrasse a tradição do desfile do 2 de julho.
Não tivemos nenhuma outra ocorrência marcante da década de 1950 para cá, nada que pudesse afetar a dinâmica da festa. O imprevisível da pandemia tirou do povo baiano este ano a chance de participar, ao lado de seus caboclos, da mais representativa festa cívica da Bahia e das mais relevantes entre nossas festas populares.
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras.