Sem público na rua: Festival Oferendas 2021 reverencia Iemanjá em formato digital

Apresentações serão transmitidas no Youtube do Lálá Casa de Arte; sem pandemia, festa era voltada para a rua do Rio Vermelho

  • D
  • Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2021 às 12:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/Redes Sociais

Em meio à multidão, o estudante Breno Fernandes, 19 anos, era um dos que viraram a noite no Rio Vermelho celebrando Iemanjá. O ano era 2020 e o bairro estava lotado. Agora, o coronavírus impede a festa na rua nos dias 1º e 2 de fevereiro. Para alinhar a celebração com a preservação da saúde, o Festival Oferendas 2021 será digital -  sai o palco no Lálá Casa de Arte, entram as apresentações virtuais.

O Festival Oferendas 2021 Digital acontece entre os dias 1º e 2 de fevereiro de 2021 e traz o conceito de Doc Live, um evento virtual com apresentações musicais, performances e experimentações audiovisuais.

Esta é a 10ª edição do evento, o que também pesou na decisão de criar um novo formato para a festa. O gestor do Lalá Casa de Arte, idealizador e curador do Festival Oferendas, Luiz Ricardo Dantas, caracteriza a mudança como um grande desafio, especialmente pelos festejos tradicionalmente ocorrerem dentro das celebrações de Iemanjá que tem forte apelo popular.

“O festival é uma festa popular, tem como característica ter a gente abrir a nossa janela e fazer a festa virada para a rua. Tivemos que pensar essa festa de forma digital. Conseguimos nos ajustar a essa nova realidade, como a gente se conecta com o que está ocorrendo e pode potencializar o momento. Buscamos sair desse lugar de nostalgia e saudade por algo que não pode ter e potencializar o que podemos fazer. Estamos felizes com o que conseguimos”, afirma Dantas.

A estimativa é que cerca de 20 mil pessoas curtiram a festa em frente ao Lálá em 2020. Apenas dentro da casa, foi registrado um fluxo de aproximadamente 600 pessoas entre os dias 1º e 2 de fevereiro do último ano.

Fechada, a casa do Lálá no Rio Vermelho vai ser o espaço de gravação dos shows ao vivo. As apresentações de Josyara com Iara Rennó, Metá Metá com Alessandra Leão e a performance Lucaia do Dj e artista Mozaum e a poeta Laura Castro já foram gravadas em São Paulo.

O Festival Oferendas 2021 Digital acontecerá apenas no ambiente virtual. Os artistas e a equipe de produção seguirão os protocolos recomendados pela OMS e Ministério da Saúde para combater a pandemia, com uso de máscaras, álcool em gel e distância mínima de 1,5 metros entre as pessoas. Todos serão testados antes dos shows.

Curadoria O gestor do Lalá explica que, desde que o projeto começou, as apresentações são uma oferenda artística para a Rainha do Mar. “É uma forma do Lálá pedir licença para se estabelecer no bairro e, com isso, dar um presente para Iemanjá. Desde 2012, os artistas ofertam suas apresentações na casa nesse dia”, afirma Dantas.

De acordo com o idealizador do projeto, a curadoria é feita pensando em conseguir uma conexão com o sagrado do dia de Iemanjá. Dantas ressalta que não é tempo de festa, mas é preciso comemorar por estar vivo.

“No campo simbólico, Iemanjá é a entidade que é mãe de todos. Nesse momento, precisamos muito dessa mãe, do acolhimento. Por isso, pretendemos ser o portal para as pessoas se conectarem com o seu sagrado e a fé. Indicamos que as pessoas se produzam para ficar em casa como fariam para vir ao Rio Vermelho e pedimos que elas não venham para o bairro”, pontua o curador do festival.

Como nos anos anteriores, o Oferendas traz o melhor da música de vanguarda local e nacional, sempre promovendo encontros especiais. Dentro das apresentações deste ano, Hiran fará uma homenagem afrofuturista para Iemanjá, junto com Nêssa e Yan Cloud; Márcia Castro traz “Louvação”, uma apresentação com muita baianidade e fé junto com Margareth Menezes; e Zé Manoel traz um pocket show cantando algumas canções de seus últimos álbuns, com participação do músico baiano Ícaro Sá e da cantora Luedji Luna. (confira a programação completa no fim do texto)

A transmissão será ao vivo no canal do Lála Casa de Arte, em 1º de fevereiro, a partir das 18h, e no dia 2 a partir das 15h. O Festival é uma realização Lálá Casa de Arte com produção da Maré Produções Culturais e direção audiovisual da Movida Conteúdo.

Uma das atrações do festival, a artista, cantora e diretora, Nara Couto, acredita que o evento vai ativar a essência de Iemanjá em cada um: “Iemanjá é uma grande mãe e amiga. Ela é uma das divindades da água e está dentro de nós. Se ficarmos em casa respeitando os outros e os mais velhos, estamos respeitando, louvando e trazendo amor para essa divindade”.

Show Brilho o Mar A cantora vai apresentar o show Brilho do Mar, no qual ela é acompanhada por um piano e percussão. Para Nara Couto, a apresentação consegue transmitir uma mensagem de amor por meio da arte em um repertório com músicas populares e que integram a memória afetiva do público.

“Sou filha de iemanjá e, para mim, essa é uma época onde estou compartilhando amor acima de tudo. O repertório possui músicas que louvam e elevam para que possamos cantar para Iemanjá e Oxum. Acho que o piano e a percussão trazem um sentimento que ajuda nesse processo de louvar a ancestralidade, por isso, sempre trago essa formação nessas ocasiões”, explica a artista.

Apesar de entender que esse é o momento de ficar em casa, a cantora confessa que vai sentir falta da aglomeração que se formou no Lálá em 2020. O acalento fica por parte da expectativa de que será possível retomar o show na rua em 2022. Segundo Dantas, o festival deve ter formato híbrido - digital e presencial - em 2022 pela preocupação antiga com os impactos do tamanho que a festa tomou para o bairro e as celebrações religiosas. Nara Couto vai apresentar o show Brilho do Mar no Festival Oferendas 2021 Digital (Foto: Reprodução/Redes Sociais) "Me apresentei no Lálá pela primeira vez no ano passado e foi muito emocionante. As pessoas pararam para escutar canções de louvação e músicas populares perto do final da noite. Fica um sentimento de poxa que pena que isso não vai ocorrer esse ano, mas temos que cuidar da gente e dos nossos”, comenta Nara Couto.

Adorador do dia de Iemanjá, Breno também vai sentir falta de ficar indo de festa em festa na madrugada do 2 de fevereiro. Em 2020, o Oferendas foi um dos eventos que ele mais gostou. Nesse ano, o estudante deve curtir o som do festival dentro de casa.

“Gostei muito da programação deste ano. Estou animado por Josyara e Metá Metá. Na verdade, amei todos, mas vou sentir falta da presença das pessoas”, diz Breno.

Vista como uma salvação em momentos difíceis da pandemia, a arte é celebrada no festival. Nara Couto acredita que as atividades artísticas têm um papel fundamental na cura mental e, por isso, são um apoio durante a crise sanitária.

“Na pandemia, precisamos cuidar da nossa saúde mental e a arte tem um papel fundamental nisso. Fico feliz por saber que a arte contribuiu tanto e por vários meios”, diz a cantora.

Doc Live O festival será em formato Doc Live, criado por Dayse Porto, do Movida Conteúdo, que traz um híbrido de shows ao vivo, performances e minidocs. A ideia é contar a história dos 10 anos do Oferendas e a relação do festival com a Festa de Iemanjá. Os minidocs são registros audiovisuais contendo as imagens de arquivos das outras edições do Festival e os depoimentos dos artistas que já participaram dessa celebração.

“Estamos contando a história do festival em uma edição histórica não só para o Oferendas, mas para a Festa de Iemanjá. Vamos ter essa transmissão ao vivo do que está acontecendo no Rio Vermelho e vamos registrar esse momento marcante da festa sem pessoas”, relata Dantas.

A edição ainda conta com o Balaio Virtual, uma ação integrada ao festival cujo intuito é conectar as redes de amigos e artistas locais, nacionais e internacionais do Lálá Casa de Arte. Para esta 10ª edição, a curadora está selecionando imagens e peças de audiovisual para compor a representação simbólica de um Balaio de Oferendas. As obras já começaram a ser postadas nas redes sociais do espaço (@lalacasadearte, no Instagram).

O balaio é uma criação da atriz e performer Paula Carneiro e, este ano, possui curadoria da artista visual e sonora Andrea May.  

O Festival tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.

“O setor cultural é um dos que mais sofreu com a pandemia. O afago sai agora, o festival movimenta quase uma centena entre artistas, produtores e equipe técnica. É muito bonito que o dinheiro público seja potencializado dessa forma”, ressalta Dantas.

Serviço:FESTIVAL OFERENDAS 2021 DIGITAL

Data: 01 e 02 de Fevereiro

Transmissão: https://www.youtube.com/user/lalamultiespaco

Apresentações

1º de fevereiro Início 18h Marcela Bellas Ação Artística Laura Castro e Mozaum  Metá Metá convida Alessandra Leão Josyara com Iara Rennó Márcia Castro convida Margareth Menezes DJ Riffs 2 de fevereiro Início 15hHiran convida Nêssa e Yan Cloud BNegão convida Alice Caymmi Nara Couto Zé Manoel convida Luedji Luna DJ Jeronimo DJ Tutu Dj Ubunto *Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lobo